Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Indústria, varejo e serviços no 4º trimestre de 2016

Ricardo Lacerda

O Brasil vive um momento inusitado no que diz respeito à confiança em relação às expectativas sobre o desempenho econômico. Enquanto os indicadores publicados do nível de atividade, referentes ainda ao ano de 2016, são todos muito negativos, as principais sondagens sobre perspectivas apontam em janeiro incrementos do índice de confiança, tanto em relação à situação atual e ainda mais em relação a situação futura, mesmo que os índices se mantenham bem abaixo de 100. Na metodologia da Fundação Getúlio Vargas, respostas acima de 100 pontos indicam otimismo e abaixo de 100, pessimismo.
Tal constatação vale para as expectativas dos consumidores, da indústria, dos serviços e até para o setor da construção civil, que está enfrentando um nível de devastação dos maiores de sua história. Aparentemente, apenas as atividades de comércio ainda não foram contaminadas nesse início de ano por uma alguma melhoria expressiva na confiança.  
Os índices setoriais de confiança, a partir de um patamar muito rebaixado, vêm se recuperando desde o início de 2016, quando ficou claro que o afastamento da presidente Dilma Rousseff era irreversível. Alguns desses índices titubearam no final do segundo semestre de 2016, quando a melhoria esperada no nível de atividade não se confirmou mas agora, nesse início de 2017, a maioria deles voltou a apresentar incremento robusto.
Disseminou-se em vários segmentos o sentimento de que com a aprovação da emenda con­­stitucional estabelecendo teto para o gasto público e com o início da tramitação no congresso nacional das reformas trabalhistas e previdenciárias a economia brasileira poderá finalmente entrar nos eixos e em algum momento do ano iniciaria um período de retomada, mesmo que muito moderada.  É verdade que os índices de confiança continuam a se situar bem abaixo de 100, mas os incrementos que apresentaram no mês de janeiro são dignos de destaque.
É até possível que os primeiros resultados mensais de 2017 relativos aos níveis setoriais de atividade surpreendam favoravelmente e que a melhoria da confiança se consubstancie em resultados concretos porque os dados do último trimestre de 2016 permaneceram tão ruins ou até piores do que os dos trimestres anteriores.
Resultados anuais
Industria, comércio varejista e serviços despencaram em 2016. O setor de serviços apresentou retração de 5% em comparação ao ano anterior, a indústria geral, 6,6% e o comércio varejista, 6,2%. É o terceiro ano seguido de retração da indústria geral e o segundo ano do setor de serviços e do varejo (ver Gráfico 1). O Índice de Atividade do Banco Central (IBC-BR) registrou queda de 4,32% em 2016, depois de já ter recuado 4,28%, em 2015, e 0,26% em 2014.
No caso do setor industrial, a retração do nível de atividade em 2016 permaneceu muito acentuada, ainda que no ano anterior tenha sido maior. Foi no setor terciário que o ritmo de queda da atividade acelerou, passando no caso dos serviços de 3,6%, em 2015, para 5%, em 2016, e no caso do varejo, de 4,3% para 6,2% (ver Gráfico 1).

Fonte: IBGE. PMS, PIM e PMC.

Resultados trimestrais
No quarto trimestre do ano os desempenhos dos setores em causa permaneceram muito ruins. De fato, a queda no nível e atividade acelerou muito no setor de serviços, não atenuou o ritmo de queda nas atividades industriais, enquanto o volume de vendas no varejo continuou caindo muito (1,23%), mesmo que menos do que no terceiro trimestre (ver Gráfico 2). O setor de serviços recuou incríveis 2,75% e a indústria geral, 0,75%.
Aguardemos os primeiros resultados mensais de 2017 para confirmar se a melhoria relativa dos índices de confiança se traduzirá efetivamente em ganhos nos níveis setoriais de atividade.



Fonte: IBGE. PMS, PIM e PMC.

Publicado no Jornal da Cidade, em 19/02/2017


P.S Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute

'Existe uma euforia meio carnavalesca'
“Não acho que a economia esteja virando. Existe uma euforia meio carnavalesca no Brasil nas últimas semanas, mas os indicadores são muito turvos ainda. Não dá para dizer que há sinais de virada. É exagero carnavalesco. A economia conseguiu transitar do péssimo para o muito ruim. Isso dá uma impressão de melhora e as pessoas tendem a ficar um pouco eufóricas. Não é uma virada de nível e não significa agora que a economia esteja crescendo já. Não há nada que vá fazer 2017 ser um ano de virada no sentido de que as pessoas pensem: o Brasil finalmente está crescendo não sei quanto. Com o endividamento muito alto setorialmente, está todo mundo mais preocupado com desalavancagem do que com consumo e investimento. Não há demanda doméstica com força suficiente para gerar esse tipo de crescimento. Também o lado externo não vai ajudar. O crescimento mais forte a médio prazo está longe de estar garantido. Não vejo como isso será possível, uma vez que a produtividade está lá embaixo. E a única coisa que gera expectativa de crescimento sustentável é aumento de produtividade, coisa que o Brasil não tem."   

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Indústria de transformação recua 1,1% no 4º trimestre de 2016

Ricardo Lacerda
Ansiosos por notícias alvissareiras acompanhamos cada publicação de indicadores do nível de atividade na esperança de que a economia finalmente tenha atingido o fundo do poço e possa a partir de então iniciar uma retomada, ainda que muito modesta.  Tem sido assim desde o segundo semestre de 2015, sem que a tão aguardada retomada do crescimento tenha se confirmado. No segundo trimestre de 2016 disseminou-se a expectativa de que o crescimento da economia finalmente estaria a caminho, o que não se confirmou nos trimestres seguintes.
No momento, nova articulação de governo e mídia se mobiliza na tentativa de elevar os ânimos de empresas e consumidores a respeito das perspectivas de crescimento da economia brasileira em 2017. Na semana que passou, o ministro Meirelles afirmou que a economia já se encontraria em pleno crescimento no 1º trimestre do ano. Para Meirelles, a economia já engrenou o motor de crescimento e no 4º trimestre de 2017 o PIB deverá estar rodando em 2%, na comparação com o mesmo período de 2016. Por enquanto, o governo mantém, afirmou o ministro, a projeção de expansão do PIB de 2017 em 1%, em descompasso com as projeções de mercado, de 0,5%, e do FMI, de 0,2%. Para Meirelles, dessa vez vai ser diferente e a economia vai retomar o crescimento progressiva e sustentadamente.
Cautela
Certamente, o ministro Meirelles apoia suas projeções em indicadores antecedentes, como os índices de confiança, e em resultados parciais, como a evolução da arrecadação e das operações de crédito, além das expectativas em relação aos desempenhos do setor agrícola e do setor externo. Alguns analistas externam a crença de que as quedas em curso da inflação e dos juros nominais deverão promover algum impulso sobre o poder de compra das famílias e das empresas. 
Há, todavia, quem se mantenha precavido em relação a esse novo surto de otimismo oficial, mesmo com projeções de crescimento muito modesto e em relação a uma base de comparação muito rebaixada. Além dos desdobramentos imprevisíveis da crise política, a economia permanece muito fragilizada, com desemprego em alta e com elevados graus de endividamento.



Fonte: IBGE. PIM


Atividade industrial
Na atividade industrial, o volume de produção apresentou evolução positiva em novembro e dezembro, mas o resultado do 4º trimestre de 2016 foi tão ruim ou pior do que o do 3º trimestre; ainda que as taxas de retração tenham sido idênticas, a taxa de difusão da retração foi muito maior no trimestre final. Em ambos os períodos, a produção física da indústria geral recuou 0,7%, mas no último trimestre 16 subsetores apresentaram queda, frente a 13 que se retraíram no 3º trimestre (ver Tabela).
É importante registrar que o crescimento das indústrias extrativas tem impedido uma queda mais acentuada do conjunto da indústria geral, dado que as atividades de transformação recuaram 1,1% em cada um dos últimos dois trimestres de 2016 (ver Gráfico).
Depois de ter despencando 5,9% no 1º trimestre de 2016, o volume de produção das indústrias extrativas registrou recuperação robusta nos três trimestres seguintes. A indústria de transformação teve um grande tropeço nos meses de julho e agosto que fez abortar a retomada que se ensaiava no segundo trimestre.
Subsetores de peso na indústria de transformação, voltaram a cair na segunda metade do ano, sejam atividades mais dependentes do poder de compra das famílias; sejam atividades voltadas para o comércio exterior; sejam aquelas atividades arrastadas pela crise na cadeia de produção da construção civil; sejam atividades mais dependentes do acesso ao crédito e da confiança em relação ao futuro. Assim despencaram no 3º ou no 4º trimestres a fabricação de alimentos, produtos farmacêuticos, produtos de limpeza, higiene e cosméticos, produção de fumo, as atividades têxteis, de couro e calçados, minerais não-metálicos, produtos de madeira, móveis, e máquinas e materiais elétricos (ver Tabela).
Convém, portanto, manter cautela. Indicadores do nível de atividade podem oscilar muito de um mês para outro em função de uma série de fatores, como recomposição de estoques, antecipação de decisão compras etc.  É necessário observar os comportamentos por alguns meses para identificar com mais segurança a reversão de tendências setoriais. 

Tabela. Taxa de crescimento da produção física trimestral das atividades industriais, em relação ao trimestre imediatamente anterior (%)
Setor
1ºT
2ºT
3ºT
4ºT
Indústria geral
-2,4
1,3
-0,7
-0,7
Indústrias extrativas
-5,9
2,8
2,0
2,0
Indústrias de transformação
-2,0
1,2
-1,1
-1,1
Produtos alimentícios
0,2
3,2
-3,8
-1,9
Bebidas
-2,2
3,3
-1,9
-5,7
Produtos do fumo
5,2
-23,8
-22,3
2,3
Produtos têxteis
0,7
5,7
1,9
-2,2
Confecção de artigos do vestuário e acessórios
-1,0
-0,9
0,3
7,4
Couros e calçados
0,9
2,6
-1,3
-0,3
Produtos de madeira
5,1
2,8
0,2
-1,6
Celulose e papel
1,0
2,1
0,1
0,9
Coque, derivados do petróleo e de biocombustíveis
0,4
-5,5
-4,0
-1,8
Produtos de limpeza e cosméticos
0,2
1,8
-0,4
-4,3
Outros produtos químicos
2,0
0,7
0,0
-1,4
Produtos farmacêuticos
0,0
-5,3
-3,8
-8,3
Borracha e plástico
-4,1
1,4
1,8
-2,7
Minerais não-metálicos
-2,6
-0,1
-3,8
-2,2
Metalurgia
-3,1
0,0
5,0
-3,5
Produtos de metal, exceto máq. e equip.
-0,9
-1,9
1,3
-4,3
Equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos
-8,2
2,7
6,3
9,9
Máquinas e materiais elétricos
0,1
4,5
-2,6
-10,3
Máquinas e equipamentos
-7,7
7,2
-1,7
0,0
Veículos automotores
-1,5
2,7
1,4
5,5
Outros equipamentos de transporte
-8,0
-4,3
-1,7
-10,2
Móveis
4,3
-6,2
-1,5
-0,8
Produtos diversos
1,5
-3,3
-0,6
2,1

Fonte: IBGE. PIM

Publicado no Jornal da Cidade, em 12/02/2017