Ricardo
Lacerda*
2017 será ainda um período de grandes
dificuldades para a economia brasileira que deverá enfrentar o quarto ano sem
crescimento, entre estagnação e queda do nível de atividade, e o terceiro ano
de intensa deterioração do mercado de trabalho. Segundo estimativa da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2017 mais um milhão e duzentos
mil brasileiros serão incorporados ao contingente de desempregados.
O Banco Mundial publicou na semana que passou
a edição de janeiro de 2017 do relatório semestral Perspectivas Econômicas
Globais, cujo subtítulo dessa vez ressalta a fragilidade dos investimento em
tempos marcados por fortes incertezas. O documento pode ser acessado no link http://www.worldbank.org/en/publication/global-economic-prospects. Para o Banco Mundial, em 2016 o comércio
global estagnou, o investimento desacelerou e as incertezas políticas se
ampliaram.
Em linhas gerais, o relatório ressalta o
aumento das incertezas associadas ao recrudescimento do protecionismo nos
países centrais e os riscos de piora nas condições de financiamento externo ameaçando
as perspectivas de crescimento da economia mundial. Fica implícito o temor dos
impactos globais caso o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, venha, como
vem anunciando, adotar linha de atuação de forte protecionismo no mercado
interno e que, dado o peso da economia daquele país, o comércio internacional sofra
um revés importante.
Condicionantes
São cinco os destaques no relatório
do Banco Mundial: em 2016, o crescimento da economia mundial encolheu para
2,3%, frente à expansão de 2,7% em 2015. O comércio internacional, por sua vez,
se encontra estagnado, deixando de operar como mecanismo de impulso ao crescimento
econômico. De fato, no mundo pós-crise financeira, as taxas de expansão do
comércio mundial se situaram muito abaixo do período imediatamente anterior a
2008 e tanto em 2014 quanto em 2015 o volume de bens transacionados
internacionalmente registrou expressiva desaceleração na taxa de incremento.
Como vem se verificando nos relatórios de primeiro
semestre dos últimos anos, o Banco Mundial, assim como o Fundo Monetário
Internacional, estima recuperação moderada na taxa de crescimento da economia
mundial no ano que se inicia que depois é revista para baixo nos relatórios de
segundo semestre e do início do ano seguinte, a fim de se adequar aos resultados
que vão se tornando públicos.
Para 2017, o relatório projeta
crescimento de 2,7% na economia mundial, decorrente principalmente de certa
aceleração da expansão nas economias em desenvolvimento e no mercados
emergentes. Enquanto as economias ditas avançadas apresentariam uma melhoria
muito modesta, passando de 1,6%, em 2016, para 1,8%, em 2017, as economias
emergentes e em desenvolvimento acelerariam de 3,4% para 4,2% (ver Quadro). A
melhoria nos preços das commodities e o incremento nos investimentos diretos
estrangeiros seriam os principais vetores capazes de reanimar essas economias
em 2017 e anos seguintes. A elevação nos preços das commodities,
particularmente mas não exclusivamente de petróleo, deverá melhorar os termos
de troca dos países exportadores desses bens, o que ajudará a alavancar suas
taxas de crescimento e estreitar o hiato de ritmos de crescimento em relação
aos países importadores de commodities. Esses
são os pontos 2 e 3 destacados no relatório,
O quarto ponto apontado é a
expectativa de adoção de fortes estímulos fiscais nas economias centrais,
notadamente nos EUA. Para o relatório, a utilização de mecanismos fiscais para
acelerar o crescimento econômico e gerar emprego, em acordo com que vem
anunciando o virtual presidente norte-americano, poderá provocar aceleração no
crescimento daquele país com possível impacto sobre o crescimento global acima
da taxa estimada.
O relatório frisa que as projeções de
crescimento global para 2017 estão sujeitas a incertezas substanciais. Esse é
quinto e último destaque. Persistiria um elevado grau de incerteza política que
teria sido exacerbada pelos acontecimentos de 2016, especialmente os resultados da disputa presidencial dos Estados Unidos e na decisão do Reino
Unido de abandonar a União Europeia.
Perduram ainda riscos
associados a disrupções no mercado financeiro por conta de condições mais restritas
de acesso ao financiamento globais e que podem ser ampliados caso se confirme a
escalada de tendências protecionistas, o que poderia redundar em crescimento
mais lento e maior vulnerabilidade em algumas economias em desenvolvimento e
mercados emergentes.
Avançadas
e emergentes
Depois da intensa desaceleração em
2016, quando o crescimento encolheu de 2,1% para 1,6%, as economias avançadas
deverão apresentar modesta retomada em 2017 e 2018, quando deverão crescer 1,8%
em cada ano, impulsionadas pelo maior crescimento da economia dos EUA, posto
que a Zona do Euro e o Japão não deverão acelerar o ritmo de expansão (ver
Quadro). É importante registrar que a economia norte-americana deve ter
crescido em 2016 em ritmo inferior aos de 2014 e 2015.
A aceleração dos países emergentes
será impulsionada pelos resultados menos desastrosos de países exportadores de
commodities, muito especialmente Brasil, Argentina e Rússia, que em 2016 devem
ter recuado, respectivamente, 3,4%, 2,3% e 0,6%. Para 2017, o relatório projeta
a retomada do crescimento na Rússia (1,5%) e Argentina (2,7%) e expansão
residual na economia brasileira (0,5%). O grupo de países exportadores de
commodities, que registraram estagnação em 2015 e 2016, deverão crescer 2,3% em
2017.
Não bastassem as incertezas da
economia mundial, conviveremos em 2017 com um cenário interno marcado pela
instabilidade inerente aos desdobramentos da crise política brasileira e pelas
enormes dificuldades em reanimar o nível de atividade interna.
____________________________________________________
Quadro.
Projeção de crescimento do PIB em 2017 e 2018 (%)
___________________________________________________
|
Itens
|
2014
|
2015
|
Estima-tiva
|
Projeções
|
2016
|
2017
|
2018
|
MUNDO
|
2,7
|
2,7
|
2,3
|
2,7
|
2,9
|
ECONOMIAS AVANÇADAS
|
1,9
|
2,1
|
1,6
|
1,8
|
1,8
|
EUA
|
2,4
|
2,6
|
1,6
|
2,2
|
2,1
|
Eurozona
|
1,2
|
2,0
|
1,6
|
1,5
|
1,4
|
Japão
|
0,3
|
1,2
|
1,0
|
0,9
|
0,8
|
EMERGENTES E EM DESENVOLVIMENTO
|
4,3
|
3,5
|
3,4
|
4,2
|
4,6
|
Exportadores de commodities
|
2,1
|
0,4
|
0,3
|
2,3
|
3,0
|
Outros emergentes
|
6,0
|
6,0
|
5,6
|
5,6
|
5,7
|
China
|
7,3
|
6,9
|
6,7
|
6,5
|
6,3
|
América
Latina e Caribe
|
0,9
|
-0,6
|
-1,4
|
1,2
|
2,3
|
Brasil
|
0,5
|
-3,8
|
-3,4
|
0,5
|
1,8
|
México
|
2,3
|
2,6
|
2,0
|
1,8
|
2,5
|
Argentina
|
-2,6
|
2,5
|
-2,3
|
2,7
|
3,2
|
Rússia
|
0,7
|
-3,7
|
-0,6
|
1,5
|
1,7
|
Índia
|
7,2
|
7,6
|
7,0
|
7,6
|
7,8
|
Fonte:
Worldbank. GEP, jan 2017
Publicado no Jornal da Cidade, 15/01/2017