Ricardo Lacerda
O comportamento das exportações brasileiras
nos últimos dois anos tem sido intrigante e decepcionante. Diante da intensa
desvalorização da moeda nacional desde agosto de 2014, com nova aceleração da
depreciação a partir do início do segundo semestre de 2015, era de se esperar
uma retomada mais forte de nossas vendas externas. Na verdade, na comparação entre
os doze meses completados em maio de 2016 e o mesmo período anterior, o valor
das exportações brasileiras continuou recuando (-9,4%).
É fato que os últimos dois resultados mensais
saíram do campo negativo, com crescimento de 1,4%, em abril, e 4,8%, em maio,
em relação aos mesmos períodos do ano anterior, mas na comparação entre
janeiro-maio de 2016 e o mesmo período de 2015, as exportações brasileiras
ainda se situaram 1,6% inferiores. Repito, esperava-se resposta mais rápida do
desempenho de nossas vendas externas.
Comportamento
intrigante
O comportamento das exportações brasileiras é
intrigante porque, além do forte impulso de competitividade decorrente da
valorização cambial, a profunda recessão no mercado interno colocou à
disposição das atividades exportadoras capacidade produtiva ociosa e força de
trabalho disponível e a custo mais baixo.
Parte importante da explicação para a falta
de uma resposta mais forte no crescimento das vendas externas decorre da
evolução desfavorável das cotações de nossos principais produtos de exportação,
notadamente do minério de ferro. Assim, frente ao recuo de 9,4% no valor das
exportações nos últimos doze meses, a quantidade exportada apresentou
crescimento de 11,8%.
Todavia, mesmo o incremento físico das
exportações foi bem inferior à depreciação do real frente a uma cesta de moeda
que alcançou, na média de doze meses, cerca de 25% no período, já descontada a
inflação.
Analistas têm destacado dois outros outros fatores
que explicariam a lentidão da resposta do drive exportador brasileiro, além dos
efeitos da debilidade da demanda externa por conta da continuidade da recessão
mundial: a extensa desestruturação da atividade industrial brasileira que
limita a capacidade do setor em reagir aos estímulos cambiais e redirecionar
recursos ociosos para as vendas externas, como acontecera em momentos
anteriores de maxidesvalorizações.
O segundo fator decorre da incerteza em
relação ao patamar que o câmbio deverá se estabilizar, o que restringe as
decisões de voltar a investir com vistas ao mercado externo. Um terceiro fator,
certamente, está associado às incertezas em relação ao cenário político
interno.
Exportações
regionais
Um aspecto significativo da evolução recente
das exportações brasileira é o seu perfil regional. A Tabela e o Gráfico
apresentados trazem dados elucidativos a respeito das exportações regionais.
Entre as cinco regiões brasileiras, apenas o Centro-Oeste apresentou crescimento
no valor exportado nos cinco primeiro meses do ano, em relação ao mesmo período
do ano anterior, com o incremento notável de 27,5%, devido principalmente aos
desempenhos dos estados de Mato Grosso e Goiás. No caso da região Sul há quase
empate nessa comparação, com um ligeiro recuo de 0,4%. As demais regiões registraram
ainda quedas expressivas; Norte, de 9,9%, Nordeste, de 4,2%, e Sudeste, de
8,3%.
Em termos de volumes exportados, a região
Centro-Oeste continuou se distinguindo das demais, apresentando taxa de
incremento de 57,6%, seguida pelos 24,9% da região Norte e 16,6% da região Sul.
A última coluna da tabela registra a variação
do valor médio da tonelada exportada na comparação entre jan-mai de 2015 e
jan-mai de 2016. As regiões mais dependentes de exportações de minérios, como o
Norte, ou de commodities agrícolas, como o Centro-Oeste e, em menor grau, a
região Sul, se defrontaram com quedas mais acentuadas no preço médio exportado do
que as regiões Nordeste e Sudeste. No caso da região Norte, o volume exportado
cresceu 24,9%, enquanto o valor caiu 9,9%.
Tabela: Taxas de crescimento das
exportações regionais em valor e em quantidade entre jan-mai de 2015 e
jan-mai de 2016 (%)
|
|||
Regiões
|
Taxa de crescimento da Exportações Jan-
Mai de 2016/ Jan-Mai de 2015 (%)
|
Variação
do Valor médio por tonelada no período (%)
|
|
Em
US$
|
Em
toneladas
|
||
Norte
|
-9,9
|
24,9
|
-27,8
|
Nordeste
|
-4,2
|
7,7
|
-11,1
|
Sudeste
|
-8,3
|
4,9
|
-12,6
|
Sul
|
-0,4
|
16,6
|
-14,6
|
Centro-Oeste
|
27,5
|
57,6
|
-19,1
|
Oper Especiais
|
12,3
|
-15,6
|
33,1
|
Brasil
|
-1,6
|
15,4
|
-14,7
|
Fonte: MDIC-SECEX
O Gráfico apresentado auxilia a examinar o
movimento das exportações regionais em uma perspectiva de prazo mais longa. Ele
compara a taxa de crescimento do valor exportado pelas regiões em doze meses,
em relação ao mesmo período anterior.
Nessa série, apenas a região Centro-Oeste já deixou
para trás o período de retração no valor exportado, enquanto a região Sul
parece caminhar celeramente nessa direção. As exportações das regiões Norte e
Sudeste, mais diretamente afetadas pela crise industrial e/ou pela queda nas
cotações das commodities minerais, ainda registram quedas muito expressivas,
enquanto as exportações do Nordeste, aparentemente, ainda encontram
dificuldades para reagir aos estímulos criados pela maxidesvalorização.
Fonte: MDIC-SECEX
Publicado no Jornal da Cidade, em 19/06/2016