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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 11 de abril de 2016

De onde virá o ajuste?

Ricardo Lacerda
Depois de uma retração de 3,8% em 2015, o nível de atividade da economia brasileira deverá enfrentar queda de tamanho similar em 2016. No acumulado dos dois anos, o PIB terá caído 7,7% e o PIB per capita se apresentará algo em torno de 10% menor.
O corte no emprego formal atingiu 1,5 milhão de trabalhadores no ano passado. Em 2016, a economia continua desempregando, de tal forma que no acumulado de doze meses encerrados em fevereiro (março 2015-fevereiro 2016), o contingente de pessoas que perderam o emprego saltou para 1.706.695, equivalentes a 4,14% do estoque de emprego formal. Os números são terríveis.
Há muito deixou de ser razoável atribuir tal desempenho a causas estritamente econômicas. A crise é de natureza política, apesar de que foi a fragilização da economia a partir de 2013, entre outros fatores, que propiciou a oportunidade para o levante contra o governo da presidente Dilma Rousseff.
Crise política
A crise é essencialmente política não apenas porque a situação de fragilidade da base parlamentar do governo impede a aprovação pelo congresso nacional das medidas de ajuste nas finanças públicas. Ela assim se caracteriza, principalmente, porque a conflagração aberta das forças políticas concorrentes e a incerteza sobre o desfecho da iniciativa de uma ampla aliança para afastar a Presidente provocaram uma crise de confiança que empurra a economia mais e mais para baixo.
No estágio atual, não se trata mais de saber se vai ser atingida a meta de inflação ou qual vai ser o resultado primário do governo central e sim se a Presidente vai se manter no cargo ou quando vai ser deposta pela ação do parlamento ou do judiciário e qual o tamanho do fosso que será aberto na sociedade brasileira pela instalação de um novo governo sem a legitimidade das urnas.
Frente a incertezas tão cruciais nem o governo tem capacidade política para fazer a gestão macroeconômica, nem as forças de oposição apresentam uma alternativa sustentável de poder. E o país segue ladeira a baixo.
O ajuste
Em sessão na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, no dia 29 de março, o ministro Nelson Barbosa apresentou a sua visão sobre o o ajuste por que passa a economia brasileira (ver Quadro com a lâmina inicial de sua apresentação).
Em 2016, a economia colhe algumas das medidas adotadas em 2015. O setor externo já mostra os primeiros frutos do intenso ajuste decorrente da depreciação do real, com melhorias importantes na balança comercial e na relação saldo de transações correntes/PIB, promovendo simultaneamente um importante impulso sobre a demanda e uma redução significativa da vulnerabilidade externa.
Um outro aspecto fundamental é o fim do ciclo de inflação acima de 10% ao ano. Em março, a inflação começou a declinar depois do salto de patamar causado pela combinação da depreciação da moeda e do corte nos subsídios ao consumo de energia elétrica e derivados de petróleo, e deverá a partir de agora apresentar taxas fortemente declinantes. Enquanto em 2015, o IPCA mensal se posicionou acima do resultado do mesmo período do ano anterior em praticamente todos os meses, a partir de março 2016 ocorrerá exatamente o contrário (ver Gráfico)
A situação fiscal, todavia, se encontra em uma sinuca de bico. O tamanho da queda no nível de atividade desde o início de 2015, muito além do que havia sido projetado, jogou por terra qualquer perspectiva de ajuste nas finanças públicas, diante de uma retração de 4,8% da receita federal, excluídas as receitas previdenciárias.
Diante de tal quadro, o ministro Nelson Barbosa entendeu que a tarefa mais imediata da gestão macroeconômica é impedir que o nível de atividade (e o emprego e a renda) continue despencando, enquanto adota uma série de medidas pontuais de corte de despesas e propõe outras de caráter mais estrutural para desengessar o orçamento público, entre as quais, mas não apenas, a reforma previdenciária.

Quadro: O ajuste da economia brasileira em 2016

Fonte: Extraído da apresentação do ministro Nelson Barbosa na Comissão
 Econômica do Senado no dia 29/03/2016.

Fundo do poço
Em condições políticas menos ruins, a queda da inflação e os impactos positivos do comércio exterior, mesmo que restringidos pela crise internacional, ao lado de um programa de retomada dos leilões de concessão de infraestrutura se constituiriam em fatores importantes de impulso à demanda que, ao lado de uma proposta crível de ajuste fiscal no médio e longo prazo, poderiam reconquistar a confiança dos agentes econômicos na gestão fiscal e soerguer a economia da recessão.
Nesse momento, todavia, mesmo os segmentos políticos e empresariais (e suas bases de apoio nos aparelhos de estado) que apostaram na derrubada do governo como o único caminho para reconquistar a confiança do mercado já entendem que não vai ter solução indolor para a crise política.



Fonte: IBGE.

Publicado no Jornal da Cidade, em 10/04/2016

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