Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 9 de março de 2015

A ocupação no Baixo São Francisco –Parte 1

Ricardo Lacerda

Dentre os oito territórios de desenvolvimento de Sergipe dois apresentam densidades econômicas mais elevadas: a Grande Aracaju e o Leste Sergipano. Nesses dois territórios concentram-se as atividades econômicas mais modernas e as empresas de maior porte.

Núcleo moderno

A Grande Aracaju dispõe da estrutura econômica mais diversificada, sediando as principais atividades industriais, de construção civil, de comércio e de serviços, além da maior parte da administração pública; no Leste Sergipano são desenvolvidas parcelas importantes das atividades da cadeia produtiva de petróleo e gás e da extração de minérios. É legítimo concluir que aqueles dois territórios, Grande Aracaju e Leste Sergipano, concentram o núcleo moderno da economia sergipana.

Nos demais territórios a presença de grandes empreendimentos é menos relevante na estrutura econômica e ocupacional, ainda que possam ser apontados como destaques o polo industrial de Estância, no território Sul, a Usina Hidroelétrica de Xingó, no Alto Sertão, e alguns outros empreendimentos de porte distribuídos pelos vários territórios, como unidades de fabricação de calçados, cerâmicas, destilarias de álcool e usinas de açúcar e fábricas de produtos alimentícios e de bebidas.

Estrutura ocupacional

A estrutura produtiva condiciona as oportunidades de ocupação nos municípios e territórios, com a maior presença de emprego formal nos dois territórios citados em comparação com os demais.
Assim, entre a população que se encontrava ocupada no ano censitário de 2010, a participação de pessoas que possuíam vínculos de emprego com carteira de trabalho assinada alcançava 50,2% na Grande Aracaju e 40,5% no Leste Sergipano; de outra parte, tal contingente representava apenas 15,5% da população ocupada no Alto Sertão, 17,7% no Médio Sertão, 18,4% no Centro- Sul, 22% no Agreste Central, 20% no Sul Sergipano e 24,6% no Baixo São Francisco (ver Tabela 1). 

A contraface do peso do emprego formal na estrutura ocupacional é que, à exceção da Grande Aracaju e do Leste Sergipano, nos demais territórios sergipanos a participação de pessoas ocupadas em 2010 em atividades por conta própria ou na produção para consumo próprio das famílias ou ainda em atividades não remuneradas em ajuda a membros da família ultrapassava 40% do total. No caso do território do Baixo São Francisco, este percentual, em 2010, era de 43,7%.


Tabela 1. Territórios Sergipanos. Estrutura ocupacional segundo posição na ocupação no trabalho principal de pessoas de 10 anos ou mais ocupadas na semana de referência. 2010. (Em %)
Posição na ocupação
Agreste Central
Alto Sertão
Baixo São Francisco
Centro Sul
Grande Aracaju
Leste
Médio Sertão
Sul
Total Sergipe
 Empregados
55,1
49,1
55,4
54,8
75,4
70,6
53,4
58,4
64,9
 -Com carteira assinada
22,0
15,5
24,6
18,4
50,2
40,5
17,7
20,9
34,7
- Militares e funcionários públicos estatutários
3,7
4,3
5,6
3,7
7,8
7,2
5,7
4,2
6,0
 -Sem carteira assinada
29,4
29,3
25,2
32,7
17,3
22,9
29,9
33,3
24,2
Não remunerados em ajuda a membro do domicílio
2,1
4,8
2,5
2,8
1,5
2,3
2,2
3,1
2,2
Na produção p próprio consumo
8,8
21,1
13,9
11,2
1,5
8,4
18,3
10,0
7,2
 Empregadores
1,2
0,7
0,7
1,2
2,0
0,5
1,2
1,2
1,5
 Conta própria
32,8
24,3
27,5
30,1
19,7
18,1
25,1
27,3
24,2
 Total
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
100,0
Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2010


Baixo São Francisco

Entre os municípios do Baixo São Francisco, todavia, são muito assimétricas as estruturas ocupacionais segundo a posição no trabalho. Em municípios como Brejo Grande, Canhoba, Amparo do São Francisco e Pacatuba a participação das pessoas ocupadas na posição de empregados com carteira de trabalho assinada não atingia 15%.

Em municípios como Brejo Grande e Pacatuba, nos quais os mercados de trabalho são menos estruturados, cerca de 70% da população estava ocupada na produção para o próprio consumo, em trabalho por conta próprio ou como membro não remunerado da família. No caso de Brejo Grande, 59,3% da população ocupada desenvolvia atividades por conta própria e em Pacatuba 35,9% em produção para consumo próprio, além dos 26,5% em trabalho por conta própria (ver Tabela 2). 

Em Santana do São Francisco (ex-Carrapicho) e em Ilhas das Flores a soma das pessoas ocupadas na produção para o próprio consumo, em trabalho por conta próprio ou como membro não remunerado da família se aproximava de 50% do total.

Distintas são as situações de Muribeca, Propriá, Neópolis, Telha e São Francisco, nessa ordem, em que as participações dos vínculos formais de trabalho são relativamente mais elevadas. 

Nos municípios que apresentam estrutura ocupacional mais frágil os rendimentos das famílias tendem a ser mais baixos. Em 2010, Pacatuba, Ilha das Flores e Brejo Grande registravam, respectivamente, as 74ª, 73ª e 72ª posições no IDHM renda de Sergipe, à frente apenas de Santa Luzia do Itanhy.

Na próxima semana, examinaremos a estrutura ocupacional por setor de atividade dos municípios do Baixo São Francisco.

Tabela 2. Municípios do Território do Baixo São Francisco. Estrutura ocupacional segundo posição na ocupação no trabalho principal de pessoas de 10 anos ou mais ocupadas na semana de referência. 2010. (Em %)

Rótulos de Linha
Empregados
 Não remunerados em ajuda a membro do domicílio
 Na produção para o
próprio consumo
 Emprega-
Dores
 Conta própria


 Total
     de Empregados
 Com
 carteira
assinada
Militares e funcionários públicos estatutários
 Sem carteira assinada


Brejo Grande
29,7
7,0
4,8
18,0
1,0
9,5
0,3
59,3


Pacatuba
30,6
11,3
2,4
16,8
6,7
35,9
0,3
26,5


Amparo de S. F.
46,3
11,2
10,0
25,3
0,3
12,0
0,2
41,1


Santana do S. F.
51,0
20,2
9,5
21,3
3,6
17,4
0,1
27,8


Ilha das Flores
52,4
17,5
1,1
33,8
3,7
12,3
0,2
31,4


Cedro de S. João
54,5
17,1
10,0
27,4
2,5
7,9
1,2
34,0


Japoatã
56,9
23,9
3,0
30,0
1,6
17,7
0,2
23,7


Canhoba
57,4
10,2
7,2
40,0
8,3
6,0
0,4
27,8


São Francisco
60,9
28,0
6,5
26,5
1,2
7,0
0,2
30,7


Neópolis
61,7
32,3
6,6
22,7
1,5
16,8
0,5
19,5


Muribeca
65,1
33,1
11,0
21,0
1,5
16,9
0,9
15,7


Propriá
64,6
35,7
4,4
24,5
1,5
5,8
1,7
26,4


Malhada dos Bois
71,1
19,5
12,4
39,2
0,4
10,5
0,3
17,7


Telha
73,4
35,6
0,8
36,9
0,6
4,4
0,4
21,3


Total do B. S. Francisco
55,4
24,6
5,6
25,2
2,5
13,9
0,7
27,5


Fonte: IBGE. Censo Demográfico de 2010



Publicado no Jornal da Cidade em 08/03/2015


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