Ricardo Lacerda
O ano de 2014 não vai deixar muitas saudades do
ponto de vista da economia. Os resultados foram ruins em suas várias dimensões.
No cenário externo, 2014 foi um ano de frustração.
Com a exceção dos resultados mais recentes dos EUA, o crescimento e a geração
de emprego foram pífios entre as economias de maior peso no PIB global:
estagnação na Europa e no Japão, enquanto a China não logrou reverter a
trajetória de desaceleração.
Entre os países ditos emergentes, inclusive aqueles
considerados queridinhos da vez dos mercados, a evolução também foi frustrante.
Não teve tempo bom para nenhum dos principais emergentes.
Ao longo do ano, as agências internacionais
revisaram para baixo as taxas de crescimento dos países avançados e dos países
em desenvolvimento. Em uma cantilena que já está se tornando desgastante para a
credibilidade das instituições, há alguns anos aponta-se que o ano de retomada
robusta da economia mundial vai ser sempre o próximo e depois a projeção é
revista para baixo. Adia-se, seguidamente, para o ano vindouro a esperança de
que, finalmente, a crise de proporções mundiais que eclodiu no já distante
setembro de 2008 fique para trás.
No cenário interno, 2014 também foi ruim. O nível de
atividade da economia brasileira andou de lado ao longo de todo o ano, a
balança comercial teve um desempenho especialmente complicado e as contas
públicas, nas três esferas de governo, se deterioraram.
Apesar dos resultados pouco alvissareiros, não
estamos, diferentemente de outros momentos em que enfrentamos dificuldades, à
beira de uma situação paralisante ou próximos de uma bancarrota como sucedeu
nos anos oitenta e noventa e nem mesmo em uma situação semelhante à crise de
confiança que ameaçou as possibilidades de desenvolvimento do país em
2002/2003. Duas são as principais diferenças da situação atual: o elevado nível
de reserva externas que o Brasil detém e a permanência do mercado de trabalho
e, por consequência, do mercado de consumo notavelmente resistentes.
Em conjunto, a situação robusta de nossas reservas e
o amplo mercado de consumo assegurado pela situação do mercado de trabalho (e
pela inclusão social) conferem oportunidade e tempo para enfrentar o cenário
externo perverso, vencer a crise de confiança interna e ajustar a economia para
um novo ciclo de expansão, depois de um período mais ou menos longo de
moderação no crescimento.
PIB e Consumo
A taxa de desocupação nas regiões metropolitanas em
novembro se manteve notavelmente baixa, 4,8%, e nos últimos doze meses
encerrados naquele mês foram criados 430 mil empregos formais, o que, apesar de
ser o resultado mais débil dos últimos treze anos, ajudou a manter a taxa de desemprego
em patamar reduzido.
O Gráfico apresenta algumas características curiosas
da relação entre o PIB e o consumo das famílias durante as fases de
desaceleração do crescimento econômico. Desde o início do amplo processo de
inclusão social em 2004, na série de dois trimestres acumulados em relação a
igual período do ano anterior, a evolução do PIB registrou três momentos cujas
taxas se situaram abaixo de 1,5%, cada um deles correspondente a período de
deterioração da economia internacional: um primeiro mais agudo, intenso e
seguido de rápida retomada, entre o primeiro e terceiro trimestres de 2009; o
segundo, mais suave e relativamente mais longo, entre o primeiro e quarto trimestres
de 2012 e, por último, o que vem nos atingindo desde o segundo trimestre de
2014.
O Gráfico mostra que, diferentemente dos ciclos de
descenso anteriores a 2004, o consumo das famílias foi notavelmente preservado,
mantendo-se positivo em todo o período e crescendo em ritmo superior a 1,5%;
nesse último caso, com exceção do terceiro trimestre de 2014. Observe-se que
nas fases descendentes dos ciclos anteriores, como entre o último trimestre de
2008 e o de 2009 e durante a oscilação que marcou o período recessivo entre o
final de 2001 e o final de 2003, o desaquecimento do consumo das famílias
acompanhou ou foi até mais intenso do que o do PIB. Nessa série em dois
trimestres acumulados, o consumo das famílias chegou a se retrair durante oito
trimestres seguidos entre o final de 1997 e o terceiro trimestre de 1999 e apresentou
patamar também rebaixado do final de 2001 até o início do novo ciclo expansivo,
já em 2004.
Fonte:
IBGE. CNT.
Perspectivas
2015
deverá ser um ano de ajuste, o que na prática significa um período marcado pelo
aperto no consumo das famílias e nas despesas do governo. Em um cenário em que
não ocorram choques externos de grande impacto, os juros deverão sofrer
elevação moderada, inclusive para inibir valorização cambial que pressione
demasiadamente a inflação.
A
julgar pelas manifestações captadas pela imprensa, a nova equipe econômica não
vai tardar para mudar o padrão de gestão dos gastos públicos enquanto o banco
central já vem ajustando os parâmetros da política de juros e câmbio. Ao lado
da gestão macroeconômica, acena-se para uma nova agenda microeconômica, com o
objetivo de destravar o investimento e promover ganhos de eficiência, ainda que
os pontos não tenham sido delineados até o momento e as resistências nessa área
sejam maiores do que na gestão macroeconômica.
As
projeções de mercado são de que a economia deverá repetir em 2015 o crescimento
mais do que modesto de 2014, na expectativa de apresentar um início de retomada
em 2016. O principal desafio é fazer o ajuste sem provocar perdas maiores no
poder de compra da população.