Praça São Francisco, São Cristovão- SE

Praça São Francisco, São Cristovão- SE
Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 7 de dezembro de 2014

Sete mitos sobre o Nordeste



Ricardo Lacerda

Nos últimos dez anos verificou-se um importante movimento em direção ao estreitamento do atraso entre o nível de desenvolvimento do Nordeste e a média do Brasil. Todo um conjunto de indicadores econômicos e sociais aponta para isso, ainda que a região continue apresentando defasagem muito acentuada em todos eles.

O fato de vir apresentando evolução favorável, todavia, e este é o ponto central da argumentação, faz com que possamos pensar no Nordeste não apenas como uma região problema, e sim como uma região de oportunidades, uma importante fronteira de crescimento para o Brasil, em outras palavras, uma importante frente de acumulação de capital do país. Apesar disso, alguns mitos e preconceitos teimam em perdurar sobre a região.

Os 7 mitos

Mito 1: O Nordeste é uma região estagnada. O fato: já algum tempo, o Nordeste vem crescendo mais rapidamente do que a média do país e bem mais rápido do que as regiões mais ricas, o Sudeste e o Sul. Entre 2000 e 2011, o PIB do Nordeste cresceu a taxa média anual de 4,2%, frente aos 3,1% da região Sudeste e 3,4% da região Sul.

Mito 2: O crescimento do Nordeste é apropriado pelos ricos da região, em edições renovadas da velha indústria da seca. O fato: o crescimento recente da renda favoreceu todas as classes, mas principalmente as pessoas mais pobres. Milhões de nordestinos saíram da situação de miséria absoluta e o rendimento médio familiar por habitante do Nordeste diminuiu a distância em relação ao do Brasil;

Mito 3: O desenvolvimento do Nordeste se limita ao litoral. O fato: todas as sub-regiões nordestinas apresentaram  crescimento acima da média do Brasil entre 2000 e 2011, seja o litoral-zona da mata, o semiárido e muito especialmente uma das princpais novas fronteiras agrícolas do Brasil, a sub-região dos cerrados nordestinos. O semiárido é a sub-região mais pobre e vai exigir por um longo período uma atuação mais intensa para promover suas potencialidades. Há expectativas de que crescimento da oferta de energia eólica e solar possa abrir uma frente importante de geração de renda e de adensamento de atividades na sub-região.

Mito 4: O Bolsa família vicia a população, que não procura emprego. O fato: o emprego formal no Nordeste cresceu a taxa média de 6,3% ao ano no Nordeste entre 2003 e 2013. Em termos absolutos, o número de trabalhadores com vínculo formal saltou de cerca de 5 milhões, em 2003, para quase 9 milhões, em 2013. Cerca de 1 em cada 5 (19,7%) empregos formais gerados no país nesse período se situou na região.  Há ainda uma larga faixa de população em atividades informais (mais de 50%) que poderá ser incorporada em atividades mais modernas

Mito 5. Não há investimentos em recursos humanos na região. O fato: há de fato carência de recursos humanos qualificados, mas recentemente é notória a intensa elevação da escolaridade de sua população. O número de pessoas com doutorado na região saltou de 3.705, em 2000, para 15.446 em 2010. A participação das pessoas de 25 anos ou mais com curso superior multiplicou catorze vezes em dez anos, saltando de de 0,5% para 7,1% nessa faixa etária. Quase 30% da população em 2010 de mais de 25 anos apresentava curso médio ou superior, o que habilita a região a receber investimentos de maior complexidade técnica e em novos setores de de atividade. 

É necessário, todavia, enfrentar um enorme desafio educacional pela frente visto que quase 6 em cada 10 pessoas não contavam com ensino fundamental completo. É importante destacar a enorme expansão da rede federal de ensino técnico, tecnológico e de campi universitários, que se disseminou em todo o interior da região. Ver figuras.


Fonte: MEC.

Mito 6: O desenvolvimento do Nordeste foi impulsionado apenas pelo crescimento da renda das famílias. O fato: o crescimento das rendas foi um fator importante e desejável do crescimento recente. Não menos importante foi a abertura de uma série de investimentos em infraestrutura produtiva e social, tanto de investimentos públicos quanto de investimentos privados: refinarias de petróleo, transposição do rio São Francisco e as ferrovias Transnordestina (ligando Piauí, Pernambuco e Ceará) e a Oeste – Leste, na Bahia que, mesmo que ainda inconclusas, colocaram a região no mapa de investimentos em infraestrutura. Não menos importante é o avanço na montagem de parques eólicos em praticamente todos estados, iniciando por Rio Grande do Norte, Ceará, Sergipe e Bahia; a duplicação da BR-101, os investimentos nos portos de Suape, Aratu e Pecém e no aeroporto de São Gonçalo do Amarante (RN);

Mito 7: O Nordeste não tem perspectivas de desenvolvimento a longo prazo. O fato: o Nordeste não apenas tem mostrado maior resiliência à crise como deve se apresentar como importante fronteira de crescimento em um novo ciclo de expansão.

Alguns fatores contam para sustentar uma posição de otimismo em relação às perspectivas da região: oportunidades criadas pela expansão do mercado de consumo e pela exploração de sua base de recursos naturais; a implantação de ampla rede de educação técnica e tecnológica espraiada em seu território; um amplo contingente de força de trabalho, tanto de nível básico como, progressivamente, nos níveis técnicos e tecnológicos, esses últimos nos principais centros urbanos assegurando uma oferta elástica de mão de obra por um longo período.

Por tudo isso, sustento a posição de que o movimento de convergência deve perdurar nas próximas décadas, não apenas à força das políticas públicas de cunho social, como também dos investimentos em infraestrutura econômica e social, mas reconheço que o seu alcance vai depender da qualidade das políticas públicas de educação e na definição dos investimentos na rede de infraestrutura logística.


Publicado no Jornal da Cidade, em 07 de dezembro de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário