Praça São Francisco, São Cristovão- SE

Praça São Francisco, São Cristovão- SE
Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 30 de novembro de 2014

O PIB e o ajuste, sem tragédias




Ricardo Lacerda

O cenário econômico se deteriorou acentuadamente desde meados de 2013. Do ponto de vista do nível de atividade, o PIB estagnou, a produção industrial registrou recuo expressivo e o consumo, que vinha sustentando o crescimento econômico até então, apresentou sinais de exaustão. Do ponto de vista do equilíbrio macroeconômico, o baixo crescimento repercutiu na arrecadação de receitas, pressionando as contas públicas, e o déficit na conta de transações correntes continuou aumentando, mesmo que em ritmo menos acentuado.

Esse conjunto de resultados sinalizou que as medidas anticíclicas encontraram seu limite diante da perda de confiança de empresas e famílias em relação à condução da política macroeconômica, em uma situação de nova deterioração das perspectivas da economia mundial.

A economia brasileira começou a girar no mesmo lugar, sem encontrar ponto de apoio para impulsionar o crescimento do nível de atividade. A presidente da república entendeu a mensagem que emanava dos indicadores econômicos e do ânimo dos agentes econômicos e procedeu a mudança no comando da economia. Seria pouco frutífero insistir nos estímulos à demanda quando ela já não respondia às medidas adotadas, enquanto os indicadores macroeconômicos se deterioravam.

Ajuste gradual

Em seu primeiro pronunciamento, antes mesmo da posse, o novo ministro da fazenda, Joaquim Levy, defendeu a necessidade de um ajuste fiscal que deve contemplar tanto a elevação de tributos como corte de despesas. A meta apresentada é de elevar o superávit primário, o esforço fiscal que o país realiza para pagar juros, de 0,56% do PIB em doze meses alcançados em outubro de 2014 para 1,2%, em 2015, até alcançar 2%, o patamar que se avalia como necessário para que a dívida bruta não cresça enquanto proporção do PIB, em 2016 e 2017.  

“Não temos pressa de fazer um pacote com medidas relâmpago. Algumas coisas vêm sendo discutidas no caminho de diminuir as despesas, mas acho que a capacidade de cooperação entre os diversos órgãos deve levar a gente a fazer medidas. Elas vão ser, não digo graduais, mas sem pacotes, sem nenhuma grande surpresa”, declarou o novo ministro.

Ortodoxia

Muita tinta foi gasta em uma discussão pouco objetiva a respeito de uma rendição da política econômica ao receituário ortodoxo. Entendo que trata-se apenas de bom senso para entender que o baixo crescimento dos últimos trimestres impôs restrição à política expansionista e o seu custo já superava os benefícios esperados. Ver Gráfico com dados da perda de dinamismo dos componentes do PIB sob a ótica da demanda.
Fonte: IBGE. CNT.

Os mais exaltados falam em estelionato eleitoral mas, na verdade, quando a presidente anunciou que o ministro Mantega não permaneceria no novo mandato emitiu um sinal claro do seu entendimento a respeito da necessidade de ajustar o rumo da economia.

As medidas anticíclicas foram importantes no pós crise de 2008 mas elas estavam perdendo eficácia. Na medida em que deixaram de impulsionar o crescimento da produção, os sinais de desequilíbrio começaram a se acumular tanto no balanço de pagamentos quanto, em um segundo momento, nas contas públicas.

As medidas a serem implementadas pela nova equipe econômica ainda não foram apresentadas. Do lado das receitas, cogita-se o retorno da CIDE sobre os combustíveis e o fim das isenções parciais na aquisição de bens duráveis de consumo. Do lado das despesas, deverão ser elaboradas propostas para restringir o pagamento do abono salarial pago anualmente aos cadastrados no PIS e a revisão no pagamento de pensões e de auxílio desemprego. O novo ministro já anunciou que serão interrompidos os aportes do tesouro aos BNDES para financiar créditos subsidiados às empresas.

A mudança na gestão da política econômica não decorre de uma crise que exija medidas de emergências e sim da necessidade de redirecionar rumos.  A proposta é fazer a transição da forma mais suave possível para mitigar os impactos das medidas de ajuste fiscal sobre o nível de atividade e sobre o emprego, posto que, antes de melhorar, o nível de atividade pode declinar nos próximos trimestres.

A expectativa é de que a implementação das medidas de ajustes nas contas públicas seja acompanhada pela retomada de investimentos em infraestrutura e na exploração de petróleo e pela correção progressiva da taxa de câmbio, a fim de mudar os termos da competitividade da produção de bens e serviços no mercado interno e no mercado externo.


Publicado no jornal da Cidade, em 30/11/2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário