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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Um olhar territorial sobre o Nordeste


Ricardo Lacerda

Nos dias 17 e 18 de novembro, o BNDES realizou na cidade de Recife seminário para lançamento do livro Um olhar territorial sobre o desenvolvimento: Nordeste. A publicação integra coleção que abrange as cinco macrorregiões brasileiras.

Os cincos volumes, dos quais dois já lançados (Amazônia e Nordeste), foram elaborados com o propósito de orientar o planejamento das ações do banco de desenvolvimento econômico e social, em geral guiado pela perspectiva setorial, a partir de um recorte de desenvolvimento regional, mas as contribuições da publicação certamente vão muito além desse objetivo institucional.

O Olhar territorial

Cada volume está estruturado em três partes. Uma parte introdutória que buscou sistematizar as principais contribuições dos capítulos e os desafios que afloram das reflexões.

A segunda parte é dedicada a apresentar as ações do BNDES nos últimos dez anos em um recorte regional, detalhando os financiamentos que foram realizados segundo cada uma das suas áreas operacionais. Essa seção traz uma riqueza de informações, contemplando os investimentos em energia e logística, na área industrial, na infraestrutura social (educação, saúde, saneamento, mobilidade urbana), nas atividades agropecuárias e sociais e as ações voltadas para o meio ambiente.

Dada a importância do banco de desenvolvimento no financiamento dessas áreas no Brasil, os relatos setoriais com recorte espacial desenham um cenário consistente dos investimentos mais estruturantes que foram realizados, cujo conhecimento a respeito é fundamental para compreender as transformações por que passaram as regiões no período.

A parte final é constituída por capítulos elaborados por profissionais convidados  vinculados à academia, agências federais ou estaduais de desenvolvimento ou ainda relatos de experiências empresariais. São reflexões sobre o significado e limites do progresso social e econômico das regiões e sobre os desafios que se colocam para a sua continuidade.

O Seminário

No seminário de lançamento do livro dedicado ao desenvolvimento territorial do Nordeste, coordenado pela professora Maria Helena Lastres, da assessoria da presidência do banco, e pelo Chefe do Departamento Regional Nordeste, Paulo Ferraz Guimarães, foram apresentadas análises e reflexões apoiadas nos capítulos publicados e avaliações mais recentes sobre as perspectivas para a região.

Foram debatidos temas de grande relevância para o desenvolvimento da região, desde as oportunidades  de expansão da oferta de energias renováveis (eólica, solar e biomassa) aos investimentos programados para os próximo anos em infraestrutura de transporte, em seus vários modais.

A professora  Maria Lúcia Falcón, da Universidade Federal de Sergipe, apresentou uma síntese do capítulo que elaborou para o livro sobre o papel do estado e do planejamento regional para o desenvolvimento do Nordeste, destacando as várias escalas espaciais e os horizontes temporais das ações de planejamento.  

Participei de mesa com as honrosas presenças de especialistas em economia regional, a professora Tânia Bacelar, da UFPE, e o professor  Jair Amaral, da UFC, e de técnicos  da área de planejamento do BNDES sobre os Desafios e as Oportunidades para o Desenvolvimento do Nordeste.

Perspectivas para o Nordeste

Parte do debate focou o abrangente progresso social e econômico que marcou a evolução da região nos últimos doze anos. Procurou-se avaliar o significado das transformações, afastando-se  de explicações simplistas que procuram atribuir o recente desenvolvimento social e econômico da região unicamente às transferências de recursos federais para famílias e governos da região.

Para além dos mitos consagrados, firmou-se no seminário a avaliação de que os investimentos públicos em infraestrutura econômica e social, os investimentos privados induzidos para a região pelas políticas de desenvolvimento ou pelo crescimento da renda, a abrangente inclusão social, a incorporação de largas parcelas da população ao mercado de consumo provocaram transformações estruturais que colocaram o Nordeste em novo patamar de desenvolvimento. Com isso, novos desafios se colocam para a região que permanece como a mais pobre e a mais carente de infraestrutura física e de conhecimento. Enfatizou-se a urgência de se propor uma política de envergadura suficiente para mudar a realidade da sub-região semiárida.

Destaco duas dimensões do mercado de trabalho que revelam o quanto a região avançou e como as carências se mantêm muito elevadas. Entre 2002 e 2013, o contingente de empregos formais da região saltou de 4,85 milhões para 8,9 milhões, incremento de notáveis 83%, equivalentes a crescimento médio anual de 6,3%. Apesar disso, o censo demográfico de 2010 ainda constatou que 59% da força de trabalho ocupada na região região se encontrava em atividades informais.

Entre 2000 e 2010, o nível de instrução da população nordestina avançou significativamente, mas o quadro geral é ainda muito ruim. O número de profissionais com grau de doutor na região saltou de 3.705, em 2000, para 15.446 em 2010. A participação das pessoas de 25 anos ou mais que possuíam curso superior multiplicou catorze vezes, passando de inexpressivos 0,5%, em 2000, para 7,1%, em 2010, da população com 25 anos ou mais. Também foi muito expressiva a expansão da força de trabalho com curso médio completo ou superior incompleto, que representava 4,7% das pessoas com 25 anos ou mais em 2000 e alcançou 21,1%, em 2010 (ver Figura).

Somando essas duais faixas de escolaridade, quase 30% da população em 2010 contavam com curso médio ou superior, o que habilita a região a receber investimentos de maior complexidade técnica e em novos setores de atividade. De outra parte, quase seis em cada dez pesssoas de 25 anos ou mais de idade não contavam com ensino fundamental completo, demonstrando a dimensão do esforço necessário para elevar a escolaridade da população regional.


Nível de instrução da população de 25 anos ou mais (%)



Fonte: IBGE. Censos demográficos de 2000 e 2010.

A publicação sobre a Amazônia já está disponível no portal do BNDES na internet e, em breve, o volume sobre o Nordeste também poderá ser acessado no link https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/handle/1408/2801


Publicado no Jornal da Cidade, em 23/11/2014

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