Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A formação da Grande Aracaju e o crescimento urbano do interior sergipano nos anos oitenta

Ricardo Lacerda



Um dos principais aspectos da modernização da economia sergipana nos anos oitenta foi o acelerado crescimento dos centros urbanos. Enquanto a população urbana de Sergipe crescia 59,2% entre os levantamentos censitários de 1980 e 1991, a população rural recuava 7,1%.

A expansão das atividades industriais foi o grande motor do crescimento urbano em Sergipe. A implantação de um grande número de projetos incentivados pela SUDENE, a instalação dos novos empreendimentos para a exploração da base de recursos minerais pelas empresas do sistema Petrobrás (Nitrofértil, Petromisa e UPGN) e, já no final da década de oitenta, o início da construção da Usina Hidroelétrica de Xingó, tiveram fortes desdobramentos em termos de crescimento e diversificação das atividades comerciais e de serviços privados e públicos.


Centros Urbanos

Ainda que cidades tenham apresentado no período crescimento considerável em todo o território estadual, a expansão foi especialmente destacada no entorno de Aracaju, com a formação de uma área metropolitana. Parte expressiva dos principais investimentos na indústria de transformação foi realizada na própria capital e na área metropolitana e os investimentos na exploração de mineral se concentraram em municípios do Leste Sergipano não muito distantes da capital.

A implantação do Distrito Industrial de Socorro (1979) e os conjuntos habitacionais naquele município e no Rosa Elze, em São Cristóvão, que também passou a sediar o campus da Universidade Federal de Sergipe, impulsionaram a formação do aglomerado urbano da grande Aracaju.

Em 1970, nenhum município além de Aracaju contava com uma população urbana superior a trinta mil habitantes. Em 1980, a capital permaneceu como o único município que detinha população urbana acima desse patamar, mas em 1991, outros cinco municípios, já possuíam população urbana superior a trinta mil habitantes, três no interior (Estância, Itabaiana e Lagarto), e dois na grande Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão.

O numero de municípios com população urbana entre de dez mil e trinta mil habitantes passou de seis para dez, entre 1980 e 1991. Nesse grupo de cidades, cabe destacar a forte expansão urbana de Laranjeiras, município que, além de sediar o investimento da Nitrofértil inaugurou em 1984 a nova fábrica de cimento do Grupo Votorantim, o que viabilizou a desativação da unidade existente no bairro América, em Aracaju, fonte de graves problemas ambientais. A população urbana de Laranjeiras mais do que dobrou entre 1980 e 1991, passando de 6.576 residentes para 16.020. 

Além de Laranjeiras, esse grupo de municípios entre dez mil e 30 mil habitantes na área urbana incorporou Itabaianinha, Nossa Senhora da Glória, Capela, Simão Dias, Nossa Senhora das Dores, Boquim e Maruim. Tobias Barreto e Propriá já se encontravam nesse intervalo desde décadas anteriores.

O crescimento das áreas urbanas da maioria desses municípios não pode ser creditado diretamente à industrialização. Mas estão associados sim ao crescimento da renda no estado alavancado pela industrialização que marcou toda a região Nordeste no período. A expansão produtiva foi acompanhada pelo aumento da presença da administração pública e por mudanças de costumes que levaram as famílias buscarem o conforto da vida urbana e oportunidades para educar os filhos.

Cidades pequenas

Entre os municípios cujas populações urbanas em 1991 não haviam atingido dez mil habitantes, a urbanização também foi intensa nesse período intercensitário. A expansão mais notável foi a do município de Canindé de São Francisco, cuja população urbana em 1980 se limitava a 360 habitantes, e com o início da construção da barragem da Usina Hidroelétrica de Xingó, saltou 5.322 habitantes. O leitor pode imaginar a transformação porque passou o município que, em 1980, contava com apenas 6% da população no meio urbano e, em que, em 1991, tal contingente já representava 46% da população total.


Taxa de Crescimento da População Urbana entre 1980 e 1991 (%), segundo o porte da população urbana

Faixas de Tamanho da Pop. Urbana em 1991
Até 19,9%
20% a 49,9%
50% a 79,9%
80% ou mais

Mais de 30 mil hab.

Aracaju
Estância
Itabaiana
Lagarto
N. S. do Socorro;
S. Cristóvão

10 mil a menos de 30 mil  hab.
Propriá
Boquim;
Maruim
Capela; Itabaianinha;
N. S. da Glória; N. S. das Dores; Simão Dias; Tobias Barreto.
Laranjeiras

5 mil a menos de 10 mil hab.
Neópolis
Porto da Folha
Aquidabã; Barra dos Coqueiros; Itaporanga d'Ajuda; Japaratuba; Riachuelo; Ribeirópolis; Sto. Amaro das Brotas
Carira;
Carmópolis;
Monte Alegre.
Canindé de S. Francisco;
Poço Verde;
Umbaúba

Menos de 5 mil hab.
Amparo de S. Francisco;
Brejo Grande; Canhoba;
Cedro; Gararu; Gen. Maynard; Graccho Cardoso;
Ilha das Flores; Itabi;
Malhada dos Bois;
Muribeca; Sta Rosa de Lima; São Francisco; Telha
Cumbe; Divina Pastora;
Feira Nova; Indiaroba
Japoatã; Riachão do Dantas; Sta Luzia do Itanhy;S. Miguel do Aleixo;
Siriri
Arauá; Cristinápolis;
Frei Paulo; Macambira;
Malhador; N. S. Aparecida; N. S. de Lourdes; Pacatuba; Pinhão;
Pirambu; Rosário do Catete; Salgado; Tomar do Geru.
Areia Branca
Campo do Brito
Moita Bonita
Pedra Mole
Pedrinhas
Poço Redondo
São Domingos

Total  74 mun.
17
19
25
13

Fonte: IBGE. Censos demográficos. Obs. O 75º município sergipano, Santana do São Francisco. somente foi instalado em 1993.

Em Poço Verde, Umbaúba, Poço Redondo, Carira, Pedrinhas, Areia Branca, Carmópolis, Campo do Brito e Monte Alegre os centros urbanos também apresentaram crescimento considerável. Em todos eles a população urbana cresceu acima de 50% entre 1980 e 1991 e incorporaram dois mil habitantes ou mais ao espaço urbano.

Outros municípios, todavia, viram seus centros urbanos encolherem ou crescerem muito pouco, quase todos situados no baixo São Francisco, como Ilha das Flores, Telha, Canhoba, Brejo Grande, Amparo do São Francisco, Cedro de São João e mesmo a cidade pólo da região, Propriá. O quadro apresentado relaciona o porte das populações nas áreas urbanas dos municípios e as faixas das taxas de crescimento da população urbana entre 1980 e 1991.

Publicado no Jornal da Cidade, em 20/10/2013

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