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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 13 de outubro de 2013

Perspectivas ainda difíceis na economia mundial



Ricardo Lacerda

O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou na semana passada o relatório Perspectivas da Economia Mundial, edição de outubro de 2013.

Apoiados no relatório, os principais jornais brasileiros estamparam títulos destacando que o FMI revisou para baixo a projeção do crescimento brasileiro para 2014, ou que Brasil vai crescer abaixo da média dos países emergentes. Alguns jornais repercutiram as sugestões de que países emergentes, inclusive o Brasil, deveriam buscar reduzir a dívida bruta como proporção do PIB, ou o elogio à decisão do Banco Central do Brasil de iniciar um ciclo de elevação da taxa básica de juros para se contrapor às pressões inflacionárias.

Tudo que foi noticiado consta da publicação, mas a leitura do relatório sugere que as informações veiculadas talvez careçam de uma perspectiva mais consistente com o cenário apresentado pela publicação e com os dados ali constantes.

Projeções

Examinemos as projeções de crescimento para 2013 e 2014. A edição de outubro apresenta uma revisão para baixo nas projeções do crescimento da economia mundial, em relação às expectativas de julho passado. Para 2013, projeta-se expansão de 2,9%, quando em julho último esperava-se 3,2%. 

As projeções para o conjunto das economias avançadas não se alteraram desde julho, ou seja, permaneceram muito ruins, 1,2%, para 2013, e 2,0%, para 2014 (ver Gráfico 1). No chamado G7, grupo das sete economias mais ricas, nenhum dos países deverá ultrapassar o crescimento de 2%, em 2013.

IMF. world economic outlook, outubro de 2013.Obs: projeção de crescimento para 2013 e 2014


Foi a revisão para baixo das expectativas de crescimento nos países emergentes que provocou a queda na projeção da expansão do PIB mundial entre julho e outubro, ainda que tais países continuem se expandindo em ritmo muito superior ao das economias avançadas.

Para 2013, a expectativa é de que o grupo de países emergentes cresça 4,5%, frente a 5% da projeção apresentada em julho e, para 2014, apresente crescimento de 5,1%, contra 5,5% projetado anteriormente. A revisão para baixo abrangeu todos os principais países emergentes, ainda que tenha sido mais acentuada nos casos do Brasil e da China.

Apesar disso, a conclusão direta, substantiva, é de que os países emergentes continuam (e deverão continuar nos próximos anos) puxando para cima a taxa média de crescimento da economia mundial, mesmo que um pouco menos intensivamente do que anteriormente. Esse é o ponto central, posto que, até onde a vista alcança, as projeções do FMI se estendem até 2018, as economias avançadas deverão manter taxas de crescimento inferiores a 3%, enquanto a média das economias emergentes, acima de 5%.  

Países

Dentro do mesmo grupo de países, o desempenho econômico pode ser bem diferenciado. O Gráfico 2 apresenta as taxas de crescimento de alguns países selecionados, entre economias avançadas e economias emergentes, em 2011 e 2012, e as projeções do relatório para 2013 e 2014.
  
Na Zona do Euro, mesmo que os riscos de disrupção financeira tenham se atenuado, a situação permanece de prostração da atividade econômica. Em 2013, a região deverá apresentar nova queda no produto interno e mesmo voltando a crescer em 2014, a projeção é de expansão de modesto 1%. O incremento da atividade econômica na região deverá ficar abaixo de 2% até 2018. A poderosa Alemanha, segundo as projeções do relatório, não logrará alcançar em nenhum ano, até 2018, expansão de singelo 1,5%.

A economia norte-americana, com sinais ainda débeis de recuperação, vai fechar o ano de 2013 com resultado inferior ao de 2012, o mesmo devendo acontecer com a economia alemã. Espera-se, todavia, uma recuperação importante nos EUA em 2014. E o Japão, com a tão decantada Abenomics, que propiciou um ensaio de retomada do crescimento depois de anos de estagnação, deverá perder dinamismo em 2014.




IMF. world economic outlook, outubro de 2013. Obs: projeção de crescimento para 2013 e 2014

Entre as economias emergentes mais importantes, Brasil, Argentina, México e Índia deverão apresentar em 2013 taxas de crescimento superiores às do ano anterior, com as particularidades de que a Argentina está em trajetória de desaceleração e o México e a Índia em retomada. Para o Brasil projeta-se repetir a taxa de crescimento em 2014, e, em seguida, apresentar uma retomada muito suave no horizonte da análise.

Em relação a edições anteriores, o que o relatório de outubro traz de novo é a avaliação de que as possibilidades de crescimento dos países ditos emergentes, inclusive o Brasil, se tornaram mais restritas por conta da confluência do fim do ciclo de elevação nos preços das commodities e das condições financeiras mais apertadas no mercado mundial. E que esses novos condicionantes, em alguns casos, estreitaram o potencial de crescimento de longo prazo das economias dos países emergentes. Em outros casos, tais restrições foram potencializadas pelos efeitos da queda do nível de confiança sobre os determinantes da demanda.

Para o Brasil, o relatório recomenda atenção com a evolução da dívida bruta, elogia o acompanhamento estreito da política monetária para combater as pressões inflacionárias e reconhece que a instabilidade causada pelos problemas na comunicação do banco central americano sobre a interrupção progressiva dos estímulos monetários, ao fim, serviu de alerta aos países emergentes para as mudanças futuras no acesso às condições internacionais de crédito e tiveram, ainda, efeitos benéficos para a competitividade no comércio exterior por conta da desvalorização de suas moedas.

P.S. Um aspecto importante constante no relatório é que a transição em direção a condições de acesso mais restrito aos fluxos externos gera tensões para os países emergentes que vêm incorrendo em déficits crescentes na conta de transações correntes, ainda que o relatório reconheça que os países desse grupo encontrem-se  menos vulneráveis nesse quesito do que em situações anteriores.

Publicado no Jornal da Cidade, em 13/10/2013

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