Praça São Francisco, São Cristovão- SE

Praça São Francisco, São Cristovão- SE
Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

terça-feira, 29 de outubro de 2013

As novas descobertas de petróleo em Sergipe



Ricardo Lacerda

Na última quarta-feira, a diretora-geral da ANP -Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis-, a engenheira Magda Chambriard, apresentou comunicação no auditório da Federação das Indústrias do Estado de Sergipe (FIES) e, em seguida, voltou a apresentá-la em audiência com a participação do governo e da imprensa no Palácio de Veraneio, sobre a 12ª rodada de licitações de petróleo e gás promovida por aquela instituição, desde a mudança no marco regulatório do setor que na segunda metade dos anos noventa quebrou o monopólio estatal na exploração do petróleo.  

A 12ª rodada vai licitar nos dias 28 e 29 de novembro 240 blocos terrestres de exploração de gás natural, em catorze estados do país, sob regime de concessão, visto que o sistema de partilha é considerado exceção, aplicado apenas para a exploração marítima na área do pré-sal. Na bacia Sergipe- Alagoas serão leiloados oitenta blocos de exploração, dos quais trinta na sub-bacia de Sergipe, em território de catorze municípios.

A curiosidade das pessoas presentes às audiências, todavia, voltava-se para as novas descobertas em águas profundas no litoral sergipano. A diretora-geral da ANP não se furtou a falar no tema, ainda que sublinhando que sua presença em Aracaju tinha como objetivo divulgar o leilão da 12ª rodada e não anunciar a dimensão dos novos poços.

As novas descobertas

As descobertas dos campos no litoral sergipano tiveram repercussão internacional, a partir do furo jornalístico em setembro da agência de notícias Reuters. Frente à veiculação massiva da notícia na imprensa especializada e não especializada, a Petrobras emitiu comunicados públicos, confirmando as descobertas, mas manteve-se todo o tempo cautelosa em relação ao tamanho das reservas encontradas.

Os novos campos se situam no bloco SEAL-11 e suas áreas adjacentes, situadas a cerca de 100 quilômetros da costa de Sergipe, em que a Petrobras detém 60%, enquanto a IBV- Brasil, braço brasileiro das indianas Bharat Petroleum (BPCL) e a Videocon Industries, possui os demais 40% (ver na Figura a localização do poço conhecido com Farfan 1, situado a 104 km da costa de Aracaju).

A Petrobras não confirma, todavia, a informação propalada pela agencia Reuters, aparentemente com base em fonte ligada aos sócios indianos, de que a reserva pode alcançar entre 1 e 3 bilhões de barris de petróleo, de óleo fino, valioso e de alta qualidade.

A presidente da empresa, Graça Foster, adiantou apenas que se trata de uma “bela” descoberta e, em outra ocasião, declarou se tratar de uma “excepcional” descoberta. E reiterou a informação veiculada anteriormente de que até 2018, se espera que os novos campos venham a produzir algo em torno de 100 mil barris/dia, estimativa ainda sujeita à confirmação.

Nas apresentações feitas em Sergipe, a diretora-geral da ANP trouxe informações adicionais. Registrou inicialmente que, em assuntos de petróleo e gás natural, o ‘mar’ está chegando para Sergipe, província petrolífera tradicionalmente associada à exploração terrestre. Em relação às novas descobertas, informou que foram aprovados recentemente pela diretoria da ANP quatro dos oito Planos de Avaliação de Descobertas (PADs) dos novos poços, confirmando a presença de óleo leve (de alto valor), três PADs estão no momento sob avaliação da diretoria, e o último ainda se encontra em elaboração pela equipe técnica.

Desenvolvimento regional

A diretora-geral da ANP fez questão de destacar a preocupação da agência em explorar novas áreas da bacia sedimentar brasileira, procurando espraiar no território nacional os investimentos na exploração do petróleo que, nas últimas duas décadas, se concentraram na região sudeste, muito especificamente no litoral do Rio de Janeiro, e mais recentemente no Espírito Santo e na bacia de Santos.

Permanece, todavia, a preocupação com os efeitos da exploração do pré-sal sobre as desigualdades de desenvolvimento regional brasileiro. Como consta da apresentação da ANP, com base em dados do BNDES, estão previstos investimentos da ordem de R$ 400 bilhões, apenas entre 2013 e 2016, na indústria de petróleo brasileira. A ANP estima que, no próximo decênio, os investimentos na exploração e beneficiamento do petróleo gerarão demandas por bens e serviços na cadeia produtiva da ordem de US$ 400 bilhões, e o Nordeste corre o risco de receber benefícios apenas marginais nesse ciclo de investimentos.

Para a ANP, as reservas brasileiras provadas de petróleo e gás deverão dobrar até o início da próxima década. Para Sergipe, se as novas descobertas confirmarem jazidas na dimensão esperada, as reservas multiplicarão por mais de quatro vezes. Um mar de petróleo.




Fonte: ANP. *a projeção para 2016/2018 foi divulgada pela agência Reuters.







 Mapa da Área do poço de Farfan 1, divulgado pela Petrobras em 18 de outubro de 2013.



 Mapa da Área das novas descobertas , divulgado pela ANP em 23 de outubro de 2013.


Publicado no Jornal da Cidade, em 27 de outubro de 2013


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A formação da Grande Aracaju e o crescimento urbano do interior sergipano nos anos oitenta

Ricardo Lacerda



Um dos principais aspectos da modernização da economia sergipana nos anos oitenta foi o acelerado crescimento dos centros urbanos. Enquanto a população urbana de Sergipe crescia 59,2% entre os levantamentos censitários de 1980 e 1991, a população rural recuava 7,1%.

A expansão das atividades industriais foi o grande motor do crescimento urbano em Sergipe. A implantação de um grande número de projetos incentivados pela SUDENE, a instalação dos novos empreendimentos para a exploração da base de recursos minerais pelas empresas do sistema Petrobrás (Nitrofértil, Petromisa e UPGN) e, já no final da década de oitenta, o início da construção da Usina Hidroelétrica de Xingó, tiveram fortes desdobramentos em termos de crescimento e diversificação das atividades comerciais e de serviços privados e públicos.


Centros Urbanos

Ainda que cidades tenham apresentado no período crescimento considerável em todo o território estadual, a expansão foi especialmente destacada no entorno de Aracaju, com a formação de uma área metropolitana. Parte expressiva dos principais investimentos na indústria de transformação foi realizada na própria capital e na área metropolitana e os investimentos na exploração de mineral se concentraram em municípios do Leste Sergipano não muito distantes da capital.

A implantação do Distrito Industrial de Socorro (1979) e os conjuntos habitacionais naquele município e no Rosa Elze, em São Cristóvão, que também passou a sediar o campus da Universidade Federal de Sergipe, impulsionaram a formação do aglomerado urbano da grande Aracaju.

Em 1970, nenhum município além de Aracaju contava com uma população urbana superior a trinta mil habitantes. Em 1980, a capital permaneceu como o único município que detinha população urbana acima desse patamar, mas em 1991, outros cinco municípios, já possuíam população urbana superior a trinta mil habitantes, três no interior (Estância, Itabaiana e Lagarto), e dois na grande Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão.

O numero de municípios com população urbana entre de dez mil e trinta mil habitantes passou de seis para dez, entre 1980 e 1991. Nesse grupo de cidades, cabe destacar a forte expansão urbana de Laranjeiras, município que, além de sediar o investimento da Nitrofértil inaugurou em 1984 a nova fábrica de cimento do Grupo Votorantim, o que viabilizou a desativação da unidade existente no bairro América, em Aracaju, fonte de graves problemas ambientais. A população urbana de Laranjeiras mais do que dobrou entre 1980 e 1991, passando de 6.576 residentes para 16.020. 

Além de Laranjeiras, esse grupo de municípios entre dez mil e 30 mil habitantes na área urbana incorporou Itabaianinha, Nossa Senhora da Glória, Capela, Simão Dias, Nossa Senhora das Dores, Boquim e Maruim. Tobias Barreto e Propriá já se encontravam nesse intervalo desde décadas anteriores.

O crescimento das áreas urbanas da maioria desses municípios não pode ser creditado diretamente à industrialização. Mas estão associados sim ao crescimento da renda no estado alavancado pela industrialização que marcou toda a região Nordeste no período. A expansão produtiva foi acompanhada pelo aumento da presença da administração pública e por mudanças de costumes que levaram as famílias buscarem o conforto da vida urbana e oportunidades para educar os filhos.

Cidades pequenas

Entre os municípios cujas populações urbanas em 1991 não haviam atingido dez mil habitantes, a urbanização também foi intensa nesse período intercensitário. A expansão mais notável foi a do município de Canindé de São Francisco, cuja população urbana em 1980 se limitava a 360 habitantes, e com o início da construção da barragem da Usina Hidroelétrica de Xingó, saltou 5.322 habitantes. O leitor pode imaginar a transformação porque passou o município que, em 1980, contava com apenas 6% da população no meio urbano e, em que, em 1991, tal contingente já representava 46% da população total.


Taxa de Crescimento da População Urbana entre 1980 e 1991 (%), segundo o porte da população urbana

Faixas de Tamanho da Pop. Urbana em 1991
Até 19,9%
20% a 49,9%
50% a 79,9%
80% ou mais

Mais de 30 mil hab.

Aracaju
Estância
Itabaiana
Lagarto
N. S. do Socorro;
S. Cristóvão

10 mil a menos de 30 mil  hab.
Propriá
Boquim;
Maruim
Capela; Itabaianinha;
N. S. da Glória; N. S. das Dores; Simão Dias; Tobias Barreto.
Laranjeiras

5 mil a menos de 10 mil hab.
Neópolis
Porto da Folha
Aquidabã; Barra dos Coqueiros; Itaporanga d'Ajuda; Japaratuba; Riachuelo; Ribeirópolis; Sto. Amaro das Brotas
Carira;
Carmópolis;
Monte Alegre.
Canindé de S. Francisco;
Poço Verde;
Umbaúba

Menos de 5 mil hab.
Amparo de S. Francisco;
Brejo Grande; Canhoba;
Cedro; Gararu; Gen. Maynard; Graccho Cardoso;
Ilha das Flores; Itabi;
Malhada dos Bois;
Muribeca; Sta Rosa de Lima; São Francisco; Telha
Cumbe; Divina Pastora;
Feira Nova; Indiaroba
Japoatã; Riachão do Dantas; Sta Luzia do Itanhy;S. Miguel do Aleixo;
Siriri
Arauá; Cristinápolis;
Frei Paulo; Macambira;
Malhador; N. S. Aparecida; N. S. de Lourdes; Pacatuba; Pinhão;
Pirambu; Rosário do Catete; Salgado; Tomar do Geru.
Areia Branca
Campo do Brito
Moita Bonita
Pedra Mole
Pedrinhas
Poço Redondo
São Domingos

Total  74 mun.
17
19
25
13

Fonte: IBGE. Censos demográficos. Obs. O 75º município sergipano, Santana do São Francisco. somente foi instalado em 1993.

Em Poço Verde, Umbaúba, Poço Redondo, Carira, Pedrinhas, Areia Branca, Carmópolis, Campo do Brito e Monte Alegre os centros urbanos também apresentaram crescimento considerável. Em todos eles a população urbana cresceu acima de 50% entre 1980 e 1991 e incorporaram dois mil habitantes ou mais ao espaço urbano.

Outros municípios, todavia, viram seus centros urbanos encolherem ou crescerem muito pouco, quase todos situados no baixo São Francisco, como Ilha das Flores, Telha, Canhoba, Brejo Grande, Amparo do São Francisco, Cedro de São João e mesmo a cidade pólo da região, Propriá. O quadro apresentado relaciona o porte das populações nas áreas urbanas dos municípios e as faixas das taxas de crescimento da população urbana entre 1980 e 1991.

Publicado no Jornal da Cidade, em 20/10/2013

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Varejo ensaia retomada importante

As vendas no varejo no país vêm apresentando uma importante retomada desde abril.   Observando-se as séries trimestrais, que propiciam uma visão mais apropriada da evolução das vendas (do que as oscilações mensais), a retomada na expansão do varejo vem surpreendendo quem apostava no fim do crescimento sustentado do consumo das famílias.

Na série livre de efeitos sazonais, a taxa de crescimento do volume de vendas no trimestre encerrado em agosto  alcançou 2,5%, em relação ao trimestre anterior (março-maio). Em abril, o crescimento trimestral era apenas de 0,1%. Ou seja, tivemos uma recuperação muito vigorosa no volume de vendas do varejo no último trimestre.

Na série normal, com efeitos sazonais, a retomada também é evidente. O volume de vendas no trimestre junho-agosto de 2013 foi 4,7% superior ao do mesmo trimestre de 2012. Em abril, nessa série, o crescimento em relação ao mesmo trimestre anterior era menos da metade, 2,0%. Observem o gráfico abaixo que aponta claramente para uma retomada que não pode ser classificada como exuberante, mas que é bem robusta.

Ricardo Lacerda


Fonte. IBGE.PMC

domingo, 13 de outubro de 2013

Perspectivas ainda difíceis na economia mundial



Ricardo Lacerda

O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou na semana passada o relatório Perspectivas da Economia Mundial, edição de outubro de 2013.

Apoiados no relatório, os principais jornais brasileiros estamparam títulos destacando que o FMI revisou para baixo a projeção do crescimento brasileiro para 2014, ou que Brasil vai crescer abaixo da média dos países emergentes. Alguns jornais repercutiram as sugestões de que países emergentes, inclusive o Brasil, deveriam buscar reduzir a dívida bruta como proporção do PIB, ou o elogio à decisão do Banco Central do Brasil de iniciar um ciclo de elevação da taxa básica de juros para se contrapor às pressões inflacionárias.

Tudo que foi noticiado consta da publicação, mas a leitura do relatório sugere que as informações veiculadas talvez careçam de uma perspectiva mais consistente com o cenário apresentado pela publicação e com os dados ali constantes.

Projeções

Examinemos as projeções de crescimento para 2013 e 2014. A edição de outubro apresenta uma revisão para baixo nas projeções do crescimento da economia mundial, em relação às expectativas de julho passado. Para 2013, projeta-se expansão de 2,9%, quando em julho último esperava-se 3,2%. 

As projeções para o conjunto das economias avançadas não se alteraram desde julho, ou seja, permaneceram muito ruins, 1,2%, para 2013, e 2,0%, para 2014 (ver Gráfico 1). No chamado G7, grupo das sete economias mais ricas, nenhum dos países deverá ultrapassar o crescimento de 2%, em 2013.

IMF. world economic outlook, outubro de 2013.Obs: projeção de crescimento para 2013 e 2014


Foi a revisão para baixo das expectativas de crescimento nos países emergentes que provocou a queda na projeção da expansão do PIB mundial entre julho e outubro, ainda que tais países continuem se expandindo em ritmo muito superior ao das economias avançadas.

Para 2013, a expectativa é de que o grupo de países emergentes cresça 4,5%, frente a 5% da projeção apresentada em julho e, para 2014, apresente crescimento de 5,1%, contra 5,5% projetado anteriormente. A revisão para baixo abrangeu todos os principais países emergentes, ainda que tenha sido mais acentuada nos casos do Brasil e da China.

Apesar disso, a conclusão direta, substantiva, é de que os países emergentes continuam (e deverão continuar nos próximos anos) puxando para cima a taxa média de crescimento da economia mundial, mesmo que um pouco menos intensivamente do que anteriormente. Esse é o ponto central, posto que, até onde a vista alcança, as projeções do FMI se estendem até 2018, as economias avançadas deverão manter taxas de crescimento inferiores a 3%, enquanto a média das economias emergentes, acima de 5%.  

Países

Dentro do mesmo grupo de países, o desempenho econômico pode ser bem diferenciado. O Gráfico 2 apresenta as taxas de crescimento de alguns países selecionados, entre economias avançadas e economias emergentes, em 2011 e 2012, e as projeções do relatório para 2013 e 2014.
  
Na Zona do Euro, mesmo que os riscos de disrupção financeira tenham se atenuado, a situação permanece de prostração da atividade econômica. Em 2013, a região deverá apresentar nova queda no produto interno e mesmo voltando a crescer em 2014, a projeção é de expansão de modesto 1%. O incremento da atividade econômica na região deverá ficar abaixo de 2% até 2018. A poderosa Alemanha, segundo as projeções do relatório, não logrará alcançar em nenhum ano, até 2018, expansão de singelo 1,5%.

A economia norte-americana, com sinais ainda débeis de recuperação, vai fechar o ano de 2013 com resultado inferior ao de 2012, o mesmo devendo acontecer com a economia alemã. Espera-se, todavia, uma recuperação importante nos EUA em 2014. E o Japão, com a tão decantada Abenomics, que propiciou um ensaio de retomada do crescimento depois de anos de estagnação, deverá perder dinamismo em 2014.




IMF. world economic outlook, outubro de 2013. Obs: projeção de crescimento para 2013 e 2014

Entre as economias emergentes mais importantes, Brasil, Argentina, México e Índia deverão apresentar em 2013 taxas de crescimento superiores às do ano anterior, com as particularidades de que a Argentina está em trajetória de desaceleração e o México e a Índia em retomada. Para o Brasil projeta-se repetir a taxa de crescimento em 2014, e, em seguida, apresentar uma retomada muito suave no horizonte da análise.

Em relação a edições anteriores, o que o relatório de outubro traz de novo é a avaliação de que as possibilidades de crescimento dos países ditos emergentes, inclusive o Brasil, se tornaram mais restritas por conta da confluência do fim do ciclo de elevação nos preços das commodities e das condições financeiras mais apertadas no mercado mundial. E que esses novos condicionantes, em alguns casos, estreitaram o potencial de crescimento de longo prazo das economias dos países emergentes. Em outros casos, tais restrições foram potencializadas pelos efeitos da queda do nível de confiança sobre os determinantes da demanda.

Para o Brasil, o relatório recomenda atenção com a evolução da dívida bruta, elogia o acompanhamento estreito da política monetária para combater as pressões inflacionárias e reconhece que a instabilidade causada pelos problemas na comunicação do banco central americano sobre a interrupção progressiva dos estímulos monetários, ao fim, serviu de alerta aos países emergentes para as mudanças futuras no acesso às condições internacionais de crédito e tiveram, ainda, efeitos benéficos para a competitividade no comércio exterior por conta da desvalorização de suas moedas.

P.S. Um aspecto importante constante no relatório é que a transição em direção a condições de acesso mais restrito aos fluxos externos gera tensões para os países emergentes que vêm incorrendo em déficits crescentes na conta de transações correntes, ainda que o relatório reconheça que os países desse grupo encontrem-se  menos vulneráveis nesse quesito do que em situações anteriores.

Publicado no Jornal da Cidade, em 13/10/2013

domingo, 6 de outubro de 2013

O impacto econômico da seca



Ricardo Lacerda

O Brasil acompanhou com aflição os desdobramentos da longa estiagem que vem atingindo o semiárido nordestino desde 2011.  Imagens fortes de animais morrendo e de barreiros e açudes vazios mostraram o drama das famílias de pequenos agricultores diante da perda da produção agrícola e de suas criações.

Ainda que programas como seguro-safra e bolsa estiagem tenham atenuado as perdas dos rendimentos das famílias, as ações implementadas não têm o alcance suficiente para compensar os prejuízos na renda agrícola da região.  

As estimativas sobre os impactos da seca atual na economia do semiárido carecem de estudos mais aprofundados. Ainda assim, quando os resultados das Pesquisas Agrícolas Municipais (PAM) e das Pesquisas Pecuárias Municipais (PPM), do IBGE, referentes aos anos de 2012 e 2013, tiverem sido publicados será possível ter uma aproximação dos danos econômicos incorridos.

Vulnerabilidade

Há mais de cinqüenta anos, desde quando publicado o célebre estudo do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste, intitulado Uma política de Desenvolvimento Econômico para o Nordeste, que foi diagnosticado o caráter estrutural do problema econômico de seca.

Ao lado da necessidade de socorrer às famílias que ficam sem rendimentos e vêm suas as parcas reservas esvaírem quando a estiagem impõe perdas parciais ou totais da produção agrícola, passou-se a entender que é fundamental, além de cuidar dos investimentos em infraestrutura hídrica, dotar a região de uma economia agrícola com unidades produtivas mais estruturadas em termos produtivos e financeiros e com mais recursos científicos e tecnológicos, a fim de enfrentar com danos relativamente menores os efeitos da estiagem.

Não é justo desconhecer o que foi feito desde então em termos de investimentos em infraestrutura hídrica e os progressos produtivos alcançados na região, tanto na agricultura familiar quanto no agronegócio. Tampouco deve-se deixar de reconhecer que a economia agrícola da região permanece muito frágil e muito vulnerável aos efeitos da estiagens que,  periodicamente, assolam a região, atestando que tudo que foi feito em termos de estruturação da economia agrícola foi muito pouco frente à dimensão do problema.

Dimensionando o problema

Dos anos cinquenta até os dias de hoje, a economia do semiárido nordestino se tornou menos dependente da renda gerada pelo setor agrícola e uma fração muito grande da população da região passou a residir nas áreas urbanas. As cidades cresceram, novos pólos regionais se desenvolveram e alcançaram dimensões importantes e as rendas geradas nas atividades urbanas, incluindo atividades industriais, comércio e governo, em muito superaram a renda do setor agrícola. 

Ainda assim, o censo demográfico de 2010 constatou que uma em cada duas pessoas ocupadas na mesorregião do sertão sergipano, que vai de Canindé do São Francisco, ao norte, a Tobias Barreto, ao sul, tinha a agricultura como principal atividade econômica.  A maior parte dessas pessoas se dedica ao cultivo do milho, do feijão e mandioca e à atividade pecuária. Em 2010, antes dos efeitos da seca, mais de 80% do valor da produção agrícola da mesorregião do sertão era proveniente do cultivo do milho, seguido do feijão com pouco mais de 10%.

Os dados do PIB diferem bastante dos de ocupação, e mesmo dos de rendimento. A microrregião de Carira, que apresentava em 2010 a maior proporção da agricultura no Valor Adicionado Bruto dentre as treze microrregiões sergipanas, essa participação se restringia a 19%, frente aos 33% do peso do setor público, incluindo previdência, e 58% de participação do total do setor serviços.

Impactos

Com os resultados do primeiro ano da atual estiagem, em 2011, o valor da produção agrícola da mesorregião do Sertão Sergipano caiu notáveis 39%, em relação ao ano anterior, a quantidade produzida de milho despencou 47% , e a de feijão, 73%.

Pela estimativa do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, do IBGE, as quantidades produzidas de milho (ver Gráfico) e do feijão em Sergipe continuaram despencando em 2012. Em 2013, tanto a cultura do milho quanto a do feijão apresentaram forte recuperação, já como resultado da volta das chuvas.

Mesmo com a redução persistente do seu peso na geração da riqueza da região, a economia agrícola do semiárido nordestino requer de fato volumes elevados de investimentos em infraestrutura hídrica, muito acima do que se fez nas últimas cinco décadas. Mas exige, também, esforços não menos expressivos no desenvolvimento tecnológico e na qualificação de recursos humanos.



Fonte: IBGE- PAM. 2000 a 2011. *IBGE - Levantamento Sistemático da Produção Agrícola.  Estimativa de Julho  de 2013(para 2012) e de agosto de 2013(para 2013)



 Publicado no Jornal da Cidade em 06/10/2013