Ricardo Lacerda
Na última quarta-feira, a
diretora-geral da ANP -Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis-, a engenheira Magda Chambriard, apresentou comunicação no
auditório da Federação das Indústrias do Estado de Sergipe (FIES) e, em
seguida, voltou a apresentá-la em audiência com a participação do governo e da
imprensa no Palácio de Veraneio, sobre a 12ª rodada de licitações de petróleo e
gás promovida por aquela instituição, desde a mudança no marco regulatório do
setor que na segunda metade dos anos noventa quebrou o monopólio estatal na
exploração do petróleo.
A 12ª rodada vai licitar nos dias 28 e
29 de novembro 240 blocos terrestres de exploração de gás natural, em catorze
estados do país, sob regime de concessão, visto que o sistema de partilha é
considerado exceção, aplicado apenas para a exploração marítima na área do
pré-sal. Na bacia Sergipe- Alagoas serão leiloados oitenta blocos de exploração,
dos quais trinta na sub-bacia de Sergipe, em território de catorze municípios.
A curiosidade das pessoas presentes às audiências,
todavia, voltava-se para as novas descobertas em águas profundas no litoral
sergipano. A diretora-geral da ANP não se furtou a falar no tema, ainda que sublinhando
que sua presença em Aracaju tinha como objetivo divulgar o leilão da 12ª rodada
e não anunciar a dimensão dos novos poços.
As novas descobertas
As descobertas dos campos no litoral
sergipano tiveram repercussão internacional, a partir do furo jornalístico em
setembro da agência de notícias Reuters. Frente à veiculação massiva da notícia
na imprensa especializada e não especializada, a Petrobras emitiu comunicados
públicos, confirmando as descobertas, mas manteve-se todo o tempo cautelosa em
relação ao tamanho das reservas encontradas.
Os novos campos se situam no bloco
SEAL-11 e suas áreas adjacentes, situadas a cerca de 100 quilômetros da costa
de Sergipe, em que a Petrobras detém 60%, enquanto a IBV- Brasil, braço
brasileiro das indianas Bharat Petroleum (BPCL) e a Videocon Industries, possui
os demais 40% (ver na Figura a localização do poço conhecido com Farfan 1,
situado a 104 km da costa de Aracaju).
A Petrobras não confirma, todavia, a
informação propalada pela agencia Reuters, aparentemente com base em fonte ligada
aos sócios indianos, de que a reserva pode alcançar entre 1 e 3 bilhões de
barris de petróleo, de óleo fino, valioso e de alta qualidade.
A presidente da empresa, Graça Foster,
adiantou apenas que se trata de uma “bela” descoberta e, em outra ocasião,
declarou se tratar de uma “excepcional” descoberta. E reiterou a informação
veiculada anteriormente de que até 2018, se espera que os novos campos venham a
produzir algo em torno de 100 mil barris/dia, estimativa ainda sujeita à
confirmação.
Nas apresentações feitas em Sergipe, a
diretora-geral da ANP trouxe informações adicionais. Registrou inicialmente que,
em assuntos de petróleo e gás natural, o ‘mar’ está chegando para Sergipe,
província petrolífera tradicionalmente associada à exploração terrestre. Em
relação às novas descobertas, informou que foram aprovados recentemente pela
diretoria da ANP quatro dos oito Planos de Avaliação de Descobertas (PADs) dos novos
poços, confirmando a presença de óleo leve (de alto valor), três PADs estão no
momento sob avaliação da diretoria, e o último ainda se encontra em elaboração
pela equipe técnica.
Desenvolvimento regional
A diretora-geral da ANP fez questão de
destacar a preocupação da agência em explorar novas áreas da bacia sedimentar brasileira,
procurando espraiar no território nacional os investimentos na exploração do
petróleo que, nas últimas duas décadas, se concentraram na região sudeste, muito
especificamente no litoral do Rio de Janeiro, e mais recentemente no Espírito
Santo e na bacia de Santos.
Permanece,
todavia, a preocupação com os efeitos da exploração do pré-sal sobre as
desigualdades de desenvolvimento regional brasileiro. Como consta da
apresentação da ANP, com base em dados do BNDES, estão previstos investimentos
da ordem de R$ 400 bilhões, apenas entre 2013 e 2016, na indústria de petróleo
brasileira. A ANP estima que, no próximo decênio, os investimentos na
exploração e beneficiamento do petróleo gerarão demandas por bens e serviços na
cadeia produtiva da ordem de US$ 400 bilhões, e o Nordeste corre o risco de
receber benefícios apenas marginais nesse ciclo de investimentos.
Para a ANP, as
reservas brasileiras provadas de petróleo e gás deverão dobrar até o início da
próxima década. Para Sergipe, se as novas descobertas confirmarem jazidas na dimensão
esperada, as reservas multiplicarão por mais de quatro vezes. Um mar de
petróleo.
Fonte: ANP. *a projeção para 2016/2018
foi divulgada pela agência Reuters.
Mapa da Área do poço de Farfan 1,
divulgado pela Petrobras em 18 de outubro de 2013.
Mapa da Área das novas descobertas , divulgado pela ANP em 23 de outubro de 2013.