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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 6 de maio de 2013

A economia de Sergipe em 1970, 2ª parte


Ricardo Lacerda



A economia de Sergipe apresentou uma notável aceleração de crescimento nos anos setenta cujo sentido somente pode ser apreendido observando-se um cenário mais amplo de transformações da economia brasileira. Ao final da década, o seu Produto Interno Bruto [segundo estimativas da SUDENE] era 2,6 vezes maior do que quando ela se iniciou, marcando um dos mais intensos períodos de crescimento da história moderna do estado. A sua produção industrial em 1980 era 3,6 vezes maior do que em 1970.

Transformações de tal magnitude somente tiveram paralelo nos primeiros anos da década de oitenta, quando o aproveitamento do gás natural viabilizou a instalação de grandes plantas industriais, de propriedade de empresas estatais, para a produção de fertilizantes. Partindo de uma base produtiva bem mais simples e impulsionado pela rápida expansão da economia brasileira nos primeiros anos da década, o crescimento dos anos setenta se deu em ritmo bem mais acelerado do que nos anos oitenta.

Se os avanços da estrutura produtiva na década de oitenta estão associados à implementação relativamente tardia dos investimentos definidos no âmbito do II Plano Nacional de Desenvolvimento do governo de Ernesto Geisel (1974-78), a expansão econômica na década de setenta responde a outros fatores: a ampliação da exploração de petróleo, a implementação pela SUDENE da política de desenvolvimento industrial para o Nordeste e aos efeitos da expansão de renda proporcionados pelo chamado Milagre Econômico (1969-1973).

SUDENE

Ao findar a década de cinqüenta, o Brasil contava com uma estrutura industrial robusta, com a implantação de diversos segmentos da indústria pesada durante os governos Vargas e de Juscelino Kubitschek.

Como a quase totalidade dos investimentos nos novos setores industriais se concentrou na região Sudeste, em torno do eixo definido entre São Paulo e Rio de Janeiro, as disparidades de desenvolvimento em relação ao Nordeste, a outra região de elevada densidade demográfica, se ampliaram muito. A criação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE foi a resposta dada pelo governo JK à aspiração da região de se inserir no processo de intensa modernização do país.

Criada em dezembro de 1959, a SUDENE dedica-se nos primeiros anos da década seguinte à tarefa de se instrumentalizar internamente e construir as bases do planejamento com o intuito de promover uma mudança estrutural na economia regional. Todavia, o período de intensa instabilidade no país, que culminou com a ruptura institucional em abril de 1964, e os desequilíbrios macroeconômicos que se seguiram ao ciclo de investimentos do final da década anterior retardaram para a segunda metade dos anos sessenta os primeiros impactos mais perceptíveis de sua atuação. 

Os incentivos fiscais criados, assentados principalmente na opção dada às empresas instaladas em qualquer parte do território nacional de utilizarem parte do imposto de renda a ser pago para a implantação de novos empreendimentos ou para ampliação e modernização das unidades produtivas já existentes, impulsionaram os investimentos na região.

A estimativa elaborada pelo então Departamento de Contas Regionais da SUDENE para as taxas de crescimento do PIB sergipano nos anos setenta, com metodologia distinta da desenvolvida depois pelo IBGE, é importante que se registre, encontra-se apresentada no gráfico 1. A média anual para o período 1971-1980 é de notáveis 10,8%, bem mais elevada entre 1971 e 1973, e abaixo dessa média entre 1974 e 1980.
 Fonte: SUDENE/CPE/INE/Contas Regionais.


Estrutura Setorial

O setor industrial cresceu a taxas mais aceleradas do que a média da economia, 13,5% ao ano entre 1971 e 1980. Determinante para esse crescimento mais intenso da atividade industrial foi a ampliação da extração mineral, leia-se a exploração de petróleo, mas outra parcela se deveu à maior diversificação da indústria de transformação. Foi importante para Sergipe o programa de reestruturação do setor têxtil, cujas empresas descapitalizadas e defasadas tecnologicamente, usufruíram dos incentivos regionais e de outros estímulos. Mais do que a recuperação/modernização das unidades já existentes, foi especialmente importante a implantação de unidades de grande porte no ramo de confecções. Novas atividades industriais também foram instaladas no estado.

O rápido crescimento industrial nos anos setenta, impulsionado pela extração mineral, antes mesmo da instalação da planta de gás natural e das grandes unidades de fertilizantes, nos anos oitenta, fez com que a participação da atividade industrial no PIB a custo de fatores, segundo a estimativa da SUDENE, saltasse de 30% para 44%, entre 1970 e 1980 (ver Gráfico 2).

No próximo artigo examinaremos as principais transformações da atividade agropecuária na década de setenta.
Fonte: SUDENE/CPE/INE/Contas Regionais.


Publicado no Jornal da Cidade em 05/05/2013

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