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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Crescimento e convergência no desenvolvimento regional



Ricardo Lacerda

As desigualdades de níveis de desenvolvimento entre as regiões permanecem muito amplas no Brasil. Em 2009, o Nordeste respondia por apenas 13,9% do Produto Interno Bruto (PIB) quando contava com 27,8% da população nacional de 2010, enquanto a região Sudeste, com 42,1% da população, produzia 54,4% da riqueza.

Entre 1995 e 2009, o Sudeste apresentou o crescimento mais lento entre as regiões brasileiras, 39,2%, equivalente a uma taxa anual de 2,4%. As regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste registraram, por ordem, as taxas mais elevadas do período: 81,3%, 77,8% e 53,4%. A região Sul cresceu 43,7%. Assim, a taxa média anual do Nordeste atingiu 3,1%, superior às apresentadas pelas regiões mais industrializadas, Sudeste e Sul, mas inferior às conhecidas pelas regiões que vêm expandindo a exploração da base de recursos naturais, Norte e Centro-Oeste. 

Convergência

Diante desse diferencial de ritmo médio de crescimento durante um período relativamente longo, a região Sudeste perdeu 3,7 pontos de participação no Produto Interno Bruto brasileiro que foram redistribuídos entre as demais regiões, dos quais 1,6 para o Nordeste, 0,9 para o Centro-Oeste e 0,4 para o Norte.
É possível tecer uma série de considerações sobre esse resultado, desde que 2009 não é um ano bom para comparação por conta brusca queda da atividade industrial associada ao pânico criado pela crise financeira internacional ou que 3,7 pontos em quinze anos não é um resultado tão expressivo etc., mas é inescapável a conclusão de que as disparidades de desenvolvimento entre as regiões têm diminuído.

O exame do Gráfico apresentado talvez ajude a esclarecer o movimento de redução da concentração do PIB na região mais rica. Ele apresenta as taxas médias de crescimento dos três últimos anos dos PIBs regionais. Para exemplificar, as taxas assinaladas para 1998 são médias do período 1996-1998 e assim por diante, amortecendo os efeitos de oscilações bruscas em um ano específico.  

Baixo dinamismo

No período de baixo dinamismo da economia brasileira, até 2003, em que a média anual dos triênios se situou abaixo de 3%, a região Sudeste, mais impactada pela abertura comercial, cresceu sistematicamente a taxas inferiores à média do Brasil, enquanto as regiões Norte, Centro-Oeste e Sul evoluíram mais rapidamente. A taxa de crescimento do PIB do Nordeste, nesse período de reduzido dinamismo, se mostrou com forte aderência à média brasileira.

Ao final do 2º governo Fernando Henrique Cardoso, a região Sudeste apresentava taxa de crescimento médio dos quatro anos de apenas 1,5%.  Os desempenhos mais favoráveis eram os das regiões Norte e Centro-Oeste.


Fonte: IBGE. Contas regionais.

Alto dinamismo

Em 2004 o Brasil iniciou um ciclo de crescimento com taxas médias acentuadas até 2008. Desde então, a história é bem conhecida. Queda no PIB em 2009, forte recuperação em 2010, e crescimentos esquálidos em 2011 e 2012. Para 2013, perspectiva de retomada. O resultado da média trienal em 2004 já registra uma importante aceleração das taxas de crescimento que perdura para a maioria das regiões até 2008.

Nesse ciclo de prosperidade, as taxas de crescimento das regiões Nordeste e Sudeste se aceleraram mais rapidamente do que as demais, aproximando-se do ritmo de crescimento das regiões Norte e Centro-Oeste, enquanto a economia da região Sul retardava a sua recuperação.  Em linhas gerais, as diferenças entre as taxas de crescimento entre as regiões se estreitaram nesse segundo período, excetuando o comportamento da região Sul.

Os movimentos de aumento e de redução de participação das regiões no PIB são determinados, principalmente, por transformações nas estruturas produtivas regionais puxadas, sejam por conta dos investimentos públicos e privados, sejam por mecanismos duradouros de transferências de renda que findam por estimular os investimentos, mas são influenciados, também, por flutuações cíclicas que acompanham tais mudanças.

Em relação à influência das alternâncias entre períodos de prosperidade e recessão é curioso constatar que a redução das desigualdades de participação no PIB tem se verificado principalmente pelo pior desempenho da região mais rica nos períodos de baixo dinamismo que não é compensado nas etapas de crescimento mais vigoroso.

Isso não significa, todavia, que são as flutuações cíclicas que determinam as mudanças de participação, mas, simplesmente, que os momentos de crise consolidam as redistribuições do produto para as áreas mais pobres ou de menor densidade econômica que têm apresentado maiores oportunidades de expansão econômica no largo prazo. Embora seja necessário reconhecer que se trata apenas de uma hipótese.
   
Publicado no Jornal da Cidade em 16/09/2012 

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