Ricardo Lacerda
Qualquer avaliação do comportamento do comércio exterior sergipano não deve desconhecer o peso pouco expressivo que tem o setor externo na dinâmica de crescimento da economia estadual. Considerando a soma das exportações e das importações (a chamada corrente de comércio) e comparando-a com o PIB, é possível afirmar que o comércio exterior é cerca de sete vezes menos importante para Sergipe do que para a média do país (calculando com o PIB de 2009 e o comércio exterior de 2011).
Isso se deve ao fato de que os segmentos mais importantes da economia sergipana, vinculados à sua base de recursos minerais, foram erigidos ao longo das últimas quatro décadas visando o atendimento do mercado nacional. Se o coeficiente de abertura da economia brasileira é relativamente restrito, a economia sergipana depende ainda mais do comportamento do mercado interno brasileiro para crescer.
Ainda assim, algumas atividades da economia sergipana, como a citricultura, a fabricação de calçados e a fabricação de açúcar são muito dependentes do mercado externo, de forma que, quando as exportações dos seus produtos vão mal, as áreas que concentram tais atividades perdem ocupação e renda, e quando as exportações retomam a trajetória de crescimento, o emprego e renda tendem a reagir positivamente nas economias locais.
É nesse sentido, que devemos comemorar a continuidade da recuperação das exportações sergipanas em 2011, notadamente a expansão nas vendas do suco concentrado de laranja.
A partir de 2004, as exportações sergipanas, a exemplo do que ocorreu no Brasil, iniciaram uma trajetória fortemente ascendente, que foi interrompida pela crise de confiança da economia mundial de 2008/2009. Muito dependente do comportamento das vendas dos sucos de laranja concentrado, as exportações sergipanas sofreram maior retração relativa e demoraram mais a se recuperar do que a média do país.
Apesar de certa reação em 2010, o valor das exportações (US$ 76,7 milhões), situou-se somente um pouco acima da metade dos US$ 144, 8 milhões de 2007 e ainda inferior aos US$ 79 milhões de 2006. Com o resultado favorável de 2011, as exportações sergipanas confirmaram a sua trajetória de recuperação, somando US$ 122 milhões, o segundo melhor resultado de sua história (ver Gráfico).
Fonte: MDIC-SECEX
Suco de laranja
As atividades de fabricação de sucos, de calçados e de açúcares responderam por cerca de 90% das exportações sergipanas de 2011, sendo que as exportações de suco concentrado de laranja representaram 51,7% do total. As outras duas atividades destacadas tiveram importante expansão, mas foram as vendas externas de sucos que asseguraram, de fato, a forte retomada em 2011.
A tabela a seguir apresenta o valor, as toneladas e o valor médio da tonelada das exportações sergipanas de suco de laranja concentrado congelado (FCOJ), entre 2003 e 2011. Depois de atingirem, em 2007, US$ 71,4 milhões, as exportações sergipanas de suco concentrado de laranja, abaladas pela retração no mercado internacional, despencaram, até atingir US$ 20,1 milhões, em 2009. A trajetória foi empurrada para baixo pela queda do preço médio da tonelada exportada que, depois de atingir US$ 1,9 mil, em 2007, caiu para US$ 886, em 2009 (ver Tabela).
Tabela. Sergipe: Valor, quantidade e preço médio das exportações de Suco de Laranja Concentrado Congelado (FCOJ). 2003-2011
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Ano
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US$ Mil (FOB)
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Participação nas exportações totais
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Toneladas
|
US$/Ton
|
2003
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16.500
|
42%
|
18.556
|
889
|
2004
|
25.555
|
53%
|
36.204
|
706
|
2005
|
21.688
|
33%
|
27.608
|
786
|
2006
|
32.119
|
41%
|
19.860
|
1.617
|
2007
|
71.410
|
49%
|
37.383
|
1.910
|
2008
|
46.799
|
42%
|
32.703
|
1.431
|
2009
|
20.147
|
33%
|
22.738
|
886
|
2010
|
34.233
|
45%
|
20.914
|
1.637
|
2011
|
63.270
|
52%
|
30.633
|
2.065
|
Fonte: MDIC-SECEX
Em 2010, ocorreu um fenômeno interessante, que mostra a defasagem temporal que surge em algumas ocasiões entre a reversão dos preços e a resposta da produção, que é relativamente inelástica no curto prazo. Naquele ano, os preços internacionais começaram a se recuperar, com a tonelada exportada tendo alcançado US$ 1,6 mil, sem que a quantidade exportada tenha esboçado reação, mantendo a trajetória de queda, passando de 22,7 mil toneladas em 2009, para 20,9 mil toneladas. Observe-se que entre 2005 e 2006 ocorreu fenômeno semelhante, com a elevação do preço médio e a queda do volume de exportações.
O mais importante é que a continuidade da recuperação dos preços internacionais em 2011 assegurou a retomada das exportações de suco de laranja, tanto em termos do valor exportado, mas, especialmente importante, do volume comercializado que atingiu 30,6 mil toneladas, causando impactos positivos na região sul do Estado.
Publicado no Jornal da Cidade em 08/01/2012
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Muito interessante e importante a recuperaçao do folego das exportaçoes sergipanas. No entanto, talvez seja necessaria uma politica local de incentivo a as exportaçoes a fim de diminuir a dependencia excessiva dos tres setores supracitados, ja que os mesmos respondem por aproximadamente 90% do total exportado do estado.Além disso com a diversificaçao, haveria um maior potencial distributivo da renda.No entanto, cabe destacar que diversificar nao siginifica dar menos importancia aos setores atuais mais sim conseguir um maior volume de exportaçoes das outras atividades. Parabéns pelo artigo Lacerda.
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