Ricardo Lacerda
Levantamento recente do Instituto
Datafolha estimou que 65% dos brasileiros estão otimistas em relação ao governo
Bolsonaro, entre aqueles que acreditam que o governo iniciado no dia 1º de
janeiro deverá ser bom ou ótimo.
O clima otimista que se instalou
pós-eleição não é suficiente para mascarar o estado anêmico em que se encontra
a economia brasileira. Não devemos nos iludir; viemos de um ano duro e
2019, ainda que deva apresentar alguma melhoria em relação ao ano anterior,
deverá apresentar resultados limitados no que se refere a finanças públicas,
geração de emprego e elevação da renda dos brasileiros. E são esses os
indicadores que, ao fim e ao cabo, de fato interessam no momento em que o
empobrecimento da população e a crise nas políticas públicas são os sentimentos
predominantes: repetindo, melhoria nas finanças públicas, geração de emprego e
elevação de renda.
Letargia
A verdade é que em 2018 o ritmo de
retomada do nível de atividade da economia brasileira desacelerou intensamente,
revelando o grau de dificuldade de darmos partida a um novo de ciclo de
crescimento vigoroso que permita a elevação expressiva da renda e do emprego.
Enquanto entre 2016 e 2017 saímos de uma retração de 3,3% do PIB para um
incremento de 1,1%, registrando, portanto, um ganho de 4,4 pontos percentuais
no ritmo de crescimento, entre esse último ano e 2018 o PIB agregou apenas 0,3
pp na taxa de incremento, para se situar em torno de 1,4%, se tanto (ver Gráfico). Ou seja,
quando consideramos o ritmo de retomada da economia depois da recessão, andamos
de lado ao longo de 2018. É pouco, muito pouco diante da devastação econômica e
social dos últimos anos.
Cabe não esquecer que iniciamos o ano
de 2018 com a expectativa de que o PIB apresentaria incremento de 2,7%, taxa
que, se não é espetacular, indicaria possibilidades de retomada substantiva do
crescimento econômico.
Muito do que se apresenta hoje como
indicadores econômicos favoráveis, como a inflação comportada, juros básicos
rebaixados e o saldo favorável da balança comercial, são na verdade reflexos
irrefutáveis de como a economia brasileira permanece letárgica. Adicione-se que
a recuperação anêmica do nível de atividade tem sido muito desigual em termos
regionais: enquanto o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR) apresentou
incremento de 1,4%, na comparação entre os dez primeiros meses de 2018 e o
mesmo período de 2017, no caso da região Nordeste o crescimento do Índice de
Atividade Econômica Regional (IBC-R) no período se limitou a 0,2%.
Perspectivas
Os dados duros a respeito da
atividade econômica em 2018 não escondem o fato de que o crescimento do PIB
deverá acelerar em 2019. As projeções podem variar entre 2,4%, do Relatório de
Inflação do Banco Central, de dezembro de 2018, até 2,8%, de instituições financeiras
mais otimistas. Sabemos, todavia, que, nos últimos anos, as expectativas
formuladas de recuperação mais vigorosa têm se revelado seguidamente
frustradas, por fatores de diversas naturezas.
A principal força que deverá
impulsionar o crescimento do PIB em 2019, pouco se fala disso, tem um caráter
quase que “automático”, no sentido de que desde o 1º trimestre de 2017 a
economia superou a etapa declinante do ciclo econômico e iniciou a de retomada
e, ainda que a recuperação venha se revelando muito vacilante, os mecanismos
cíclicos da atividade econômica devem continuar impulsionando alguma aceleração
de crescimento.
A melhoria da confiança empresarial,
em vários segmentos econômicos, e das famílias, associada ao resultado
eleitoral e às expectativas em relação à implementação das reformas prometidas,
pode sim constituir fator favorável à aceleração do crescimento, mas o impacto,
a duração e os desdobramentos que terá são muito incertos e seus efeitos devem
ser cotejados com as limitações e as incertezas persistentes, no cenário
interno e no quadro internacional.
O ponto central, determinante para a
intensidade da retomada do crescimento, é que não estão claras as forças de
demanda que o impulsionarão em 2019 e anos seguintes. Por mais que os fatores
relacionados à melhoria da confiança dos chamados agentes econômicos (empresas
e famílias) possam atuar favoravelmente persistem fortes restrições ao
incremento dos gastos empresariais e do consumo das famílias, sem falar nas
limitações fiscais e legais para a expansão dos gastos públicos.
A situação do mercado de trabalho é
ainda muito precária e o grau de endividamento das famílias permanece muito
elevado para se contar com uma retomada firme da demanda por consumo, enquanto
o grau de endividamento das empresas, a elevada ociosidade de recursos nos
diversos segmentos produtivos e, sobretudo, a falta de um equacionamento para a
crise da construção civil, não autorizam expectativas muito otimistas para a
retomada dos investimentos.
Publicado no Jornal da Cidade em 06/01/2019
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