Ricardo
Lacerda
Depois de um período, entre 2017 e parte de 2018, de aceleração e de
sincronização de crescimento entre as maiores economias mundiais, o ano de 2018
se encerrou com moderação e assincronia no ritmo de crescimento entre os países
líderes, limitando a retomada da atividade econômica nos mercados emergentes e
países em desenvolvimento.
Em 2019, China, Estados Unidos e Zona Europeia deverão registrar reduções
na taxa de incremento do PIB, enquanto o Japão deverá manter o desempenho já
rebaixado de 2018. A moderação no crescimento nas grandes economias, as novas rodadas
de elevação nos juros básicos nos Estados Unidos e o recrudescimento das
disputas comerciais são as principais ameaças à retomada do crescimento das
economias em desenvolvimento, notadamente entre aquelas exportadoras de
commodities, como são os casos dos países latino-americanos.
Exportadores de
commodities
A edição de janeiro de 2019 do relatório Perspectivas Econômicas
Globais, do Banco Mundial, aponta o aparecimento de horizonte nublado no
cenário econômico em 2019, como resultado da combinação de certa moderação no
ritmo de crescimento e condições financeiras menos favoráveis no cenário
internacional. Os riscos afetariam especialmente Mercados Emergentes e
Economias em Desenvolvimento (EMDEs, na sigla em inglês).
Alguns dos principais EMDEs já estariam se ressentindo de substanciais
pressões do mercado financeiro, como são os casos da Argentina e da Turquia. A
situação externa menos favorável vem afetando o crescimento dessas economias,
retirando impulso na retomada do crescimento dos países exportadores de
commodities, enquanto as economias emergentes importadoras desses bens
apresentam desaceleração nos seus ritmos de crescimento. O relatório do Banco
Mundial é seco nas suas conclusões sobre as perspectivas da economia mundial: o
céu está escurecendo e a retomada dos Mercados Emergentes e das Economias em
Desenvolvimento simplesmente parou.
O PIB argentino, depois de crescer 2,9%, em 2017, deve ter recuado 2,8%,
em 2018, e, em 2019, deverá apresentar nova forte retração, projetada em 1,7%.
No caso do Brasil, o relatório reviu para metade a projeção feita no meio do
ano, de crescimento de 2,4% para 2018; a nova estimativa de crescimento para
2018 é de 1,2%, adição de apenas de 0,1 ponto percentual em relação ao PIB de
2017 (Ver Quadro).
Quadro. Taxa de crescimento do Produto Interno
Bruto no Mundo e algumas áreas selecionadas, 2016-2020 (%)
|
|||||
Áreas
|
2016
|
2017
|
2018
|
2019
|
2020
|
Mundo
|
2,4
|
3,1
|
3
|
2,9
|
2,8
|
Economias
Avançadas
|
1,7
|
2,3
|
2,2
|
2
|
1,6
|
EUA
|
1,6
|
2,3
|
2,9
|
2,5
|
1,7
|
Zona do
Euro
|
1,9
|
2,4
|
1,9
|
1,6
|
1,5
|
Japão
|
0,6
|
1,9
|
0,8
|
0,9
|
0,7
|
China
|
6,7
|
6,9
|
5,8
|
5,5
|
5,6
|
América
Latina e Caribe
|
-1,5
|
0,8
|
0,6
|
1,7
|
2,4
|
Brasil
|
-3,3
|
1,1
|
1,2
|
2,2
|
2,4
|
Argentina
|
-1,8
|
2,9
|
-2,8
|
-1,7
|
2,7
|
Índia
|
7,1
|
6,7
|
7,3
|
7,5
|
7,5
|
Fonte: Banco
Mundial, GEP janeiro de 2019
Ameaças
Dois tipos de ameaças podem ter maiores impactos sobre as economias dos
países em desenvolvimento: o acirramento e a difusão das disputas comerciais e
o fim do impulso causado pelo miniciclo de valorização das commodities, sem que
os EMDEs tenham aproveitado o período favorável para sanear a situação fiscal
de suas economias e realizarem esforços para torná-las mais competitivas. A
desaceleração no crescimento de algumas maiores economias do mundo, em especial
da China, já se reflete nos preços das commodities, fechando uma janela de
oportunidade para os EMDEs. Em outras palavras, a moderação no crescimento
global restringe a retomada no crescimento desses países.
O relatório destaca que o aperto mais acentuado do que esperado
anteriormente nas condições de financiamento poderá impactar desfavoravelmente
a atividade econômica dos EMDEs e assinala que a escalada das tensões
comerciais é outra grande ameaça para a perspectiva global. Os gráficos
1 e 2 apresentam a evolução do PIB de algumas das principais economias entre
2016 e 2018 e as projeções do Banco Mundial para 2019 e 2020.
Fonte: Banco Mundial, GEP janeiro de 2019
Fonte: Banco Mundial, GEP janeiro de 2019
Publicado no Jornal da Cidade, em 20/01/2019