Ricardo Lacerda
Difícil
falar sobre o comportamento do nível de atividade quando as instituições
nacionais se encontram sob ameaça, diante do risco iminente da eleição de um
candidato a presidente que já deu demonstrações cabais de falta de compromisso
com as regras democráticas e cuja campanha se assenta na incitação ao ódio e à
intolerância.
Os amplos
setores da sociedade que atualmente apoiam o candidato que vocifera slogans
chamando à ordem provavelmente se defrontarão no próximo ano, caso se confirme
a sua vitória, com enormes decepções, quando as frustrações nos mais diversos
campos começarem a se acumular. Oremos, pois, para que dê tempo para consertar
os estragos que serão necessariamente produzidos por uma gente que se mostra despreparada
para a convivência democrática e ainda mais para governar, nas mais diversas áreas,
inclusive na economia.
Façamos
uma pausa na política, o que não é fácil diante das preocupações reinantes, para
tentar avaliar os últimos indicadores de atividade. Os dados referentes ao mês de
agosto, publicados nos últimos dias, sinalizaram que os impactos mais diretos
da greve dos caminhoneiros começam a ser dissipados.
Setores de atividade
Os
números de maio e, em alguns setores, de junho, foram tão fora dos padrões que
há muita dificuldade para avaliar exatamente o que os resultados dos meses
seguintes significam em termos normalização da produção e de crescimento: o
comércio varejista apresentou crescimento de 1,3% em agosto, em relação ao mês
de julho, depois de três meses de recuo, não chegando, todavia, a repor, na
série livre de feitos sazonais, o nível de atividade anterior à paralisação
nacional dos rodoviários.
A
indústria de transformação já havia recuperado em junho o nível de atividade
perdido em maio, mas desde então não apresenta novos incrementos. O setor de
serviços, o segmento que mais retardava o crescimento entre os diversos setores
de atividade, vem apresentando fortes oscilações mensais desde maio e no mês de
agosto apresentou resultado relativamente robusto, com crescimento de 1,2% em
relação a julho na série livre de feitos sazonais.
Na
comparação com igual mês do ano anterior, o volume de vendas do varejo
apresentou crescimento robusto em agosto, ainda que as taxas tenham se
apresentado muito dispersas entre os setores. Essa também tem sido a marca das
atividades de serviços, forte dispersão entre as taxas de crescimento entre os
subsetores, revelando a fragilidade da recuperação da atividade.
A retomada
das atividades industriais, que se iniciou mais cedo do que no comércio e nos
serviços, tem se mostrado mais robusta, ainda que alguns subsetores de bens de
consumo não duráveis, como têxteis, calçados e alimentos industrializados
mantenham produções rebaixadas, além da fabricação de materiais para a
construção civil.
Cabe
alertar que permanecem as dificuldades em avaliar o significado dos resultados
mais recentes; o quanto do incremento nos últimos meses se deve à reposição dos
volumes de produção e vendas perdidos durante a greve dos caminhoneiros e o
quanto se deve ao retorno à trajetória de crescimento, mesmo modesto,
interrompido nos meses de maio e junho.
Desconfio
que a interpretação dos resultados na série livre de efeitos sazonais mais
recentes ficou relativamente comprometida pelos números tão adversos de maio e
junho. Nesse sentido, observar a série de indicadores sem o ajuste sazonal, na
comparação com igual período do ano anterior, notadamente os resultados
acumulados ao invés de mensais, permite captar melhor o comportamento recente do
nível de atividade.
Trimestre e doze meses
Os
resultados do mês de agosto são os primeiros que permitem calcular as taxas de
crescimento trimestrais sem a maior parte do impacto direto da greve dos
caminhoneiros.
Na
comparação com igual trimestre de 2017, o crescimento do volume de vendas do
varejo no trimestre completado em agosto alcançou 1,5%, quando antes da
paralisação nacional estava rodando quase 4%, em relação a igual trimestre do
ano anterior. Em doze meses acumulados as diferenças são bem atenuadas, com
índices de crescimento do volume de vendas no varejo similares do período
anterior à paralisação nacional, ainda que as vendas no varejo em alguns
subsetores permaneçam rebaixadas, como moveis e vestuário e calçados.
Na
indústria de transformação, a produção física em doze meses cresceu 2,2%, em
relação a igual período anterior, bem inferior ao ritmo anterior à paralisação
(cerca de 4%), e muitos dos segmentos de bens de consumo não duráveis continuam
com a produção rebaixada. Finalmente, as atividades de serviços, que antes da
paralisação nacional rodavam abaixo dos resultados de 2017, apresentaram
resultado notavelmente favorável no trimestre encerrado em agosto de 2018, com
destaque para os segmentos de transporte e armazenagem.
Para
finalizar, o gráfico apresentado traz a evolução das taxas trimestrais e em
doze meses do crescimento do Índice de Atividade do Banco Central (IBC-BR), em
relação a iguais períodos anteriores. Nas duas séries, o crescimento do nível
de atividade da economia brasileira já vinha desacelerando desde o último
trimestre de 2017, situação que se agravou no 2º trimestre de 2018.
Após os
impactos a paralisação dos caminhoneiros, a economia brasileira, aparentemente,
retoma a atividade, com ritmo de incremento de cerca de 1,5%, com uma dispersão
relativamente grande entre setores, subsetores de atividade e regiões. O
mercado de trabalho continua eliminando empregos formais. A melhor aposta na
recuperação seria um forte estímulo aos investimentos públicos na construção
civil. Mas as perspectivas eleitorais definitivamente não apontam para a
pacificação política da nação.
Fonte:
BCB