Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Perspectivas para 2018 e mais além

Ricardo Lacerda*
Do ponto de vista do ciclo de negócios, o ano de 2017 representou o ponto de inflexão da trajetória descendente para uma retomada do nível de atividade. Depois de recuar 3,5% em 2015 e em 2016, acumulando retração de 6,9% nos dois anos, a economia deverá crescer um pouco menos de 1%, em 2017, e pouco mais de 2,5% em 2018 (ver Gráfico).
É uma retomada em ritmo modesto, diante da intensidade da queda.  O PIB per capita demorará alguns anos para atingir o pico de 2013. Serão nove anos, até 2022, para retornar ao mesmo patamar. Apesar do ritmo vacilante, a economia voltará a crescer e o mercado de trabalho deverá apresentar melhorias paulatinamente. Há, todavia, outras questões mais preocupantes sobre o futuro do Brasil.
O ano de 2017 representou também um outro tipo de transição, depois do ciclo de crescimento com forte inclusão social de 2004-2014, que foi oportunizado, é verdade, pelo cenário externo favorável, mas que foi movido pelo projeto de consolidar em patamares mais elevados as promessas de construção de estado de bem-estar inscritas na constituição cidadã de 1988. 2017 significou também o início do desmonte progressivo do estado de bem-estar social.
2008
A atual recessão remete a explosão da bolha imobiliária norte-americana, em 2008, que se desdobrou na crise europeia de 2011, e alcançou os países ditos de mercados emergentes, em 2013, com a o fim do longo ciclo de valorização de commodities.
A reversão do cenário na economia mundial, como não poderia deixar de ser, foi impactante, provocando um vendaval político que derrubou, um a um, os partidos e coalizões políticas então no poder, tanto no mundo industrializado, como entre os países periféricos.

Assim como as crises cambiais dos anos noventa haviam levado de roldão os governos de orientação neoliberal, que não entregaram à população a melhoria de bem-estar prometida pela integração à nova ordem mundial, a contaminação pela crise financeira internacional induziu ao encerramento do ciclo de governos de matizes populares e desenvolvimentistas na América Latina.

Da crise econômica à crise política

A presidente Dilma se defrontou com o período de reversão do cenário internacional favorável aos países emergentes. Depois do levante das ruas em 2013, as forças políticas conservadoras e os mercadistas, não são a mesma coisa, perceberam a oportunidade de retomar o poder. E a presidente Dilma cometeu muitos erros quando percebeu o cerco político se fechando à medida que a economia perdia empuxe.

Repetindo o voluntarismo de outras épocas, a presidente Dilma forçou muito a mão para estimular o nível de atividade e a economia não respondeu, o que gerou fortes impactos fiscais. Além de ter cometido erros incompreensíveis, como ter promovido desonerações generalizadas para setores de atividade e ter permitido por período demasiadamente longo a defasagem dos preços dos combustíveis e das tarifas de energia elétrica. Quando o nível de atividade despencou em 2015 e as receitas desabaram, a situação fiscal brasileira fugiu de controle.


O ajuste e as reformas

Quando a recessão se instalou, os mercadistas perceberam a oportunidade que tinham pela frente e se associaram aos setores conservadores e de extrema direita em uma aliança estratégica, com o propósito de impingir retrocessos às conquistas sociais pactuadas na constituição cidadã. Se os setores de extrema direita têm uma pauta conservadora e mesquinha e algumas vertentes chegam a propagar uma agenda obscurantista, anticientífica e homofóbica, a ameaça real à ao estado de bem-estar social não vêm deles e sim dos setores mercadistas.

A coluna vertebral das reformas é o rígido teto de gastos, que engessa as políticas de ajuste e impõe uma redução de dimensões inéditas do tamanho do estado como proporção do PIB em um horizonte de vinte anos.

Para cumprir o congelamento dos gastos estabelecido em lei estão sendo adotadas “reformas” em série que visam ao fim e ao cabo promover o encolhimento do estado nacional: estatais estão sendo vendidas a preço de banana e as riquezas minerais estão sendo entregues a investidores internacionais, assim como extensas terras agrícolas. Essa coalizão que atualmente comanda a política nacional, liderada pelos mercadistas, vai dizimar o que resta de indústria nacional e de projeto nacional de desenvolvimento. E esses setores foram hábeis em manipular o discurso contra corrupção em favor dos seus propósitos.

Com a profundidade da crise econômica que atingiu o país, não se enganem, a agenda do ajuste fiscal se impôs. Não há como contornar esse tema.  Nem nacionalmente, nem localmente. A questão é como fazê-lo de modo inteligente, para reduzir o sofrimento da população, e como distribuir o seu ônus, sem comprar o pacote pronto das reformas liberais. Em cenário tão adverso politicamente, os setores populares têm como desafio apresentar uma proposta coerente e consistente de ajuste fiscal.
                     



Fonte: IBGE, CNT 2003 a 2016. BCB. Expectativa de mercado, 15/12/2017

Publicado no Jornal da Cidade, em 24/12/2017

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

O Investimento e o consumo na saída da recessão


Ricardo Lacerda

Em 2018, não se pode esperar contribuições adicionais significativas da safra agrícola e do setor externo no crescimento do PIB. Consumo e investimentos, nessa ordem, deverão ser os principais componentes de aceleração do crescimento da economia.
O PIB brasileiro vem apresentando incremento desde o 1º trimestre de 2017, depois de completar oito trimestres consecutivos de queda. Além de lenta, a recuperação do nível de atividade da economia brasileira tem sido desigual, tanto em termos de setores de atividade, quanto no que se refere aos componentes da demanda.
Agricultura, indústria de transformação e comércio e transporte vêm apresentando incrementos mais robustos, enquanto as atividades de governo, comunicação e informação, atividades financeiras e os serviços pessoais registraram evoluções menos favoráveis. Crítico mesmo tem sido o desempenho da construção civil.
Do ponto de vista do dispêndio, o consumo das famílias e o setor externo foram os componentes que mais contribuíram para o crescimento no acumulado de três trimestres em 2017. O gasto público apresentou retração no período e os dispêndios com investimentos ainda não apresentaram retomada mais significativa.
Perspectivas
Todavia, mais importante do que olhar para o retrovisor é buscar identificar quais serão os vetores de aceleração do crescimento da economia brasileira nos próximos trimestres. 
A expectativa é de que os impulsos gerados pela safra agrícola favorável em 2017, pelo impacto do crescimento das exportações sobre o nível de atividade de importantes cadeias produtivas e, principalmente, pela expansão gradual do poder de compra da população associada ao incremento da ocupação, deverão se disseminar progressivamente entre os vários setores de atividade, sem, contudo, significar que a retomada seja sustentável no médio prazo.  
O crescimento do consumo tem sido associado ao incremento gradual do poder de compra das famílias derivado do aumento da ocupação e da melhoria das condições de acesso ao crédito. No relatório da inflação de setembro último, antes da publicação do PIB do 3º trimestre, o Banco Central projetava expansão de 0,4% no consumo das famílias em 2017 e de 2,5% em 2018, indicando a continuidade do crescimento do componente nos próximos trimestres.
Investimento
O investimento na economia brasileira iniciou sua trajetória declinante no último trimestre de 2013.  Aparentemente a queda foi estancada nos dois últimos trimestres, registrando-se variação de -0,1%, no 2º trimestre, e incremento de 1,6%, no 3º trimestre. Esses últimos resultados não chegaram a ser animadores. Esperava-se contribuição mais relevante dos investimentos na retomada da economia. 
O Relatório de Inflação de setembro do Banco Central projetava que a Formação Brutal de Capital Fixo (FBCF), mesmo crescendo no segundo semestre, fecharia o ano de 2017 com queda de 3,2%, depois de ter despencado 10,3% em 2016, e 13,9%, em 2015. Em relação ao final de 2013, o investimento do 3º trimestre de 2017 se situava 27,6% abaixo (ver Gráfico). Na mesma comparação, o consumo das famílias se situava 4,1% abaixo. Para 2018, o relatório da inflação indica crescimento de 3% na FBCF, ritmo ainda muito baixo frente ao que se poderia esperar depois de retração tão acentuada nos últimos quatro anos.
Fonte: IBGE.CNT
O crescimento de 2018, é possível inferir, deverá ter como impulso principal o crescimento do poder de compra das famílias, que finda gerando algum efeito positivo sobre os investimentos para responder a estrangulamentos e oportunidades setoriais, dado que no agregado da economia o nível de ociosidade permanece muito elevado. Não se deve esperar, em 2018, que a safra agrícola e o setor externo voltem a contribuir significativamente no crescimento do PIB. Consumo e investimentos, nessa ordem, deverão ser os principais componentes de aceleração do crescimento da economia.

Parâmetros divulgados na semana passada pela Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Fazenda, revê a projeção do incremento do PIB de 2018 de 2% para 3%. E revela pelo menos dois dados elucidativos: o primeiro é que o retardo na redução dos juros nominais teria contribuído para reduzir o PIB de 2017 em 0,8%. Para 2018, a política monetária impulsionaria o PIB em 1%, enquanto a política fiscal seria neutra.  A estimativa da SPE é que o Hiato de Produto atual seria de 3%, mais um indicador de que, pelo lado da oferta, no agregado há espaço para crescer sem investimento líquido.

Publicado no Jornal da Cidade, em 17/12/2017 

segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Examinando o crescimento de 0,1% do PIB no 3º trimestre de 2017


Ricardo Lacerda

O governo central comemorou efusivamente, com a cumplicidade mais do que benevolente dos meios de comunicação, o terceiro crescimento sucessivo do PIB trimestral, mesmo tendo o resultado do 3º trimestre registrado aumento de apenas 0,1%, quase traço.
O esforço publicitário na divulgação do resultado do PIB integrou a mobilização geral que se assiste nas últimas semanas pela derradeira tentativa do governo de votar a reforma da previdência ainda esse ano. Do ponto de vista do governo, é preciso convencer a população que a economia encontrou o rumo da retomada do crescimento e que a reforma previdenciária é etapa fundamental para consolidar o ajuste e assegurar que não haverá risco de reversão na recuperação econômica. A julgar pelas pesquisas de opinião, o público não demonstra muito entusiasmo, nem em relação à recuperação da economia, muito menos com a reforma previdenciária.
Afinal, o crescimento de 0,1% no 3º trimestre foi bom ou foi ruim? Significou que a economia brasileira confirmou a retomada do crescimento ou revelou sua debilidade? A resposta mais razoável para tais questões é: depende das expectativas que cada um tem em relação ao que o crescimento econômico deve promover e da velocidade que a economia deveria se expandir para atender minimamente tais expectativas. Até me arriscaria avaliar que se o objetivo principal da retomada é proporcionar a recuperação de emprego e renda para a população e promover o reequilíbrio das finanças públicas, mesmo que em um horizonte de prazo bastante largo, poder-se-ia afirmar que o resultado do PIB é um copo ¼ cheio e ¾ vazios.
Sustentabilidade e fragilidade
É importante registrar que o anúncio do PIB do 3º trimestre foi acompanhado pela revisão para cima dos resultados dos dois trimestres anteriores, de 1% para 1,3%, no 1º trimestre, e de 0,2% para 0,7%, no 2º trimestre.  Com isso, as projeções de crescimento para 2017 devem ser revistas levemente para cima. O Relatório de Mercado- Focus elevou de 0,73% para 0,89% a projeção do crescimento do PIB para 2017, sem impacto, todavia, no crescimento para 2018.
Se a projeção anual foi revista a maior, uma correção mais de caráter estatístico do que uma mudança de fundo na atividade econômica, os resultados trimestrais assinalam, sem sombra de dúvida, uma desaceleração do ritmo de crescimento na margem, de 1,3%, no 1º trimestre, para 0,7%, no 2º trimestre e, finalmente, de 0,1% no 3º trimestre.
Alguns analistas questionaram se essa evolução não poria em dúvida a própria sustentabilidade da retomada do crescimento, que poderia ter sido associado nos dois primeiros trimestres a fatos extraordinários, não recorrentes; respectivamente o salto na produção agrícola, no 1º trimestre, e o impacto da liberação dos recursos do FGTS e do PIS sobre o consumo das famílias, no 2º trimestre e ainda com impacto no 3º trimestre.
Ainda que esses efeitos tenham participado de fato com peso significativo nos resultados do PIB na primeira metade do ano, a abertura dos dados, tanto do lado da produção, quanto do lado do dispêndio, parece afastar essa preocupação de que a recuperação não venha se mostrar sustentável nos próximos trimestres, sem deixar de confirmar, por sua vez, que ela tem sido lenta e vacilante e que vai demorar muitos trimestres até que a população perceba melhorias mais robustas. Os congressistas estão conscientes disso.
Produção
O Gráfico 1 apresenta a evolução dos PIBs trimestrais em relação aos trimestres imediatamente anteriores, já livre dos efeitos sazonais, segundo os setores e alguns subsetores  de atividade mais significativos.  

No 1º trimestre de 2017 foi a recuperação da produção agrícola, depois dos efeitos da estiagem no ano anterior, o principal fator do incremento do PIB, mas o início da recuperação da indústria de transformação, depois de anos de retração,  e o incremento do comércio também contribuíram.
Depois do forte impulso no 1º trimestre, o setor agropecuário apresentou resultados negativos nos 2º e 3º trimestres, sem prejudicar o incremento anual que deverá ser superior a 10%.
O incremento do PIB no 2º trimestre, pelo lado da oferta, foi explicado principalmente pela expansão das atividades comerciais e pelos subsetores de transporte e de outros serviços. O crescimento desse período pode ser parcialmente atribuído à expansão do poder de compra das famílias associado à liberação de mais de R$ 40 bilhões de recursos do FGTS. 
No 3º trimestre, indústria de transformação, comércio e, em menor grau, serviços puxaram para cima o crescimento da economia, enquanto o setor agropecuário empurrou para baixo. Assim, excluídos fatores muito específicos do setor agropecuário, muitas das mais importantes atividades econômicas apresentaram crescimento relativamente bom no 3º trimestre, permanecendo, todavia, a preocupação com a construção civil, que tem peso muito significativo no PIB e no emprego continua sem se mexer do lugar.



Fonte: IBGE. CNT
Dispêndio
O exame dos componentes do dispêndio provê elementos adicionais para avaliar o comportamento do PIB em 2017. Como apresentado no Gráfico 2, o consumo da família apresentou incremento robusto, tanto no 2º quanto no 3º trimestres, em parte por conta da redução da inflação e dos juros nominais, em parte por conta da liberação dos recursos do FGTS, em parte por conta do incremento da ocupação, mesmo com vínculos precários de trabalho. O consumo do governo tem se mantido em ligeira retração ao longo de todo ano.
Um aspecto interessante é que o setor externo, que vinha contribuindo em termos líquidos para a expansão do PIB, deixou de fazê-lo no 3º trimestre, não porque as exportações de bens e serviços tenham deixado de crescer, e sim porque o incremento do nível de atividade interna impulsionou a demanda bastante comprimida de bens, seja para consumo das famílias, seja para a atividade produtiva. Os investimentos apresentaram evolução positiva, mas a partir de uma base de comparação muito rebaixada.
Em resumo, do ponto de vista do dispêndio, os gastos do governo puxam o freio da economia, enquanto o consumo das famílias, em parte por conta do incremento da ocupação, em parte por conta dos juros mais baixos nas operações de crédito, põe alguma tração para cima.  A resultante das forças não poderia ser mesmo espetacular, mas é razoável supor que a recuperação, em ritmo lento e desigual setorialmente, tenha continuidade nos próximos trimestres.




Fonte: IBGE. CNT

Publicado no Jornal da Cidade, em 10/12/2017