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segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A taxa de desocupação em 2014


Ricardo Lacerda

O mercado de trabalho brasileiro passou por transformações extraordinárias em pouco mais de dez anos de melhoria contínua. Não teria a menor credibilidade aquele  que afirmasse no inicio da década passada que a taxa de desocupação nas regiões metropolitanas cairia para o patamar de 5% ou menos por um longo período de anos.

O número de pessoas sem ocupação nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE (RM de Recife, RM de Salvador, RM de Belo Horizonte, RM do Rio de Janeiro, RM de São Paulo e RM de Porto Alegre) caiu de dois milhões, trezentos e catorze mil pessoas, em dezembro de 2003, para menos da metade, um milhão e cinquenta e um mil pessoas, em dezembro de 2014. 

A taxa média de desocupação das regiões metropolitanas pesquisadas no mês de dezembro de 2014 atingiu 4,3%, a mesma de dezembro de 2013, as duas mais baixas da série histórica para o mês, quando em dezembro de 2013 havia sido de 10,9% (ver Gráfico 1).

Ainda que a queda espetacular, não há outro adjetivo mais adequado para caracterizar o que aconteceu, da taxa de desocupação tenha sido, sem a menor dúvida, a mais significativa das transformações do mercado de trabalho brasileiro, outras melhorias também foram muito importantes, como a elevação da escolaridade das pessoas ocupadas e a sua contrapartida, a redução em termos absolutos e relativos da ocupação infantil e de adolescentes e jovens.



Fonte: IBGE-PME

Taxa de Atividade

Nos dois últimos anos verificou-se um fenômeno que tem intrigado os especialistas. A taxa de desocupação medida pela Pesquisa Mensal de Emprego não se elevou mesmo quando o número de pessoas ocupadas nas regiões metropolitanas pesquisadas permaneceu estabilizado, de fato ter apresentado um ligeiro declínio de 0,5% na comparação entre dezembro de 2014 e dezembro de 2013 e desse último em relação a dezembro de 2012.

A resposta se encontra no comportamento das pessoas mais jovens em relação ao mercado de trabalho.  A Pesquisa Mensal do Emprego estima que o número de pessoas de 10 anos ou mais aptas a trabalhar teria aumentado cerca de 1,2% ao ano entre dezembro de 2012 e dezembro de 2014, enquanto o número delas que estava ocupada ou procurou trabalho no período diminuiu em 1,2%. Ou seja, tem mais pessoas em idade de trabalhar, integrando a chamada População em Idade Ativa (PIA) mas um número menor delas se encontra ocupada ou procurando emprego, ou seja, faz parte da População Economicamente Ativa (PEA), o que configura uma menor oferta de mão de obra no mercado de trabalho.

Enfim, de um lado a demanda por trabalho manteve-se estabilizada, com um muito ligeiro declínio, e a oferta de trabalho registrou uma queda.

A taxa de atividade mede exatamente a relação entre o quantitativo de pessoas de 10 anos ou mais que formam a PEA, e que portanto se encontram no mercado de trabalho, ocupadas ou não, e o total de pessoas existentes nessa faixa etária. Entre dezembro de 2012 e dezembro de 2014, essa relação caiu de 57,8% para 55,7%, ou seja 2,1 pontos percentuais. Quem são essas pessoas que deixaram ou não entraram no mercado de trabalho.

Faixa etária

O recorte mais significativo para explicar a redução nos últimos dois anos do número de pessoas no mercado de trabalho nas regiões metropolitanas pesquisadas pela PME é o da faixa etária.

Entre dezembro de 2012 e dezembro de 2014 o contingente de pessoas de 10 a 14 anos no mercado de trabalho das regiões metropolitanas, ocupadas ou procurando ocupação, caiu a menos da metade (-51,3%). Entre adolescentes e jovens a redução também foi expressiva, de 27,9% para a população de 15 a 17 anos e queda de 10,8% para a faixa etária entre 18 a 24 anos.

O Gráfico 2 apresenta a taxa de atividade (PEA/PIA) nos meses de dezembro de 2003 e de 2012 a 2014. Dois fatos chamam a atenção: em primeiro lugar, entre os mais jovens, nas faixas etárias de 10 a 14 anos e de 15 a 17 anos, a parcela das pessoas que participa do mercado de trabalho vem caindo de forma contínua desde 2003; em segundo lugar, entre as pessoas de 18 e 24 anos a taxa de atividade se manteve relativamente estável entre dezembro de 2003 e dezembro de 2012 (com alguma oscilação em alguns anos), mas apresentou redução expressiva nos últimos dois anos.

A queda da taxa de atividade entre as pessoas de 10 a 14 anos resulta de um duplo esforço do país: reduzir o trabalho infantil e buscar a universalização do ensino fundamental. A queda acentuada da taxa de atividade entre as pessoas de 15 a 17 anos pode ser atribuída em parte à decisão de adiar a entrada no mercado de trabalho para dedicar-se ao estudo por mais anos.

Mais intrigante é a redução na taxa de atividade dos jovens entre 18 e 24 anos. Alguns especialistas têm afirmado que, frente ao mercado de trabalho menos aquecido, uma parcela deles teria desistido de procurar ocupação; outros assinalam que eles têm buscado oportunidades de qualificação em cursos técnicos e profissionalizantes que tiveram grande incremento de oferta nos últimos anos. Esses dois fatores também ajudariam a explicar o recuo mais acentuado em 2013 e 2014 na taxa de atividade também das faixas de 10 a 14 anos e de 15 a 17 anos.

A taxa de atividade também recuou na faixa etária de 50 anos ou mais e se encontra estabilizada entre as pessoas de 25 a 49 anos.



Fonte: IBGE-PME


 Publicado no Jornal da Cidade, em 01 de fevereiro de 2015

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