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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O Balanço de Pagamentos de 2014


Ricardo Lacerda

Em 2014, o balanço de pagamentos do Brasil registrou saldo positivo de US$ 10,8 bilhões, que é a diferença entre os recursos que entraram e saíram no país ao longo do ano, revertendo o sinal negativo de 2013, no montante de US$ 5,9 bilhões.

Nos últimos vinte anos (1995-2014), o Brasil somente apresentou déficit em suas transações externas em cinco vezes, sendo quatro delas entre 1997 e 2000, além do já referido ano de 2013.

Depois de 2006, o Brasil passou a registrar superávits muito elevados nas contas externas, formados graças ao desempenho das nossas exportações e da massiva entrada de capital em busca de oportunidades  de investimentos no país, além dos recursos atraídos pelos elevadíssimos rendimentos das aplicações financeiras. Foram esses saldos acumulados ao longo dos anos que propiciaram a formação de resevas externas de US$ 374,1 bilhões com que contamos atualmente, sem as quais o país já teria soçobrado nas intempéries que marcam o comportamento da economia mundial nos últimos sete anos.

Desde 2012, todavia, o balanço de pagamentos brasileiro vem passando por um processo acelerado de deterioração nos seus resultados, fruto não da perda de atração de capital para investir no pais e sim  do encolhimento até a reversão de positivo para negativo do saldo da balança de comercial e do grande alargamento do déficit na conta de serviços.

Saldo de 2014

O saldo positivo do balanço de pagamentos externos resultou da entrada de US$101,78 bilhões de recursos da conta de capital (já somados aos erros e omissões), que registra grosso modo as operações de crédito e os fluxos decorrentes de investimentos do país com o resto do mundo e a saída líquida de US$ 90,95 bilhões na conta de transações correntes, em que são contabilizados os fluxos de recursos decorrentes das vendas e compras de bens e serviços com exterior e dos fluxos de pagamento de juros e lucros.

Na comparação entre 2013 e 2014,  a conta de transações correntes ampliou o seu déficit, mas o incremento da entrada líquida de recursos na conta de capital mais do que compensou a piora na conta de transações correntes, em quantidade suficiente para passar de uma situação de déficit no balanço de pagamentos para obter o resultado positivo em 2014 (ver Tabela). Em termos práticos, ampliamos a quantidade de poupança financeira e real do exterior para cobrir as nossas necessidades de importação de bens e serviços.  

2008-2011 Serviços e bens

No período 2003-2007, o desempenho muito favorável de nossas exportações de bens permitiu que fossem acumulados US$ 45 bilhões em saldo na conta de transações correntes, mais do que compensando o expressivo déficit na conta de serviços. Tais recursos somados a entrada de capital em forma de investimentos, empréstimos e aplicações financeiras propiciaram a formação de saldo de US$ 133 bilhões no balanço de pagamentos brasileiros.

Depois que a crise se instalou na economia internacional no último trimestre de 2008, a balança comercial continuou cumprindo um papel importante nas contas externas brasileiras, ainda que substancialmente inferior ao do período precedente. Enquanto a média anual do superávit das exportações de bens em relação às importações atingiu US$ 37,9 bilhões entre 2003 e 2007, este permaneceu positivo mais baixou para o patamar de US$ 25 bilhões entre 2008 e 2011.

Nesse período, a reversão de resultado positivo para negativo  na conta de transações correntes se deveu, todavia,  principalmente à forte ampliação do saldo negativo no balanço de serviços e rendas, notoriamente na parte de serviços cujos déficits anuais médios saltaram de  US$ 8,2 bilhões, entre 2003 e 2007, para US$ 26 bilhões no período 2008-2011. Quais serviços? Principalmente viagens e turismo e alugueis de equipamentos na cadeia de petróleo e gás e para outros investimentos.

Ainda assim o balanço de pagamentos do Brasil se manteve em uma situação relativamente confortável nesse último período, mesmo com o déficit de transações tendo se ampliado em ritmo acelerado. Na comparação entre 2008 e 2011, o déficit em transações correntes saltou de US$ 28,2 bilhões para US$ 52,5 bilhões.


Tabela: Balanço de Pagamentos do Brasil. Médias anuais 2003-2007, 2008-2011 e resultados anuais de 2013 e 2014.
Em US$ milhões.
Discriminação
Médias anuais
2013
2014
2003-2007
2008-2011
2012-2014
I- TRANSAÇÕES CORRENTES
9.007
-38.060
-75.435
-81.108
-90.948
Balança comercial (FOB)
37.925
25.016
5.955
2.399
- 3.930
Exportação de bens
117.265
202.223
236.571
242.034
225.101
Importação de bens
-79.340
- 177.207
- 230.616
-239.634
- 229.031
Serviços e rendas (líquido)
- 32.517
-66.438
-84.101
-86.874
- 88.941
Serviços
-8.155
- 26.175
-45.602
-47.096
-48.667
Rendas
-24.362
-40.263
-38.500
-39.778
-40.273
Transferências unilaterais
3.599
3.362
2.712
3.366
1.922
II- CONTA CAPITAL E FINANCEIRA
18.846
78.238
81.276
74.245
99.572
Investimento direto
9.784
41.310
67.206
67.491
66.035
III- ERROS E OMISSÕES
- 1.231
-838
2.095
936
2.209
IV- SALDO DO BALANÇO
26.623
39.339
7.935
- 5.926
10.833
Fonte: Banco Central do Brasil.

2012-2014: bens e serviços

Foi depois que a crise internacional voltou a se agravar de 2011 em diante que as contas externas brasileiras foram mais impactadas, como é possível constatar nos resultados referentes aos últimos três anos.

Do ponto de vista da conta de transações correntes, o déficit médio anual saltou dos US$ 38 bilhões do período 2008-2012 para mais de US$ 70 bilhões entre 2012 e 2014, como resultado combinado da forte retração do saldo da balança comercial para uma média anual de cerca de US$ 6 bilhões, frente aos US$ 25 bilhões do período anterior, enquanto os desembolsos líquidos com serviços saltaram dos US$ 26 bilhões médios anuais para os notáveis US$ 45,6 bilhões da média anual entre 2012 e 2014. Ou seja, a deterioração do saldo comercial implicou perdas de cerca de US$ 57 bilhões nesse último período, e a conta de serviços, uma perda adicional de US$ 58 bilhões. Quais serviços? novamente viagens e passagens e aluguel de equipamentos.


Publicado no Jornal da Cidade, em 22/02/2015

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

O consumo em 2014 e em 2015

Ricardo Lacerda

As vendas no comércio em 2014 continuaram crescendo à velocidade superior ao do PIB. O volume de vendas no comércio varejista no Brasil cresceu 2,2% em 2014, enquanto a nossa economia deve ter apresentado crescimento próximo a zero. Todavia, quando se considera o varejo ampliado, o que inclui as vendas de automóveis, motocicletas e peças e as de material de construção, o volume de vendas se retraiu 1,7%. As vendas do segmento de automóveis, motos etc caíram 9,4%.

O crescimento do volume de vendas no varejo de 2014 foi o menor desde 2003 (ver Gráfico), quando havia recuado 3,7% em uma sequencia de queda de três anos (2001-2003), enquanto a  retração do varejo ampliado em 2014 é a primeira na série histórica do IBGE iniciada em 2003.


Fonte: IBGE. PMC

Fim de um ciclo

O desempenho ruim das vendas do comércio no ano passado é o resultado mais concreto de que o ciclo de expansão puxado pelo consumo, que dava mostras de que estava perdendo folêgo nos últimos anos, atingiu o limite de suas possibilidades. Quando forem publicadas as contas nacionais do último trimestre de 2014, certamente o crescimento do consumo das famílias mostrará ainda resultado anual positivo, enquanto o PIB terá andado de lado.

Não há, todavia, que se extrair ilações moralistas do episódio, de que o crescimento do consumo por um longo período é sempre insustentável. Fica insustentável quando não é acompanhado pela expansão do investimento e do comércio exterior, como vem acontecendo depois de 2008 e mais acentuadamente após o cenário externo voltar a se deteriorar em 2011 e, novamente, em 2013.

Um ciclo de crescimento liderado pela expansão do comércio exterior que não fosse acompanhado pela ampliação do consumo interno e pela formação de capital (investimento) ou ainda liderado pelo investimento que não fosse seguido pelos incrementos de consumo e do comércio exterior, por outros motivos, logo encontraria seus limites.

Como a expansão do consumo interno não foi suficiente para influenciar as decisões de investimento no quantum necessário para compensar a piora das relações externas, e não era razoável esperar que poderia se ignorar os efeitos de uma a crise de enormes proporções  na economia internacional, a expansão do PIB foi sendo solapada: de um lado, as três esferas do governo se defrontaram com a desaceleração da arrecadação que comprometeu a situação das finanças públicas; de outro, agravou-se em uma velocidade impressionante o resultado das contas externas; e ainda há a crise de confiança que se segue nesse cenário, até que chega a hora de dar um freio de arrumação, que já começou.

Perspectivas

O governo vem adotando uma série de medidas para sanear as finanças públicas, o que certamente não vai favorecer a expansão do consumo em 2015. Os cortes nos subsídios implícitos nas tarifas de energia elétrica e nos preços dos combustíveis, ao lado da elevação dos tributos e dos juros, quando a economia já não cresce reduzem a renda disponível e a capacidade de endividamento das famílias. Inevitavelmente, a evolução do consumo vai ser bastante restrita em 2015.

A discriminação por atividades de varejo mostra como, salvo aluns segmentos bem específicos e de peso não muito elevado no conjunto do setor, as vendas apresentaram desempenho bem modestos em 2014, desde as vendas de alimentos, calçados e combustíveis, mais associados à renda corrente das famílias, até as vendas de  bens duráveis de consumo, como veículos, móveis e eletrodomésticos,  mais dependentes das condições de crédito. Apenas as atividades de venda de artigos farmacêuticos e cosméticos e de outros artigos pessoais registraram crescimento robusto (ver Tabela).



Tabela. Crescimento do Volume de Vendas no Comércio em 2014 (%)
COMÉRCIO VAREJISTA
2,2
Combustíveis e lubrificantes
2,6
Hiper, supermercados, prods. alimentícios, bebidas e fumo
1,3
Tecidos, vest. e calçados
-1,1
 Equip. e mat. para escritório informatica e comunicação
-1,7
Livros, jornais, rev. e papelaria
-7,7
Outros arts. de uso pessoal e doméstico
7,9
Móveis
0,5
Eletrodomésticos
0,9
Artigos farmaceuticos, med., ortop. e de perfumaria
9,0
COMÉRCIO VAREJISTA AMPLIADO
-1,7
Veículos e motos, partes e peças
-9,4
 Material de Construção
0,0
Fonte: IBGE. PMC


 Publicado no Jornal da Cidade em 15/02/2015

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

A produção industrial em 2014

Ricardo Lacerda

A produção industrial recuou 3,2% em 2014. Não é pouca coisa. Na série histórica iniciada em 2002 somente a retração de 2009 foi mais acentuada. Ainda que a redução da produção tenha sido bem mais intensa no segmento de bens de capital e bens duráveis de consumo, especialmente nas atividades vinculadas à indústria automobilística, ela foi muito disseminada atingindo também os segmentos de insumos e de bens não duráveis de consumo. A retração atingiu 20 dos 26 ramos industriais considerados. Entre as principais atividades industriais do país, apenas a produção de petróleo e a de bebidas apresentaram crescimento em 2014.

A retração industrial em 2014 é na verdade apenas um capítulo na trajetória de dificuldades que o setor enfrenta desde que a crise financeira internacional se instalou em 2008.

Estagnação

Em uma perspectiva de prazo mais longo, a atividade industrial vem perdendo peso na estrutura produtiva do país desde meados dos anos oitenta, mas é de 2008 em diante que a evolução do setor tem sido especialmente dramática, com altos e baixos em torno de uma trajetória de estagnação. A produção industrial caiu 7,1%, em 2009, se recuperou em 2010, com crescimento de 10,2%, e a partir de meados de 2011 entrou em trajetória declinante alternando quedas e recuperações parciais.

O Gráfico 1 ilustra a trajetória da produção industrial no acumulado de doze meses, igualando-se a 100 o valor de setembro de 2008. Depois do início da crise internacional, a produção industrial somente retomou o patamar anterior no último trimestre de 2010. Desde então ela veio oscilando em torno desse patamar, sem conseguir deslanchar um novo período de crescimento robusto e desde abril de 2014 vem caindo mês a mês e faz isso de forma pronunciada.


Fonte: IBGE-PIM

Fatores

Certamente, a questão da perda de competitividade do setor industrial brasileiro é muito complexa envolvendo diversos fatores explicativos. Há aspectos de natureza mais estrutural vinculados à formação de cadeias globais de produção, a ascensão da China e de países ancilares do extremo oriente como principal polo mundial de manufaturas, de mudanças relativas ao progresso técnico e à capacidade de inovação e como eles afetam os padrões de consumo e de preferências em escala mundial. Há quem aponte aspectos atinentes ao chamado custo Brasil, abrangendo as deficiências de nossas infraestruturas, a elevada carga tributária e o limitado grau de abertura de nossa economia.

Há, todavia, outros aspectos mais comezinhos que afetam diretamente os preços relativos dos bens produzidos internamente frente aos preços externos que, entendo, precedem os demais e que estão na raiz das dificuldades enfrentadas pelo setor industrial brasileiro. São esses aspectos que explicam em parte porque o Brasil não tem participado mais efetivamente das tais cadeias produtivas globais, ficando de fora do radar das grandes redes de produção e distribuição.

Esses aspectos cumprem um papel importante na perda de competitividade industrial do país e contribuíram para a rápida deterioração do setor durante esse período de vigência da crise mundial. O fato é que desde meados dos anos noventa, os governos têm optado por incentivar o consumo e desestimular a produção. Fazem isso, recorrentemente, mantendo nossa moeda valorizada por longos períodos, algumas vezes de forma artificial, nos anos noventa, e em outros períodos por conta de ondas de valorização das cotações internacionais de nossas principais commodities que asseguram um forte influxo de moedas externas, causando a chamada doença holandesa. 

Com isso, os produtos importados se tornam mais baratos e a produção interna menos competitiva tanto no mercado doméstico quanto no mercado externo, tal qual se expressa na evolução da cesta de moeda do nosso comércio exterior medida pelos salários internos (ver Gráfico 2).


Fonte: Banco Central do Brasil.

Populismo cambial

Na segunda metade dos anos noventa o Brasil aceitou subsidiar o consumo interno por meio de importações com câmbio fortemente desvalorizado, pelo menos até a débacle cambial ao final de 1998 (ver Gráfico 2). Nesse período, os déficits na balança comercial eram cobertos pela entrada de capitais especulativos atraídos por taxas de juros recordes, pela venda dos ativos das empresas estatais e com a finalidade de ocupar os espaços deixados pelo capital nacional em uma série de segmentos que foram desestruturados e/ou desnacionalizados.

A partir de 2004 o câmbio foi desvalorizado, na primeira etapa, como resultado de uma típica doença holandesa, em que os superávits comerciais assegurados pelo desempenho extraordinário das commodities agrícolas e minerais. Como é típico nesses processos, as demais atividades produtoras de bens comercializáveis, sujeitas à concorrência externa, perdem competitividade no mercado interno e no mercado externo.

Depois de 2011, os preços de nossas commodities começaram a despencar e o saldo da balança comercial brasileira começou a encolher, até ficar negativo em 2014. Ainda assim, o governo resistiu a desvalorizar nossa moeda/valorizar o câmbio na magnitude necessária para realizar o ajuste, receoso do impacto que teria nos preços e na produção interna, no primeiro momento. Ou seja, o efeito doença holandesa expirou desde 2011, mas o câmbio, apesar da valorização nos últimos dezoito meses, não foi posicionado no patamar necessário para reequilibrar preços internos e preços externos. Isso vai ser inevitável. A questão central é o ritmo, a urgência e a intensidade em que vai ser feito.


Publicado no Jornal da Cidade, em 08/02/2015 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A taxa de desocupação em 2014


Ricardo Lacerda

O mercado de trabalho brasileiro passou por transformações extraordinárias em pouco mais de dez anos de melhoria contínua. Não teria a menor credibilidade aquele  que afirmasse no inicio da década passada que a taxa de desocupação nas regiões metropolitanas cairia para o patamar de 5% ou menos por um longo período de anos.

O número de pessoas sem ocupação nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE (RM de Recife, RM de Salvador, RM de Belo Horizonte, RM do Rio de Janeiro, RM de São Paulo e RM de Porto Alegre) caiu de dois milhões, trezentos e catorze mil pessoas, em dezembro de 2003, para menos da metade, um milhão e cinquenta e um mil pessoas, em dezembro de 2014. 

A taxa média de desocupação das regiões metropolitanas pesquisadas no mês de dezembro de 2014 atingiu 4,3%, a mesma de dezembro de 2013, as duas mais baixas da série histórica para o mês, quando em dezembro de 2013 havia sido de 10,9% (ver Gráfico 1).

Ainda que a queda espetacular, não há outro adjetivo mais adequado para caracterizar o que aconteceu, da taxa de desocupação tenha sido, sem a menor dúvida, a mais significativa das transformações do mercado de trabalho brasileiro, outras melhorias também foram muito importantes, como a elevação da escolaridade das pessoas ocupadas e a sua contrapartida, a redução em termos absolutos e relativos da ocupação infantil e de adolescentes e jovens.



Fonte: IBGE-PME

Taxa de Atividade

Nos dois últimos anos verificou-se um fenômeno que tem intrigado os especialistas. A taxa de desocupação medida pela Pesquisa Mensal de Emprego não se elevou mesmo quando o número de pessoas ocupadas nas regiões metropolitanas pesquisadas permaneceu estabilizado, de fato ter apresentado um ligeiro declínio de 0,5% na comparação entre dezembro de 2014 e dezembro de 2013 e desse último em relação a dezembro de 2012.

A resposta se encontra no comportamento das pessoas mais jovens em relação ao mercado de trabalho.  A Pesquisa Mensal do Emprego estima que o número de pessoas de 10 anos ou mais aptas a trabalhar teria aumentado cerca de 1,2% ao ano entre dezembro de 2012 e dezembro de 2014, enquanto o número delas que estava ocupada ou procurou trabalho no período diminuiu em 1,2%. Ou seja, tem mais pessoas em idade de trabalhar, integrando a chamada População em Idade Ativa (PIA) mas um número menor delas se encontra ocupada ou procurando emprego, ou seja, faz parte da População Economicamente Ativa (PEA), o que configura uma menor oferta de mão de obra no mercado de trabalho.

Enfim, de um lado a demanda por trabalho manteve-se estabilizada, com um muito ligeiro declínio, e a oferta de trabalho registrou uma queda.

A taxa de atividade mede exatamente a relação entre o quantitativo de pessoas de 10 anos ou mais que formam a PEA, e que portanto se encontram no mercado de trabalho, ocupadas ou não, e o total de pessoas existentes nessa faixa etária. Entre dezembro de 2012 e dezembro de 2014, essa relação caiu de 57,8% para 55,7%, ou seja 2,1 pontos percentuais. Quem são essas pessoas que deixaram ou não entraram no mercado de trabalho.

Faixa etária

O recorte mais significativo para explicar a redução nos últimos dois anos do número de pessoas no mercado de trabalho nas regiões metropolitanas pesquisadas pela PME é o da faixa etária.

Entre dezembro de 2012 e dezembro de 2014 o contingente de pessoas de 10 a 14 anos no mercado de trabalho das regiões metropolitanas, ocupadas ou procurando ocupação, caiu a menos da metade (-51,3%). Entre adolescentes e jovens a redução também foi expressiva, de 27,9% para a população de 15 a 17 anos e queda de 10,8% para a faixa etária entre 18 a 24 anos.

O Gráfico 2 apresenta a taxa de atividade (PEA/PIA) nos meses de dezembro de 2003 e de 2012 a 2014. Dois fatos chamam a atenção: em primeiro lugar, entre os mais jovens, nas faixas etárias de 10 a 14 anos e de 15 a 17 anos, a parcela das pessoas que participa do mercado de trabalho vem caindo de forma contínua desde 2003; em segundo lugar, entre as pessoas de 18 e 24 anos a taxa de atividade se manteve relativamente estável entre dezembro de 2003 e dezembro de 2012 (com alguma oscilação em alguns anos), mas apresentou redução expressiva nos últimos dois anos.

A queda da taxa de atividade entre as pessoas de 10 a 14 anos resulta de um duplo esforço do país: reduzir o trabalho infantil e buscar a universalização do ensino fundamental. A queda acentuada da taxa de atividade entre as pessoas de 15 a 17 anos pode ser atribuída em parte à decisão de adiar a entrada no mercado de trabalho para dedicar-se ao estudo por mais anos.

Mais intrigante é a redução na taxa de atividade dos jovens entre 18 e 24 anos. Alguns especialistas têm afirmado que, frente ao mercado de trabalho menos aquecido, uma parcela deles teria desistido de procurar ocupação; outros assinalam que eles têm buscado oportunidades de qualificação em cursos técnicos e profissionalizantes que tiveram grande incremento de oferta nos últimos anos. Esses dois fatores também ajudariam a explicar o recuo mais acentuado em 2013 e 2014 na taxa de atividade também das faixas de 10 a 14 anos e de 15 a 17 anos.

A taxa de atividade também recuou na faixa etária de 50 anos ou mais e se encontra estabilizada entre as pessoas de 25 a 49 anos.



Fonte: IBGE-PME


 Publicado no Jornal da Cidade, em 01 de fevereiro de 2015