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domingo, 13 de abril de 2014

Indústria em Sergipe nos anos noventa- Parte 1




Ricardo Lacerda

Depois do ciclo de investimentos em grandes plantas industriais que marcaram o crescimento econômico dos anos setenta e oitenta, em que foram implantadas a Nitrofértil, o projeto Taquari-Vassouras de produção de potássio e a Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN), a indústria de Sergipe desacelerou o seu crescimento e encerrou o período de instalação de grandes projetos estatais para exploração de sua base de recursos minerais.
Seguiu-se uma fase de baixo crescimento e de reduzida transformação da matriz industrial, explicada, por um lado, pelo próprio encerramento do ciclo de investimentos de empresas estatais no país e, por outro, pelos crescentes desequilíbrios macroeconômicos que desorganizavam a economia brasileira.
O episódio de maior tensão e angústia foi quando do anúncio, no governo Collor, do fechamento da Petromisa (1991), com o risco de desmobilização do projeto Taquari-Vassouras, depois revertido via transferência da exploração do potássio à Companhia Vale do Rio Doce, antes de sua desestatização.
Baixa

Os anos noventa também não foram  favoráveis à expansão da exploração de petróleo e gás natural em Sergipe. A década foi marcada por um profundo vale nas cotações internacionais do barril de petróleo que desmotivou a realização de investimentos no setor em Sergipe, sejam na perfuração de novos poços, sejam na manutenção e exploração dos poços já existentes, enquanto o interesse da Petrobras voltou-se para as bacias sedimentares em águas profundas no litoral fluminense. Foi um período de grande desânimo em relação às perspectivas de exploração de petróleo e gás em nosso estado.

A indústria sergipana somente conheceria uma nova etapa de expansão industrial, mesmo assim bem mais modesta e com características muito diversas do ciclo anterior, na segunda metade dos anos noventa, quando o Programa Sergipano de Desenvolvimento Industrial (PSDI), criado em 1991, começou a mostrar efetividade na atração de empresas privadas de diferentes portes e em segmentos diversos, no âmbito da chamada guerra fiscal entre os estados da federação.

O investimento mais expressivo dos anos noventa foi a construção da hidroelétrica de Xingó, no rio São Francisco, iniciada em 1987 e que viria a ser inaugurada ao final de 1994. Do ponto de vista da indústria de transformação, reinou quase sozinha, como o principal investimento de grande porte, a implantação da fábrica de cerveja da Ambev, no município de Estância.


Reestruturação produtiva

Um aspecto decisivo na trajetória da indústria sergipana dos anos noventa foi o impacto da exposição à competição com os importados sobre sua estrutura industrial, muito particularmente no setor têxtil, que foi potencializado pela intensa valorização cambial após a implantação do Plano Real em 1994.

A atividade têxtil no estado, que remonta à segunda metade do século XIX, sofreu um impacto desestruturador. Algumas empresas ainda lograram promover uma importante modernização, com a importação de equipamentos mais atualizados e forte redução no número de empregados, mas no conjunto o setor encolheu, de tal forma que o número de unidades fabris com mais de 500 empregos passou de oito, em 1990, dentre as quais seis com mais de 1.000 empregados e duas entre 500 e 1.000 funcionários, para apenas uma com mais de 500 empregos, no ano de 2000. As demais haviam fechado, ou feito um importante downsizing, passando a empregar menos de 500 pessoas.

Para o conjunto da indústria geral, que agrega a indústria de transformação e a indústria extrativa mineral, levantamento com base na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego aponta que o número de empresas grandes, com 500 ou mais empregados, caiu de onze, em 1990 para seis, em 2000.

Guerra fiscal

Já se inicia, por outro lado, o movimento de relocalização de indústrias calçadistas e têxteis das regiões Sul e Sudeste para os estados nordestinos como resposta à competição com importados e Sergipe recebe alguns desses investimentos.

Ao longo dos anos noventa, presenciou-se uma importante multiplicação de pequenos empreendimentos industriais nos segmentos de alimentos, confecção, móveis, gráficas, metalúrgicas e minerais não metálicos, movimento que tende a acompanhar a expansão urbana. Observe-se que o número de unidades produtivas da indústria geral de porte médio ou grande de 1990 é o mesmo de 2000, trinta e oito. Os microempreendimentos industriais quase que dobraram e os empreeendimentos de pequeno porte tiveram uma expansão de 52%. No conjunto, não foi um desempenho digno de nota favorável.


Tabela: Número de Estabelecimentos Formais da Indústria Geral de Sergipe. 1990 e 2000.
PORTE DOS ESTABELECIMENTOS
1990
2000
Número
Participação (%)
Número
Participação (%)
Micro (Até 19 empregados)
541
81,0
1.039
85,7
Pequeno (20 a 99 empregados)
89
13,3
135
11,1
Médio (100 a 499 empregados)
27
4,0
32
2,6
Grande (500 ou + empregados)
11
1,6
6
0,5
Total
668
100
1.212
100
Fonte: MTE- RAIS


Publicado no Jornal da Cidade, 13/04/2014 

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