Ricardo Lacerda
Na quinta-feira da semana que se inicia,
dia 27 de fevereiro, a poucos dias do feriado de carnaval, quem acompanha
conjuntura econômica direcionará suas expectativas para eventos menos lúdicos. Nesta
data, o IBGE anunciará o PIB do último trimestre de 2013 e, por conseguinte, o
resultado do PIB anual.
A estimativa mais recente do relatório
Focus (de 14/02/2014) cravou crescimento de 2,2% para o PIB de 2013.
Mais importante do que a taxa anual de
2013, em qualquer hipótese bem superior ao 1% de 2012, o resultado a ser
anunciado vai confirmar que a retomada do crescimento da economia brasileira
que se iniciara em meados de 2012 foi interrompida, ou mesmo sofreu uma
reversão no segundo semestre do ano passado.
IBC-BR
O Índice de Atividade Econômica do
Banco Central (IBC-BR), publicado duas semanas atrás, estimou crescimento de
2,5% para 2013. O Gráfico 1 apresenta a evolução da taxa de crescimento do
IBC-BR em doze meses e da taxa semestral, em relação ao mesmo período do ano
anterior. Na série de doze meses, o IBC-BR de dezembro de 2013 apresentou o
mesmo resultado de setembro, indicando que a retomada do crescimento do nível
de atividade da economia brasileira, que vinha ocorrendo desde o primeiro
trimestre de 2013, foi interrompida no final do ano passado.
A evolução da taxa de crescimento
semestral (apresentada na linha dupla sem marcador), em relação ao mesmo
semestre do ano anterior, revela não apenas a interrupção da retomada, como um
fenômeno mais preocupante, a desaceleração do crescimento no final do ano,
revertendo uma trajetória de recuperação que havia se iniciado em meados de
2012.
Fonte: Banco Central do Brasil
O PIB
O Gráfico 2
apresenta séries similares às do gráfico anterior, agora para as taxas de
crescimento do PIB semestral e em doze meses. Os resultados do 4ª trimestre de
2013 são estimativas do relatório Focus, que poderão ou não ser confirmados na
próxima quinta-feira.
As séries
semestral e em doze meses do PIB indicam piora um pouco mais acentuada do que
as correspondentes do IBC-BR. Em doze meses acumulados, o PIB de dezembro
deverá apresentar taxa de crescimento ligeiramente inferior a de setembro
passado, mas a série semestral apontará a continuidade de desaceleração muito
acentuada no crescimento desde o início do segundo semestre de 2013.
Perspectivas
Frente à desaceleração/estagnação do
nível de atividade no segundo semestre de 2013, as expectativas de mercado não
estão muito otimistas em relação ao crescimento de 2014, projetando-se taxa de 1,79%.
Para efeitos de orçamento, o governo federal reviu a projeção de 2014 para
2,5%.
A evolução ruim no segundo semestre de
2013 dissipou todas as dúvidas de que a economia brasileira enfrenta
dificuldades em sua dinâmica de crescimento e de que é muito difícil remar
contra maré, quando a economia mundial encontra-se submergida na grande
recessão. Recorrentemente, em tais situações, o aumento das restrições externas
e a desaceleração da arrecadação pública, limitam a adoção de medidas
anticíclicas. É difícil discordar que o patamar atual de consumo não cabe no PIB
brasileiro, como demonstram os crescentes saldos negativos na conta corrente
com o exterior.
Fonte: IBGE. Contas Nacionais
Trimestrais.
Obs: * As taxas de 2013IV são
estimativas do Relatório Focus, do Banco Central, de 14/02/2014
Muito se discute
sobre os erros na condução da política econômica. O mercado exige, além de
transparência, ajuste nas contas públicas, entendendo que o ciclo de elevação
de juros está se aproximando do fim. O governo cede, mas entrega ao mercado o
mínimo que lhe é facultado, receoso dos efeitos recessivos de tais medidas e de
suas implicações políticas. Aposta que, reconquistada a confiança dos
investidores, é possível fazer a travessia da crise financeira internacional
com menos custo social e que os investimentos retomarão gradualmente, diante
das imensas oportunidades que o Brasil oferece.
Publicado no Jornal da Cidade, em 23/02/2014