Praça São Francisco, São Cristovão- SE

Praça São Francisco, São Cristovão- SE
Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

A economia brasileira em 2013- Parte 2


Ricardo Lacerda

A economia brasileira vai encerrar o ano de 2013 com um pouco mais de um milhão de novos empregos com carteira assinada. A taxa de desocupação nas regiões metropolitanas atingiu 4,6% em novembro, a mais baixa na nova série histórica iniciada em 2002. Os rendimentos reais dos trabalhadores continuam crescendo e a massa de rendimento real habitual dos ocupados cresceu 2,3%, em relação a novembro do ano passado, ainda que o total de pessoas ocupadas, na soma dos mercados formal e informal, tenha parado de crescer.

Alguns indicadores macroeconômicos, todavia, sinalizam dificuldades em retomar o crescimento econômico em um ritmo mais robusto de forma sustentável. O Banco Central publicou na semana passada o Relatório da Inflação de dezembro de 2013. Trata-se de um uma publicação trimestral do Comitê de Política Monetária (Copom) criada em 1999 para acompanhar o desempenho do regime de metas de inflação. O relatório visa explicitar para o mercado e para especialistas o cenário internacional e nacional considerado pelo Copom nas suas decisões referentes à condução da política monetária, mais especificamente, em suas decisões em relação às taxas básicas de juros da economia. O relatório poder ser acessado no link http://www.bcb.gov.br/htms/relinf/port/2013/12/ri201312P.pdf .

2013

O relatório de dezembro reviu para baixo a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2013 do relatório anterior, de setembro, de 2,5% para 2,3%.  É importante registrar que em 2012 o crescimento do PIB se limitou a 1% e que, portanto, a economia em 2013 deve apresentar uma recuperação moderada e abrangente do nível de atividade, ainda que em patamar abaixo do que se esperava quando o ano começou.

A evolução mais favorável é o do setor agropecuário que reverterá o resultado negativo do ano anterior (-2,1%), com projeção de 7,5% em 2013 que, caso confirmada, será o mais elevado resultado anual da série histórica iniciada em 1996. O crescimento setor industrial para 2013 está projetado para 1,3%, frente à redução de 0,8% em 2012.  

A indústria de transformação vai deixar para trás uma queda de 2,4% em 2012 para crescer 1,4%, em 2014. Ainda assim, deverá terminar o ano com o mesmo nível de produção de 2008, indicando o grau de dificuldade que o setor vem enfrentando desde o início da crise financeira internacional. Para se ter uma ideia de que como a crise internacional impactou a nossa indústria de transformação é suficiente observar que o índice de produção física acumulado em doze meses em setembro de 2008 é ainda ligeiramente superior ao de outubro de 2013.

O setor de serviços deve praticamente repetir em 2013 a taxa de crescimento do ano anterior, 2,0% e 1,9%, respectivamente, com a particularidade de que o comércio e o setor financeiro ganharam algum fôlego e o setor governo deverá crescer menos do que no ano anterior.  

O setor externo, abrangendo as exportações e importações de bens e serviços, teve um desempenho muito desfavorável em 2013, de tal forma que o vazamento adicional de demanda nas relações externas correspondeu à perda de 1% no crescimento do PIB.

Em relação à evolução dos preços, o relatório trimestral projeta o fechamento do ano com o IPCA atingindo 5,8%, mesmo resultado do ano anterior. O aspecto positivo é de que o IPCA acumulado em doze meses vem caindo desde o início do segundo semestre, mas a custa principalmente da compressão dos preços administrados pelo governo. Os preços livres, sejam de produtos comercializáveis (que sofrem competição com os importados) quanto de não comercializáveis, apesar de virem desacelerando, se mantêm em patamar de muito elevado.

A deterioração do setor externo foi acelerada. A balança comercial deverá fechar o ano com superávit de apenas US$ 2 bilhões, frente aos US$ 19 bilhões de 2012, e a conta de transações correntes deverá saltar de um déficit de US$ 54,2 bilhões, em 2012, para um déficit projetado de US$ 79 bilhões em 2013 (ver Quadro). É possível concluir que os indicadores do crescimento, inflação e relações externas apontam que a retomada na taxa do crescimento do PIB em 2013 teve impacto não desprezível na evolução dos preços e custo exacerbado nas relações externas.

2014

Como alguns especialistas têm sublinhado, o desempenho da economia brasileira em 2014 não está dado. As projeções do relatório trimestral do BC são de que o PIB deverá estar crescendo 2,3% ao ano ao final do 3º trimestre de 2014, com a indústria de transformação andando de lado nesse período e a atividade comercial apresentando alguma aceleração do crescimento. Os comportamentos do IPCA e dos indicadores externos manteriam o padrão de 2013.

Os indicadores macroeconômicos mostram que algumas tensões e desequilíbrios vêm se acumulando na economia brasileira, refletindo a dificuldade de o país retomar taxas de crescimento mais altas de forma sustentável, quando o cenário externo se mantem ainda muito desfavorável.


Quadro. Indicadores macroeconômicos
Indicadores
2012
2013*
2014*
Crescimento do PIB
1,0%
2,3%
2,3%**
IPCA
5,8%
5,8
5,6%
Balança Comercial (em US$ bilhões)
19,4
2,0
10,0
Saldo em Transações Correntes (em US$ bilhões)
-54,2
- 79
-78
Investimento Direto Estrangeiro (em US$ bilhões)
65,3
63
63
Fonte: IBGE (PIB e IPCA) e Banco Central (relações externas).
Obs* As projeções para 2013 e 2014 são do Relatório da Inflação de dezembro de 2013 do Banco central.
** A projeção do PIB de 2014 refere-se ao acumulado de quatro trimestres no terceiro trimestre de 2014.


Publicado no Jornal da Cidade, em 22/11/2013

­

Nenhum comentário:

Postar um comentário