Ricardo Lacerda
O plebiscito para aprovação da criação de dois novos estados a partir do desmembramento do Pará mobilizou não apenas a população local, como suscitou debates acalorados em todo o país. Do que foi possível captar, a grande maioria daqueles que se manifestaram na grande imprensa ou nas redes sociais era contrária à constituição dos novos estados, percebida ou como esperteza dos políticos para aumentarem os cargos públicos ou como sacrifício das demais unidades da federação, que teriam que sustentar as novas estruturas administrativas.
Tais preocupações são legítimas e encontram fundamento em experiências passadas em que foram criados estados e municípios que não contavam com autonomia financeira para se manter. Mas, um pressuposto geral, frequentemente, é causa de decisões estreitas em que deixam de ser observadas as especificidades das situações. Não é difícil perceber as dificuldades do Pará em ofertar políticas públicas de segurança, saúde, educação e de infraestrutura em um estado que tem dimensão territorial superior a muitos países. Particularmente na região sul do Pará, há uma notória carência de ordem pública. É um quadro, não resta dúvida, em que é necessário aumentar a presença do estado.
Há casos evidentes abusos na criação de municípios em que o estado da Paraíba é um dos exemplos mais nefastos. Com dimensão territorial relativamente modesta, a Paraíba conta com 223 municípios, dos quais 68 tinham, em 2009, menos de cinco mil habitantes e 137, menos de dez mil habitantes. Gerou-se um cenário em que mais de 2/3 dos municípios paraibanos são extremamente dependentes das transferências governamentais: em 158 dos 223 municípios (70,8%), a administração pública, incluindo a seguridade social, respondia por mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB).
Sergipe
Em 2009, doze municípios sergipanos tinham menos de 5.000 habitantes. O menor deles era Amparo do São Francisco, com 2.268 residentes, seguido por Pedra Mole, General Maynard, Telha, São Francisco, São Miguel do Aleixo, Malhada dos Bois, Cumbe, Santa Rosa de Lima, Canhoba, Divina Pastora e Itabi. Com menos de 10 mil habitantes, eram 28 municípios.
O quadro, a seguir, apresenta os vinte municípios de menor PIB e os vinte municípios em que a administração pública, inclusive previdência, tinha maior peso na geração da riqueza. A primeira observação é a de que em 16 dos 75 municípios sergipanos, ou 21,3% do total, a administração pública, inclusive previdência, representava mais da metade do PIB de 2009. Eram, em geral, municípios de menor porte e de pouca tradição industrial que encontram extremas dificuldades para custear a máquina pública e oferecer os serviços de saúde e educação e promover politicas de desenvolvimento local.
Quadro. Sergipe. Os 20 municípios de menor PIB e os 20 municípios de maior participação da Administração Pública, Educação e Saúde públicas e Seguridade no PIB. 2009
| ||||||
Produto Interno Bruto
|
Participação da Administração Pública, Educação e Saúde públicas e Seguridade no PIB
| |||||
Ranking PIB
|
Municípios
|
PIB
(R$ mil)
|
Ranking
|
Municípios
|
Adm. Pub.
(%)
|
Pop. 2009
|
75º
|
Amparo de S. Francisco
|
12.770
|
1 º
|
General Maynard
|
60,7%
|
2.907
|
74 º
|
General Maynard
|
13.834
|
2 º
|
Amparo de S. Francisco
|
59,4%
|
2.268
|
73 º
|
Telha
|
16.042
|
3 º
|
Ilha das Flores
|
56,2%
|
8.906
|
72 º
|
São Francisco
|
16.125
|
4 º
|
Telha
|
55,2%
|
2.969
|
71 º
|
Pedra Mole
|
17.143
|
5 º
|
Pedrinhas
|
54,6%
|
8.709
|
70 º
|
Cumbe
|
21.582
|
6 º
|
Sta. Rosa de Lima
|
54,3%
|
3.996
|
69 º
|
Canhoba
|
21.683
|
7 º
|
Tomar do Geru
|
53,2%
|
13.717
|
68 º
|
Sta. Rosa de Lima
|
21.899
|
8 º
|
Pedra Mole
|
53,1%
|
2.878
|
67 º
|
Malhada dos Bois
|
23.458
|
9 º
|
Canhoba
|
52,9%
|
4.025
|
66 º
|
S. Miguel do Aleixo
|
23.908
|
10 º
|
Macambira
|
52,5%
|
6.554
|
65 º
|
Cedro de São João
|
26.490
|
11 º
|
Santana do S. Francisco
|
52,0%
|
6.861
|
64 º
|
Itabi
|
29.565
|
12 º
|
São Francisco
|
51,3%
|
3.007
|
63 º
|
Macambira
|
29.791
|
13 º
|
Riachão do Dantas
|
50,9%
|
19.588
|
62 º
|
Santana do S. Francisco
|
30.641
|
14 º
|
Cedro de S. João
|
50,9%
|
5.522
|
61 º
|
Gracho Cardoso
|
31.584
|
15 º
|
Indiaroba
|
50,7%
|
18.126
|
60 º
|
Pinhão
|
31.870
|
16 º
|
Malhador
|
50,6%
|
12.124
|
59 º
|
Feira Nova
|
32.150
|
17 º
|
Moita Bonita
|
49,9%
|
11.269
|
58 º
|
N. Sra. de Lourdes
|
32.490
|
18 º
|
Poço Verde
|
49,6%
|
21.882
|
57 º
|
Pedrinhas
|
37.565
|
19 º
|
Salgado
|
48,7%
|
19.101
|
56 º
|
Ilha das Flores
|
38.106
|
20 º
|
São Domingos
|
48,6%
|
10.555
|
Fonte: IBGE. Constas regionais 2009.
O Mapa de Sergipe resume as participações da administração pública (e seguridade) nos PIBs dos municípios, em 2009, destacando nas áreas mais escuras aqueles municípios em que parcelas mais expressivas da riqueza se originaram de recursos públicos, em geral, provenientes de transferências federais.
Há dois caminhos que vêm sendo perseguidos para reduzir a dependência desses municípios da transferência de recursos públicos: a alternativa mais usual é atrair, por meio de incentivos diversos, grandes empresas que possam impulsionar a geração de renda na região; o segundo caminho é fomentar as vocações locais por meio de apoio aos Arranjos Produtivos Locais, de base agropecuária, industrial ou de serviço, buscando uma melhor inserção produtiva. É para esses municípios, que contam com bases produtivas mais limitadas, que as políticas de desenvolvimento econômico de base local devem ser mais orientadas.
Fonte: Extraído e adaptado da publicação IBGE. Produto Interno Bruto dos Municípios: 2005-2009
Publicado no Jornal da Cidade em 25/12/2011
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