Ricardo Lacerda
O agravamento do cenário econômico mundial nas últimas semanas deixou em segundo plano as criticas do ‘mercado’ à decisão do Copom de reduzir a taxa Selic em sua última reunião. A precipitação de notícias ruins sobre as dificuldades na rolagem da dívida soberana da Grécia, os riscos de contaminação de bancos europeus e americanos pelos créditos ruins em carteira, a desaceleração econômica da China, além da queda de braço entre republicanos e democratas que inibe a definição de medidas para ativar a economia americana, geraram um ambiente de forte incerteza na economia mundial, em que a turbulência no mercado de câmbio foi a face mais visível no Brasil.
Relatórios da Fazenda, do Banco Central e a edição de setembro das Perspectivas da Economia Mundial, do Fundo Monetário Internacional, publicados ao longo da semana, que são fontes úteis na compreensão do cenário econômico brasileiro no futuro próximo, podem ter se tornados obsoletos frente aos novos eventos, mas já registram a deterioração do cenário externo nas últimas semanas.
Perspectivas
O relatório do FMI alerta para desaceleração do nível de atividade da economia mundial, para o que contaram tanto fatores previstos na projeção anterior, de junho, quanto fatos que emergiram no período. A recuperação relativamente robusta do nível do comércio e do nível de atividade industrial em 2010 desacelerou-se em 2011. A instituição se diz surpreendida pela demora, nos países avançados, na transmissão de efeitos positivos dos gastos públicos para elevar as demandas das empresas e das famílias.Fatores adicionais da desaceleração decorreram das dificuldades para a superação da crise das dívidas soberanas de países europeus, do impacto dos acidentes climáticos sobre o nível de atividade da economia japonesa e da elevação em cerca de 25% no preço do barris de petróleo associada aos conflitos no Norte da África e Oriente Médio (NAOM).Economias avançadas
Na projeção efetuada em junho, o FMI estimava crescimento do produto mundial de 4,3%, em 2011, e 4,5%, em 2012, quando a taxa de 2010 alcançou 5,1%. A projeção de setembro é de que a economia mundial reduza o crescimento para 4%, em 2011 e em 2012, refletindo a deterioração do cenário nos últimos meses.O produto das economias avançadas, que ensaiava uma recuperação relativamente robusta em 2010, deve registrar forte desaceleração, em 2011, limitando-se a um crescimento de 1,6% e permaneceu com a taxa rebaixada, de 1,9%, em 2012 (ver Gráfico 1). A reversão das expectativas de crescimento em 2011 e 2012, entre as projeções de junho e a de setembro, foi acentuada, encolhendo 0,6% para 2011 e 0,7%, para 2012.
Fonte: IMF.World Economic Outlook. Setembro de 2011.
Economias emergentes
As economias emergentes que, em média, atravessaram com perdas menores os impactos da crise de confiança no sistema financeiro mundial, apresentam cenários menos favoráveis para 2011 e 2012, se comparados aos resultados de 2010. Ainda assim, puxada pelas taxas de crescimento notáveis da China e da Índia, a projeção de crescimento das economias emergentes alcança 6,4% em 2011 e 6,1%, 2012. A projeção para a economia brasileira, no relatório do FMI, é de 3,8%, em 2011, e 3,6%, em 2012 (ver Gráfico 2).Como a presidente Dilma destacou em seu discurso na abertura dos trabalhos da assembleia anual das Nações Unidas, há limites para as economias emergentes seguirem com crescimentos robustos enquanto as economias dos países avançados não superarem as ameaças de estagnação.
Fonte: IMF.World Economic Outlook. Setembro de 2011.Mesmo com esta concentração de notícias ruins, vaticínios sobre a ocorrência de mais um dêbacle da economia mundial, abrindo um novo período de queda do PIB nas economias avançadas ou de incidência de nova crise de confiança no sistema financeiro internacional parecem precipitados, quando se considera a margem de atuação das economias líderes para enfrentar a situação, apesar da falta geral de entendimento sobre o que fazer. As próximas semanas serão ricas em acontecimentos.
Publicado no Jornal da Cidade em 25/09/2011
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