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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A queda da produção industrial brasileira em junho

Ricardo Lacerda


O anúncio da produção industrial de junho de 2011 adicionou mais um ingrediente ao debate relativo aos efeitos da valorização cambial e do repique da crise internacional sobre o setor industrial brasileiro. A produção física do setor industrial caiu 1,6% em relação a maio, na série livre de efeitos sazonais. Na comparação com junho de 2010, o crescimento limitou-se a 0,7%, quando em dezembro de 2010, em relação a dezembro de 2009, alcançou-se a exuberante expansão de 10,3%. A queda de junho, na comparação com maio, foi generalizada, atingindo 20 dos 27 ramos pesquisados.

Desaceleração
A indústria de transformação brasileira iniciou um longo ciclo expansivo em 2004, como é possível observar no gráfico 1, que apresenta o índice de produção física do mês de junho entre 2003 e 2011. Depois de atingir 94,8 em junho de 2003, o índice de produção física alcançou 107,8 , em junho de 2004, iniciando uma trajetória ascendente interrompida em 2009 com a crise de confiança na economia mundial. As medidas de desoneração tributária e de expansão do crédito tiveram os efeitos de retirar rapidamente a economia brasileira da recessão e de impulsionar a produção industrial, fazendo com que, em junho de 2010, o índice tenha voltado ao patamar de 2008.

Em 2011, a atividade industrial desacelerou-se rapidamente, com o que a produção física da indústria de transformação em junho situou-se apenas 0,7% acima do resultado do mesmo mês do ano anterior (ver Gráfico 1).



Fonte: IBGE-PIM

Os dados da produção industrial em junho foram muito ruins, notadamente nos setores de bens de consumo não duráveis e semi-duráveis, como o setor têxtil e o de calçados. Observe-se no gráfico 2, a seguir, que o índice de produção dos setores de bens de consumo não duráveis e semi-duráveis caiu na comparação entre junho de 2010 e junho de 2011. Nos demais segmentos, com exceção do setor de bens de capital que responde com certa defasagem temporal ao crescimento do uso da capacidade produtiva da indústria, a atividade vem se ressentindo da concorrência com os produtos importados que volta a ameaçar com a desarticulação das cadeias produtivas, à exemplo do que ocorreu no ciclo anterior de valorização cambial, na segunda metade dos anos noventa.


Fonte: IBGE-PIM

Importados


Com a economia dos países ricos andando de lado, os mercados emergentes têm sido alvo das economias exportadoras mais agressivas. A política monetária expansionista do governo americano, induzindo a desvalorização do dólar, é mais um ingrediente da guerra cambial em andamento.

Mesmo com o mercado interno ainda aquecido, entre janeiro e maio o volume do comércio varejista cresceu 7,35%, a indústria vem patinando, tendo aumentado a produção apenas em 1,6%, entre janeiro e junho, em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto o volume de produtos industriais importados cresceu 13,7%.

Segundo estimativa efetuada pela LCA Consultores, citada na edição de 03 de agosto do Valor Econômico, no segundo trimestre de 2011 a participação das importações no mercado doméstico de bens industriais atingiu 21,6%. O espaço dos importados no total consumido internamente avançou tanto em setores mais tradicionais, como têxteis, calçados e móveis, quanto cresceu em segmentos da indústria pesada e de bens de consumo duráveis, como nos ramos químicos, automotivos, máquinas e equipamentos e aparelhos e materiais elétricos.


Nova política


O governo respondeu ao novo cenário na economia mundial com uma série de medidas, de curto e longo prazos que combinam instrumentos de estímulo à competitividade da nova política industrial e as intervenções no mercado de câmbio visando interromper a valorização da moeda.

O conjunto de medidas adotadas parece apontar para uma percepção por parte do governo de que o agravamento do cenário mundial, com aumento da instabilidade e com uma trajetória de recuperação muita lenta e arrastando-se por alguns anos ainda, reuqer uma postura mais pragmática, de defesa dos empregos e de preservação de nossa estrutura industrial. Em um cenário que se afasta da normalidade, não cabe fingir que está tudo bem ou que nada pode ser feito, a não ser seguir o mantra de cortar as despesas, repetido à exaustão pelos setores mais ortodoxos.

Publicado no Jornal da Cidade, em 07/08/2011



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