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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A inflação e o preço dos alimentos

Ricardo Lacerda


O governo federal iniciou o ano de 2011 com a adoção de uma série de medidas restritivas na política econômica que, certamente, não tem agradado a população brasileira. A percepção de que a inflação se distancia rapidamente da meta de 4,5% ao ano, acionou o sistema de alerta, fazendo com que o governo tenha respondido com medidas monetárias, de redução da liquidez e de elevação da taxa básica de juros, e medidas fiscais, com anúncios de corte de gastos previstos no orçamento, além de ter adotado uma posição menos flexível nas negociações relativas ao reajuste anual do salário mínimo. Tais atitudes, em conjunto, apontam para a percepção do governo da necessidade de desacelerar o crescimento da economia nesse início de ano.
O IPCA
A meta central de inflação para 2010 e 2011 foi fixada pelo governo federal em 4,50%, com uma margem de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. No acumulado de doze meses completados em janeiro, o Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) atingiu 5,99%. Ainda que dentro da margem, a combinação da aceleração da taxa de inflação nos últimos meses, do forte incremento do consumo e de indicadores de pressão no mercado de trabalho e no nível de capacidade ocupada conformou um cenário de urgência no enfrentamento da questão inflacionária, inclusive para sinalizar, interna e externamente, o compromisso do novo governo com a estabilidade econômica.

Fonte: IBGE- IPCA

Um motivo de preocupação adicional é que a variação nos preços dos alimentos tem sido o principal fator de pressão sobre o IPCA. No acumulado de doze meses, completados em janeiro, o preço da alimentação e das bebidas aumentou 10,42%, quase o dobro do índice geral e quase três vezes o índice acumulado em janeiro de 2010, que havia se situado em 3,56%.

Alguns analistas têm apontado que a pressão inflacionária tem sido sentida também nos preços de bens e serviços não transacionáveis, ou seja, bens e serviços que o consumidor não tem a opção de adquirir de fornecedores situados em outros mercados, como são os casos das despesas pessoais, cujos preços médios subiram 7,42% nos últimos doze meses, os gastos com habitação, 5,33%, e os de saúde e cuidados pessoais, 5,18%.

O gráfico 1, todavia, mostra, sem sombra de dúvidas, que o preço dos alimentos tem sido, de fato, o cerne do problema inflacionário mais recente. Os demais itens praticamente repetiram os números de janeiro de 2010, ainda que alguns venham se mantendo acima da meta para o índice geral.

Alimentos
O preço dos alimentos sofreu forte aceleração a partir de setembro de 2010. Nos acumulado de doze meses de janeiro de 2011, o índice de preços de alimentos consumidos nos domicílios subiu 10,68% e o de alimentação fora dos domicílios teve incremento de 9,9%. O grupo de cereais, leguminosas e oleaginosas aumentou 9,47%, o feijão subiu mais de 30% e o preço da carne, 27%.

A rápida aceleração nos preços dos alimentos tem alguns componentes internos e outros internacionais. Problemas climáticos na Rússia têm causado forte impacto no preço do trigo, e na Índia, sobre o preço do açúcar, que subiu mais de 20% nos últimos doze meses no mercado interno. Mas o fato mais significativo tem sido a retomada do aumento da demanda por alimentos no mercado internacional, puxada pela expansão nos mercados emergentes, com destaque para a China, e no mercado interno.

O gráfico 2 ilustra o comportamento do IPCA-Geral e do IPCA- Alimentação e Bebidas, desde janeiro de 2008. A linha contínua representa a evolução do IPCA-Alimentação e Bebidas, no acumulado de doze meses, e a linha pontilhada a evolução do IPCA- Geral. A partir do segundo trimestre de 2008, o índice de alimentação e bebida, em doze meses, empinou fortemente, até atingir 15,79%, em junho. Nos meses seguintes, com a queda abrupta nas cotações das commodities alimentares por conta da crise internacional, a variação positiva deste índice de preço, em doze meses, chegou a cair para o patamar de 3,19%, em dezembro de 2009.

No primeiro semestre de 2010, o IPCA- Alimentação e Bebidas foi fortemente pressionado pelas inundações em São Paulo e no Rio de Janeiro, mas passou a ter um comportamento mais suave já a partir de junho. Desde setembro de 2010, todavia, este índice entrou em uma trajetória perigosamente ascendente, até atingir os 10,42% já citados, no acumulado de doze meses em janeiro de 2011.

Em parte por problemas climáticos externos, em parte por conta do aquecimento do consumo no mercado interno e no mercado internacional, os preços dos alimentos no Brasil, no início de 2011, retomaram a trajetória ascendente tal como ocorria no período imediatamente anterior à crise financeira internacional, pressionando o IPCA dos últimos meses. Frente a este quadro, o governo acendeu o sinal de alerta e acionou as políticas de contenção fiscal e monetária.


Fonte: IBGE- IPCA


Publicado no Jornal da Cidade, em 13/02/2011


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