Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Expectativas e projeções para 2011

Com a aproximação do final de 2010, as expectativas e as projeções em relação ao cenário econômico para 2011 passam a receber maior atenção dos agentes econômicos. A revisão de outubro do relatório Perspectivas da Economia Mundial, do Fundo Monetário Internacional, apresenta um cenário ainda de saúde debilitada para a economia mundial no próximo ano. Em relação à projeção anterior, realizada no mês de julho, a instituição reviu ligeiramente para cima a estimativa da taxa de crescimento do PIB mundial em 2010 e para baixo a previsão para 2011.

Para o FMI, o quadro não é alarmante. A recuperação da economia mundial, após o período mais agudo da crise entre o final de 2008 e o primeiro semestre de 2009, continua evoluindo dentro do quadro esperado, ainda que estejam presentes importantes riscos, que podem comprometer essa trajetória. A preocupação da instituição é com os níveis elevados de dívida pública na maioria dos países avançados e em algumas economias emergentes que limitam a adoção de políticas expansionistas por parte dos governos dessas nações.

Desatar o nó do endividamento público crescente em um quadro econômico de baixo crescimento, com receitas em queda, não é trivial, por conta dos riscos de retorno da recessão e de agravamento da situação de um mercado de trabalho que não tem reagido. O fato é que a recuperação econômica americana perdeu fôlego no segundo trimestre de 2010, com o PIB registrando menor crescimento na comparação com o primeiro trimestre do ano.

Projeções

O nível de atividade da economia mundial no primeiro semestre de 2010 ficou acima da projeção anterior da instituição. A previsão de julho era de crescimento de 4,75% do PIB no primeiro semestre de 2010, em termos anualizados, quando, de fato, ela teria crescido 5,25%, portanto, 0,5 pontos percentuais acima do projetado.

Com isso, a projeção para o crescimento do PIB mundial em 2010 foi revista de 4,6% para 4,8%, principalmente por conta das novas estimativas para cima do desempenho dos PIBs dos países emergentes. Para o FMI, em 2010, as economias avançadas, depois de amargarem uma retração de 3,2% em 2009, deverão crescer 2,7%, com a economia americana se expandindo 2,6% e a Zona do Euro, apenas 1,7%. (Ver gráfico 1). O desempenho dos países ditos emergentes tem sido muito superior, o que tem contribuído decisivamente para a recuperação da economia mundial.













Fonte: FMI. World Economic Outlook, Outubro de 2010.

A projeção de crescimento para os países emergentes em 2010 foi revista para 7,1%, frente aos 6,8% estimados no mês de julho. A China e a Índia, com taxa de 10,5% e 9,7%, respectivamente, lideram a expansão, mas o Brasil não aparece mal na fotografia, com 7,5%.
2011

O FMI prevê uma desaceleração na taxa de crescimento mundial no segundo semestre de 2010 e no primeiro semestre de 2011, em grande parte associada ao baixo nível de confiança dos consumidores e os altos níveis de desemprego nos países mais ricos que inibem os gastos das famílias. A instituição reconhece que a produção industrial e o comércio internacional apresentaram forte recuperação no primeiro semestre de 2010, mas as economias avançadas ainda se mantêm com crescimento muito moderado.

Para 2011, a projeção do FMI é de crescimento de 4,2% na economia mundial e de desaceleração do já pífio incremento do PIB das economias centrais de 2,7%, em 2010, para 2,2%, em 2011, enquanto os países emergentes deverão crescer 6,4%. Para o Brasil, a projeção seria de 4,1% de crescimento em 2011, ligeira retração em relação à projeção de 4,2% de julho.

A título de curiosidade, a previsão do FMI em outubro de 2009 para o crescimento do PIB brasileiro em 2010 era de 3,5%. Como vimos, um ano depois ajustou a previsão para 7,5%. Para a economia mundial, em outubro de 2009, o relatório do FMI projetou crescimento de 3,5% em 2010, frente aos 4,8% calculados um ano depois.

Revisões


As projeções de crescimento anual do PIB das principais economias do mundo são refeitas trimestralmente pelo FMI, cujos analistas vão ajustando suas previsões à medida que os resultados parciais são computados. Cada projeção tende a supervalorizar a situação econômica do último trimestre e pode ser substancialmente revista ao longo do ano. As projeções efetuadas semanalmente pelo relatório Focus do Banco Central do Brasil, a partir de levantamento junto a consultorias especializadas, podem ilustrar como as previsões podem sofrer alterações de grande monta.

Há um ano, o relatório Focus projetava crescimento de 4,69% no PIB brasileiro de 2010. As revisões semanais saltaram a partir do mês de maio, com o anúncio do PIB do 1º trimestre muito acima do esperado e no inicio de outubro corrente já apontam para 7,5%. As projeções do Focus para 2011 apresentam até o momento uma curva comportada, mas, provavelmente, no início do ano que vem, sofrerão importantes ajustes. (Ver gráfico 2).














Fonte: Banco Central do Brasil. Relatório Focus.

Ricardo Lacerda
Publicado no Jornal da Cidade em 24 de outubro de 2010


Para baixar o arquivo em PDF clique aqui.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A rizicultura do Baixo São Francisco (2)

Ricardo Lacerda

Um aspecto positivo da expansão da produção de arroz no Baixo São Francisco Sergipano nos últimos anos decorre do fato que ela se deveu mais ao crescimento da produtividade do que da expansão da área cultivada.

Entre 2000 e 2008, a área plantada com arroz em Sergipe, fortemente concentrada na região, teve um incremento de 14,8%, passando de 10.030 hectares para 11.510 hectares. O rendimento da cultura, nesse mesmo período, aumentou de 3.838 toneladas por hectare para 5.089 toneladas por hectare, incremento de 32,6%, o que significa que cerca de 2/3 do aumento da produção se deveu ao ganho de produtividade e 1/3 à ampliação da área.

Ainda que no ranking estadual a rizicultura apareça, em 2008, como a quinta cultura temporária em termos de área plantada e de valor da produção, atrás do milho, da mandioca, cana de açúcar e feijão, na região do Baixo São Francisco ela se constitui na principal atividade.

Valor de produção

Em 2008, o cultivo de arroz na região do Baixo São Francisco Sergipano alcançou o valor de produção de R$ 34,3 milhões, equivalente a 78,3% das culturas temporárias e a 42,1% do total da atividade agrícola da região. A segunda cultura em termos de geração de valor da produção, o coco-da-baia, somou R$ 15,8 milhões, menos da metade do resultado do cultivo do arroz. O plantio de banana, manga, mandioca, cana de açúcar e laranja são outras culturas importantes na região (Ver gráfico 1).




















Fonte. IBGE. Pesquisa Agricola Municipal

Produtores

O número de estabelecimentos produtores de arroz de Sergipe não tem a mesma dimensão dos dedicados às culturas do milho, mandioca ou do feijão. O Censo Agropecuário de 2006 contou apenas 649 estabelecimentos voltados à produção de arroz, frente aos 31.412 estabelecimentos produtores de milho, 23.338 produtores de mandioca e 6.328 de feijão.

Os estabelecimentos dedicados à rizicultura, em sua quase totalidade, são de pequeno porte, com cerca de 95% deles não atingindo a extensão de 20 hectares de área total. Em sua ampla maioria, cerca de 2/3 dos estabelecimentos, contam com área entre 3 e 5 hectares. Os estabelecimentos entre 3 a 10 hectares respondiam por 82% do total e por 71% da produção naquele ano. ( Ver Gráfico 2)
















Fonte. IBGE. Censo Agropecuário de 2006.

Segundo o Censo Agropecuário, a quase totalidade dos rizicultores é de proprietários dos seus estabelecimentos, com um número pouco expressivo de arrendatários e ocupantes. A produção de arroz é destinada principalmente ao mercado, com apenas 3% voltados ao autoconsumo familiar. Parcela expressiva da produção, 52%, é vendida diretamente à indústria e outros 45% a intermediários.

Esse breve e incompleto perfil da rizicultura sergipana, concentrada na região do Baixo São Francisco, mostra uma atividade agrícola desenvolvida em pequenas propriedades rurais, cujos indicadores de produção e rendimento agrícola têm evoluído satisfatoriamente. O valor de produção por hectare colhido, em 2008, era significativamente maior do que as culturas de sequeiro, como milho, feijão e mandioca, e mesmo acima do resultado da cana-de-açúcar e da citricultura.

Os dados apresentados pela Pesquisa Agrícola Municipal não autorizam perspectivas mais pessimistas sobre a viabilidade da cultura na região do Baixo São Francisco. Aguardemos os dados sobre os indicadores sociais do censo populacional de 2010 para comparar os rendimentos e qualidade de vida das pessoas dedicadas a essa atividade em relação às pessoas dedicadas a outras culturas. Isso não significa, todavia, que não seja desejável buscar uma diversificação da atividade agropecuária na região, com o incentivo à aqüicultura e a agregação de valor à produção agrícola. A aplicação de pesquisas específicas na região rizícola seria desejável, no intuito de avaliar as suas condições tecnológicas e de rentabilidade.

Publicado no Jornal da Cidade em 17 de outubro de 2010.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A rizicultura do Baixo São Francisco (1)

Ricardo Lacerda

O cultivo de arroz na região do Baixo São Francisco Sergipano é costumeiramente visto com pessimismo por parcela expressiva dos técnicos especializados em desenvolvimento rural. Persiste, em certos círculos, um tipo de descrença sobre a viabilidade econômica da atividade e muitos chegam a indicar a necessidade da região, uma das mais pobres do Estado, buscar novas vocações produtivas em complementação ou substituição à atividade.

Quando os dados do censo populacional de 2010 estiverem disponíveis, será possível ter um quadro mais amplo da situação das pessoas que se dedicam àquela atividade. Do ponto de vista produtivo, todavia, é patente o avanço que a cultura do arroz vem obtendo nos últimos anos. É possível, fica como hipótese, que parcela do pessimismo em relação a atividade decorra do difícil período por que ela passou na segunda metade dos anos noventa, especificamente entre 1995 e 1997, que cristalizou uma visão desalentada sobre sua viabilidade.

Produção

A produção de arroz em casca de Sergipe, fortemente concentrada no território do Baixo São Francisco, somou 19, 5 mil toneladas no ano de 1990. Dez anos depois, em 2000, a produção já se situava em 32,8 mil toneladas, 68,6% superior. Os anos de 1995 a 1997, todavia, foram de crise acentuada na rizicultura sergipana.
Depois de atingir a produção de 28,1 mil toneladas em 1994, a quantidade produzida despencou para 14,0 mil toneladas em 1995, com nova queda acentuada em 1996, 8,7 mil toneladas, e recuperação parcial em 1997, com 24,2 mil toneladas. Apenas em 1998, a produção de arroz de Sergipe superou o patamar de 1994.
Em 2008, último ano disponível na série da Pesquisa Agropecuária Municipal do IBGE, a quantidade produzida alcançou 58,6 mil toneladas, 78,1% acima da produção de 2000 e, simplesmente, 201% superior ao resultado de 1990. Não é possível considerar um mau desempenho. (Ver gráfico 1).













Fonte: IBGE. Pesquisa Agrícola Municipal

Diversa foi a trajetória do outro lado do rio. A produção de arroz no vizinho Estado de Alagoas, em 1990, alcançou 26,3 mil toneladas, 35% a mais do que a de Sergipe. Passou também por uma crise intensa em meados dos anos noventa, entre 1994 e 1996. Depois de um ciclo de recuperação nos anos finais da década de noventa e nos anos iniciais da primeira década do novo século, mergulhou em uma crise de produção em 2002, da qual não mais saiu.

Em 2000, a produção de arroz de Alagoas somou 40,7 mil toneladas, 54,4% acima do resultado de 1990 e ainda 24% superior a de Sergipe. Em 2008, a produção já havia se retraído para 14,0 mil toneladas, 65,6% abaixo do patamar de 2000 e 76% inferior à produção sergipana. (Ver gráfico 1).

A área plantada de arroz em Alagoas caiu de 8.460 hectares, em 2000, para menos da metade, 3.386 hectares em 2008. Em Sergipe, por sua vez, a área plantada continuou se ampliando entre 2000 e 2008, passando de 10.030 hectares para 11.510 hectares.

Municípios

Ao longo da década verificaram-se algumas mudanças importantes na distribuição geográfica do cultivo de arroz entre os municípios sergipanos. Propriá, que em 2000 aparecia como o 3º município produtor com 6,1 mil toneladas, assumiu a liderança e em 2008 alcançou a produção de 17,5 mil toneladas, crescimento de 189,6% no período, representando 30% da produção estadual. Ilha das Flores manteve o segundo lugar no ranking, ampliando a produção de 7 mil toneladas para 11,3 mil toneladas. O município de Neópolis subiu da 4ª para a 3ª posição, com crescimento de 98,1% no período, enquanto Brejo Grande, o maior produtor em 2000, perdeu posição, caindo para o 4º lugar em 2008, registrando ligeira retração, de 1,3%( Ver gráfico 2)




















Fonte: IBGE. Pesquisa Agrícola Municipal

Não há, portanto, como se referir à crise de produção na cultura do arroz em Sergipe. Mesmo pelo critério de produtividade os avanços são significativos, segundo a pesquisa do IBGE. O rendimento por hectare pulou de 3,8 mil em 2000 para 5,1 mil, em 2008, incremento de 33%. Destaque-se que a produtividade da rizicultura em Sergipe, em 2008, se situava 20% acima da média brasileira e 201% superior à media nordestina. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pam/2008/pam2008.pdf. No próximo artigo, examinaremos outros aspectos da rizicultura do Baixo São Francisco Sergipano.

Publicado no Jornal da Cidade em 10 de outubro de 2010

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Criação de emprego industrial em Sergipe no ano de 2010

Ricardo Lacerda

A evolução recente do emprego industrial em Sergipe tem se destacado da média brasileira e vale a pena examiná-la. Entre janeiro e agosto de 2010, foram criados 1.947 empregos com carteira de trabalho na indústria de transformação em Sergipe, o melhor resultado da série iniciada em 1999. Observando a série acumulada em 12 meses, no período entre setembro de 2009 e agosto de 2010, foram criados 4.861 empregos no setor. A vantagem de se observar a série em doze meses acumulados é que são eliminados os efeitos sazonais, posto que todos os meses do ano são considerados na análise.

Nessa série de doze meses, o emprego formal na indústria de transformação apresentou, em agosto, taxa de crescimento de 13,82%, quase o dobro da média brasileira, de 7,87%. Foi o terceiro mês subseqüente em que Sergipe registrou o melhor resultado do país. Cabe, então, examinar, quais setores, localidades e portes de empresas têm apresentado os melhores desempenhos.

Emprego setorial

Um primeiro dado que chama a atenção é que o crescimento do emprego industrial nos doze meses encerrados em agosto foi abrangente, verificando-se em todos subsetores de atividade da indústria de transformação. Cabe destacar, todavia, o desempenho de quatro segmentos: calçados, com a geração de 1.783 empregos formais; alimentos e bebidas, 755 empregos; têxtil-vestuário, 707 empregos e minerais não metálicos, que inclui a produção das fábricas de cimento e das cerâmicas, com 475 empregos.

Por diferentes motivos, o setor de calçados e a cadeia têxtil-confecção merecem uma menção especial. Sergipe vem se constituindo em um importante pólo calçadista, a partir da atração de empresas com sedes nas regiões Sul e Sudeste. O crescimento do emprego na cadeia têxtil-confecção carrega um significado especial para a economia sergipana. Afinal, a própria história da industrialização do Estado se confunde com a implantação da sua indústria têxtil, ainda no final do século XIX. Nos anos recentes, a agressividade da China no comércio internacional de produtos têxteis, ao lado da valorização do Real, impactou negativamente as atividades têxteis brasileiras, inclusive em nosso Estado. Desde janeiro de 2010, todavia, o emprego na cadeia têxtil-confecção sergipana tem apresentado recuperação, com a chegada de novos empreendimentos, além da ampliação das contratações nas empresas já instaladas.

Interiorização

Um aspecto importante do perfil da expansão industrial recente em Sergipe tem sido a implantação de indústrias no interior do Estado. Nos últimos 12 meses, dos 4.861 novos empregos industriais, 3.187 ou cerca de 2/3 foram gerados em empresas localizadas no interior do Estado, frente a 1.674 empregos (34%), na Grande Aracaju. (Ver gráfico 1).

Os municípios que mais criaram emprego industrial nesse período foram, além de Aracaju, Frei Paulo, Simão Dias, Nossa Senhora do Socorro, Lagarto, Itabaiana, Estância, Aparecida, Carmópolis, Salgado, Ribeirópolis e Carira, com mais de cem novos empregos industriais, cada um, nos últimos doze meses. Os municípios de Nossa Senhora da Glória, Rosário do Catete, Itabaianinha, Itaporanga D’ajuda, Riachuelo, Barra dos Coqueiros, São Cristovão e Capela também tiveram importante incremento do emprego industrial no período. Esse movimento da indústria em direção ao interior do Estado é um dos aspectos mais benéficos do crescimento recente da economia sergipana, pois concorre para a desconcentração produtiva no Estado e pode reforçar vocações produtivas locais.













Fonte: MTE-CAGED

Porte das Empresas

Parte expressiva dos novos empregos industriais no período analisado foi criada em estabelecimento com até 19 funcionários, classificados como microempreendimentos. As empresas desse porte geraram 1.717 empregos nos últimos doze meses, o que corresponde a 35% do saldo do emprego industrial no período. Mas a atração de novos empreendimentos nos segmentos já mencionados fez com que os agrupamentos de estabelecimentos de médio e grande portes também conhecessem uma expansão expressiva no emprego. As empresas com mais de 500 empregados, em sua quase totalidade no setor de calçados, criaram 1.409 novos postos de trabalho, 29% do total da indústria de transformação. E as empresas de médio porte, entre 100 e 499 empregados, criaram outros 1.240 empregos, 26% do total do setor industrial.












Fonte: MTE-CAGED

A expansão recente do emprego industrial de Sergipe, muito acima da média nacional, revela, sobretudo, o interesse de empresas em aumentar a presença no mercado de consumo da região Nordeste, que vem se expandindo a taxas significativamente mais elevadas do que a média brasileira. Parte expressiva desse crescimento é recuperação de postos perdidos durante o período mais agudo da crise financeira internacional, mas outra parte reflete o ciclo expansivo da economia brasileira.



Publicado no Jornal da Cidade em 03/10/2010

Os pequenos empreendimentos e o desenvolvimento (3)

Ricardo Lacerda

No presente artigo, serão examinadas algumas linhas de políticas de apoio aos micros e pequenos empreendimentos implementadas no Brasil e em Sergipe. Com ele, encerra-se a série de três artigos sobre a importância dos pequenos empreendimentos no desenvolvimento econômico.

As políticas de apoio para os pequenos empreendimentos podem abranger uma diversidade de linhas de ações que buscam, de um lado, contrabalançar as desvantagens desses empreendimentos frente às grandes empresas e, de outro lado, fortalecer as suas vantagens competitivas. Mas, sobretudo, essas políticas assumem como pressuposto que a competitividade de um sistema produtivo depende do bom funcionamento das empresas de diferentes portes. O entendimento é de que o fortalecimento dos pequenos empreendimentos é importante não apenas para elas próprias ou por conta do peso expressivo na geração de ocupação e, sim, por que concorre para conferir competitividade às cadeias produtivas.

As políticas de apoio

As políticas de apoio aos pequenos empreendimentos abrangem a capacitação profissional e empresarial, simplificação e desoneração tributária, apoio à formalização, acesso a incentivo locacional, estímulo a formação de redes de cooperação, dentre muitas outras. Três linhas de ação, todavia, são especialmente significativas e sobre elas o presente artigo pretende concentrar seu foco: o acesso ao crédito, o uso do poder de compra e as políticas de extensão tecnológica.

A restrição de acesso ao crédito ou as condições desvantajosas desse acesso constituem importantes desvantagens dos pequenos empreendimentos. A ausência de garantias aceitáveis por parte do sistema financeiro e o custo de gerenciamento de operações creditícias de pequeno montante unitário limitam ou simplesmente podem tornar proibitivos o acesso desses empreendimentos aos recursos do sistema bancário. Frente à limitação de recursos próprios ou de crédito para expandir suas atividades, os pequenos empreendimentos, muitas vezes, utilizam o próprio capital de giro para expandir suas instalações ou ampliar o estoque de insumos e mercadorias, impondo-se condições inadequadas de prazos e custos que podem levar ao insucesso boas oportunidades de investimentos.

O uso do poder de compra consiste em uma das políticas de apoio de maior alcance para os pequenos empreendimentos. Contrariamente ao senso comum, as políticas de uso do poder de compra não se limitam à aquisição pelo setor público de bens e serviços fornecidos pelas pequenas empresas, ainda que essa seja uma das principais linhas de atuação. Empresas de maior porte podem formar redes de pequenos fornecedores por meio do uso do seu poder de compra e construir a partir desse relacionamento importante fonte de competitividade para si e para as empresas parceiras. Podem ser construídas vantagens mútuas na formação dessas redes: para o grande empreendimento é muito bem vinda a formação de um conjunto de fornecedores qualificados situados próximos a ela, capazes de assegurar o suprimento de bens serviços de forma regular e adequada e com capacidade de atender necessidades específicas do seu negócio. Para os empreendimentos de menor porte, a política do uso do poder compra pode assegurar mercado estável e, muitas vezes, formas de acesso ao crédito tanto para o giro quanto para o crescimento da empresa. Uma das questões mais sensíveis nessas redes é a de encontrar uma boa governança na sua formação como forma de garantir o equilíbrio no relacionamento entre os parceiros.

Finalmente, a extensão tecnológica tem sido uma modalidade de política de apoio que ainda não ganhou a robustez desejada, embora já seja praticada há algum tempo. A extensão tecnológica surge de fato como ‘assistência técnica’ ao produtor rural, como forma de disseminar práticas mais modernas de produção e gestão. Em grande parte impulsionada pelo avanço das tecnologias da informação e pelas perspectivas abertas para os pequenos empreendimentos a partir da reestruturação produtiva dos anos noventa, governos e instituições despertaram para necessidade de fortalecer as ações de extensão tecnológicas nas principais cadeias produtivas brasileiras, que se ressentiam de uma maior aproximação entre o setor produtivo e instituições de ciência e tecnologia.

Brasil e Sergipe

As políticas de apoio aos pequenos empreendimentos vêm ganhando consistência no Brasil e em Sergipe como um fruto do amadurecimento das instituições em torno de pontos amplamente debatidos e do fortalecimento do compromisso com esse segmento. A implementação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas que delimita condições diferenciadas para esse segmento é o melhor dos certificados desse compromisso. Vêm sendo promovidos avanços relativos a desonerações e simplificação tributária, estímulo a formalização das empresas e iniciou-se um importante processo de desburocratização, que ainda requer, reconheça-se, muitos passos até se aproximar dos padrões de países de maior cultura empresarial.

No que tange às três linhas de ação destacadas nesse artigo, muito tem se avançado no Brasil e em Sergipe. A conquista de um ambiente macroeconômico benigno, ao lado da atuação mais incisiva dos bancos públicos, tem propiciado nos últimos anos importante redução nas taxas de juros e no acesso ao crédito por parte dos pequenos empreendimentos. Pesquisas junto a empresas de algumas cadeias produtivas sergipanas já vêm revelando nos últimos anos que o alto custo do acesso ao crédito deixou de ser o principal entrave à expansão dos negócios, como costumava ser apontado até o inicio dos anos 2000. A expansão das operações de microcrédito e condições diferenciadas de taxas de juros para os pequenos empreendimentos são práticas dos bancos oficiais, ainda que haja largo campo para avançar em termos de simplificação nas operações.

Digna de destaque tem sido a política de uso do poder de compra do governo de Sergipe. No âmbito da implantação da Lei Geral, a administração estadual estabeleceu condições muito favoráveis para o acesso dos pequenos empreendimentos às compras públicas, o que teve o efeito de mudar radicalmente o perfil dessas aquisições, com o incremento substancial da participação desse segmento. Grandes empresas, como a Petrobras e algumas empresas privadas situadas no estado, contam com programas de qualificação de fornecedores, que resultam em importantes ganhos para ambas as partes, fortalecendo a competitividade das cadeias produtivas, ainda que o escopo dessas ações possa ser ainda ampliado substancialmente.

Finalmente, a extensão tecnológica é necessariamente uma linha de ação cujos benefícios são essencialmente de médio e longo prazos, mas de grande potencial para o desenvolvimento do Estado. Nesse capítulo, importantes programas e ações estão sendo implementados. Cabe destacar o programa de apoio aos Arranjos Produtivos Locais, a implantação do Núcleo de Excelência de Petróleo e Gás na Universidade Federal de Sergipe e a nova estruturação do SergipeTec. Reconheça-se o esforço da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação de Sergipe- FAPITEC com o lançamento de editais públicos direcionados a superação de gargalos tecnológicos de pequenos empreendimentos do estado, a exemplo do que já vinha sendo executado nacionalmente pelo SEBRAE em associação com a FINEP. A extensão tecnológica deve ser fortemente impulsionada com a plena implantação do Sistema Brasileiro de Tecnologia- SIBRATEC, rede que abrange universidades, centros e institutos tecnológicos com o objetivo de aproximar as instituições de ciências e tecnologias das efetivas necessidades do setor produtivo.

O apoio aos pequenos empreendimentos é essencial para o desenvolvimento mais equilibrado do sistema produtivo brasileiro. A quebra de preconceito em relação ao segmento e novas linhas ação voltadas para o seu fortalecimento apontam para uma nova postura em relação ao seu papel no desenvolvimento.
Publiado no Jornal da Cdade em 25/04/2010.