Para o FMI, o quadro não é alarmante. A recuperação da economia mundial, após o período mais agudo da crise entre o final de 2008 e o primeiro semestre de 2009, continua evoluindo dentro do quadro esperado, ainda que estejam presentes importantes riscos, que podem comprometer essa trajetória. A preocupação da instituição é com os níveis elevados de dívida pública na maioria dos países avançados e em algumas economias emergentes que limitam a adoção de políticas expansionistas por parte dos governos dessas nações.
Desatar o nó do endividamento público crescente em um quadro econômico de baixo crescimento, com receitas em queda, não é trivial, por conta dos riscos de retorno da recessão e de agravamento da situação de um mercado de trabalho que não tem reagido. O fato é que a recuperação econômica americana perdeu fôlego no segundo trimestre de 2010, com o PIB registrando menor crescimento na comparação com o primeiro trimestre do ano.
Projeções
O nível de atividade da economia mundial no primeiro semestre de 2010 ficou acima da projeção anterior da instituição. A previsão de julho era de crescimento de 4,75% do PIB no primeiro semestre de 2010, em termos anualizados, quando, de fato, ela teria crescido 5,25%, portanto, 0,5 pontos percentuais acima do projetado.
Com isso, a projeção para o crescimento do PIB mundial em 2010 foi revista de 4,6% para 4,8%, principalmente por conta das novas estimativas para cima do desempenho dos PIBs dos países emergentes. Para o FMI, em 2010, as economias avançadas, depois de amargarem uma retração de 3,2% em 2009, deverão crescer 2,7%, com a economia americana se expandindo 2,6% e a Zona do Euro, apenas 1,7%. (Ver gráfico 1). O desempenho dos países ditos emergentes tem sido muito superior, o que tem contribuído decisivamente para a recuperação da economia mundial.
Fonte: FMI. World Economic Outlook, Outubro de 2010.
A projeção de crescimento para os países emergentes em 2010 foi revista para 7,1%, frente aos 6,8% estimados no mês de julho. A China e a Índia, com taxa de 10,5% e 9,7%, respectivamente, lideram a expansão, mas o Brasil não aparece mal na fotografia, com 7,5%.
2011
O FMI prevê uma desaceleração na taxa de crescimento mundial no segundo semestre de 2010 e no primeiro semestre de 2011, em grande parte associada ao baixo nível de confiança dos consumidores e os altos níveis de desemprego nos países mais ricos que inibem os gastos das famílias. A instituição reconhece que a produção industrial e o comércio internacional apresentaram forte recuperação no primeiro semestre de 2010, mas as economias avançadas ainda se mantêm com crescimento muito moderado.
Para 2011, a projeção do FMI é de crescimento de 4,2% na economia mundial e de desaceleração do já pífio incremento do PIB das economias centrais de 2,7%, em 2010, para 2,2%, em 2011, enquanto os países emergentes deverão crescer 6,4%. Para o Brasil, a projeção seria de 4,1% de crescimento em 2011, ligeira retração em relação à projeção de 4,2% de julho.
A título de curiosidade, a previsão do FMI em outubro de 2009 para o crescimento do PIB brasileiro em 2010 era de 3,5%. Como vimos, um ano depois ajustou a previsão para 7,5%. Para a economia mundial, em outubro de 2009, o relatório do FMI projetou crescimento de 3,5% em 2010, frente aos 4,8% calculados um ano depois.
Revisões
As projeções de crescimento anual do PIB das principais economias do mundo são refeitas trimestralmente pelo FMI, cujos analistas vão ajustando suas previsões à medida que os resultados parciais são computados. Cada projeção tende a supervalorizar a situação econômica do último trimestre e pode ser substancialmente revista ao longo do ano. As projeções efetuadas semanalmente pelo relatório Focus do Banco Central do Brasil, a partir de levantamento junto a consultorias especializadas, podem ilustrar como as previsões podem sofrer alterações de grande monta.
Há um ano, o relatório Focus projetava crescimento de 4,69% no PIB brasileiro de 2010. As revisões semanais saltaram a partir do mês de maio, com o anúncio do PIB do 1º trimestre muito acima do esperado e no inicio de outubro corrente já apontam para 7,5%. As projeções do Focus para 2011 apresentam até o momento uma curva comportada, mas, provavelmente, no início do ano que vem, sofrerão importantes ajustes. (Ver gráfico 2).
Fonte: Banco Central do Brasil. Relatório Focus.
Ricardo Lacerda
Publicado no Jornal da Cidade em 24 de outubro de 2010
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