Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A grande interrogação de 2013




Ricardo Lacerda

O ano de 2013 se inicia em meio a uma grande expectativa em relação ao desempenho da economia brasileira. A passagem de ano se dá com elevado grau de incerteza quanto ao comportamento de variáveis-chave, como a evolução do PIB, da inflação e da taxa de câmbio.  

Mesmo com as seguidas revisões para baixo do PIB de 2012, a projeção para 2013 é um exercício que precisa ser feito por governos e empresas para a elaboração do orçamento, discriminando receitas e despesas, para orientar o planejamento de suas ações.

Não que em anos anteriores as projeções tivessem sido precisas, ou mesmo aproximadas. Entre 2001 e 2011, o desvio médio entre a mediana da projeção do relatório de mercado Focus na última semana de dezembro e o resultado do ano seguinte foi de 1,6 ponto percentual, para cima ou para baixo, o que não é pouco. Depois do evento da crise de 2008, as projeções se distanciaram do resultado alcançado e devem fechar o período 2009-2012 com desvio médio de 2,4 pontos.

Frustração

Nos últimos dois anos, o resultado registrou diferença acentuada para baixo em relação ao antecipado pelo mercado e pelas autoridades, o que tem causado desânimo e descrença em relação às projeções para 2013. Com o Pibão de 7,5% de crescimento em 2010, ao final de dezembro daquele ano projetava-se 4,5% para 2011, quando o crescimento alcançado de fato foi de 2,7%. Em dezembro de 2011, projetou-se para o ano que se encerra 3,3%, frente a um resultado que deve oscilar em torno de 1%, o pibinho de 2012.

É difícil avaliar o quanto da frustração das expectativas nesses dois anos deve-se a limites ‘físicos’ impostos às variáveis de demanda que teriam impedido uma retomada mais robusta da economia, como o efeito do endividamento das famílias sobre a evolução do consumo ou da pressão dos importados e de estoques elevados sobre o nível de produção da indústria, fatores que têm sido aventados, e o quanto se deve aos efeitos da crise sobre a confiança das empresas e famílias. Não há, ainda, respostas satisfatórias a respeito dessas questões. Foram ofertadas no mercado das explicações até mesmo variáveis demográficas, em que a evolução mais lenta da PEA limitaria a expansão do crescimento econômico em situação próxima ao pleno emprego.

Tampouco há uma avaliação mais consistente sobre o que esperar, e em que prazo, de mudanças de caráter mais estrutural sobre o nível de atividade econômica, como o impacto da desvalorização cambial sobre a produção da indústria ou da redução dos juros sobre as decisões de investimento de famílias e empresas, naquilo que vem sendo chamado da nova matriz econômica do país.

Novo alento

O governo federal tem ampliado o leque de medidas para ativar a economia por meio de estímulos ao consumo das famílias, de desoneração da produção e de incentivo ao investimento privado, e insiste que é uma questão de tempo para que a atividade econômica reaja e volte a crescer a ritmo superior a 3% ao ano. As medidas atacam nas duas frentes: aquecimento das variáveis de demanda, no curto prazo, e alargamento do potencial de crescimento.

E, de fato, o nível de atividade parece ter voltado a engrenar neste segundo semestre de 2012, criando um novo alento em relação às expectativas para 2013. Para além das restrições mais estruturais e de explicações exóticas, o mecanismo econômico voltou a acelerar indicando que o PIB deverá apresentar taxas de crescimento mais altas nos próximos trimestres. O gráfico a seguir apresenta as projeções do relatório Focus para o crescimento do PIB trimestral até o final de 2013, na comparação com mesmo trimestre do ano anterior. Para o ano completo, a projeção é de 3,3% de crescimento em 2013.

Com o reaquecimento da economia e o alargamento das condições de crescimento, os mecanismos de retroalimentação podem já ter começado a operar, em uma sequencia de efeitos positivos sobre consumo, emprego e rendimentos, até impactar o investimento e a arrecadação ao longo do próximo ano.


Fonte: IBGE, Contas trimestrais e projeções (mediana) do relatório Focus do Banco Central de 21/12/2012.

Publicado no Jornal da Cidade, em 30/12/2012 

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Mais evidências sobre a interiorização do desenvolvimento




Ricardo Lacerda

A forte expansão e a interiorização do emprego formal foram dois dos aspectos mais positivos do ciclo de crescimento econômico brasileiro iniciado em 2004. Em todo o período, o crescimento do emprego formal cresceu em ritmo consideravelmente mais acelerado do que o do produto interno. 
A geração de emprego formal e sua redistribuição pelo interior do país se mantiveram robustas mesmo no período de desaceleração mais recente da economia brasileira, entre 2011 e 2012.

Em Sergipe, a interiorização do emprego formal alcançou um novo patamar nos últimos anos e foi abrangente, contemplando todas as regiões do estado e todos os principais setores de atividade, ainda que algumas regiões tenham apresentado desempenho bem melhor do que outras, como veremos mais adiante.

Na comparação entre os anos de 2000 e 2011, a expansão do emprego formal, em termos relativos, caminhou mais rapidamente nas regiões mais pobres, mesmo porque o contingente de pessoas com emprego formal era muito baixo em alguns casos.
Ela foi proporcionalmente menos intensa na região mais rica, a Grande Aracaju, seja porque a base de comparação era mais elevada, seja porque importantes investimentos intensivos em mão-de-obra geraram um grande número de emprego no interior.   

Distribuição

Ao final de 2011, havia 385.837 empregos formais na economia sergipana, entre setor privado e funcionalismo público, conforme dados do MTE-RAIS. O setor agrícola, ainda que ocupe uma parcela significativa da mão-de-obra, tem uma participação muito reduzida quando se trata de emprego formal: eram 13.966 empregos formais nessa atividade, ou 3% do total.

Para fins de exposição, os dados foram organizados em seis agrupamentos. Além de um grupo que agrega as três esferas do setor público e as atividades de educação e saúde, em conjunto responsáveis por 40% do emprego formal naquele ano, são apresentados cinco agrupamentos, como o de outros serviços (que incluem serviços financeiros,  serviços administrativos e técnicos, transporte e alojamento) com 19% do total, o comércio com 16%, as indústrias de transformação e extrativa mineral, com 13%, e os segmentos da construção civil e os serviços de utilidade pública, com 9%, e o já citado setor agrícola.

Ter esses números em mente é importante para não se surpreender com alguns dados do crescimento do emprego dos oitos territórios sergipanos que são apresentados na tabela.

Territórios

Os dados apresentados a seguir estão organizados segundo os oitos territórios de desenvolvimento de Sergipe. Nesta classificação, a Grande Aracaju é considerada de forma ampliada, abrangendo, além da capital, os municípios de Barra dos Coqueiros, Itaporanga d'Ajuda, Laranjeiras, Maruim, Nossa Senhora do Socorro, Riachuelo, Santo Amaro das Brotas e São Cristóvão.

Entre 2000 e 2011, o estoque de emprego formal em Sergipe quase dobrou, crescendo 87,9%. Na tabela, quando a taxa de crescimento do emprego em um território, por setor ou no total, foi superior ao da média do estado, a célula se encontra sombreada.

Assim, na última linha, apresentaram taxas de crescimento do emprego formal superiores à média do estado, por ordem decrescente, o Médio Sertão, o Alto Sertão, o Leste, o Centro-Sul, o Agreste Central e o Baixo São Francisco. Apenas a Grande Aracaju e o Sul registraram taxas inferiores ao da média estadual, ainda assim foram taxas expressivas (ver Tabela).

Setorial

No caso do Médio Sertão, taxa de crescimento tão elevada é explicada pela implantação da usina de etanol que gerou milhares de emprego em uma estrutura econômica até então de baixa densidade de emprego formal. No Alto Sertão, além da Usina de Xingó, devem ser destacados a implantação das unidades de beneficiamento de leite e o impulso desses setores sobre as atividades de comércio e serviços. 
Como dado negativo, há a queda do emprego industrial no Baixo São Francisco por conta do fechamento, em 2006, da usina de cana-de-açúcar que havia em Pacatuba.

O espaço não permite uma análise exaustiva dos dados, mas vale a pena sintetizar alguns traços gerais. A simples observação da tabela permite identificar o crescimento robusto do nível de emprego formal em quase todos os setores, nos vários territórios.  Permite também perceber, observando-se as células sombreadas, que na ampla maioria dos setores, os territórios do interior apresentaram taxas de crescimento do emprego acima da média do estado.


Tabela. Taxa de crescimento do emprego formal nos territórios de desenvolvimento de Sergipe entre 2000 e 2011, segundo setores de atividade. (%)
Atividades/ Territórios
Sergipe
Agreste Central
Médio Sertão
Alto Sertão
Baixo São Francisco
Centro-
Sul
Grande Aracaju
Leste
Sul
Agricultura
89,4%
27%
126%
48%
105%
106%
50%
633%
4%
Ind. Transf + Ext Min
110,0%
497%
26.592%
220%
-35%
217%
64%
368%
34%
Construção + SIUP
156,3%
168%
1%
51%
1.011%
104%
157%
399%
59%
Comércio
108,2%
187%
148%
377%
159%
158%
89%
234%
149%
Adm Pub + Saúde + Educação
63,3%
72%
117%
181%
163%
98%
47%
99%
100%

Outros Serviços
90,4%
310%
50%
384%
94%
120%
85%
10%
172%
TOTAL
87,3%
159%
265%
198%
93%
136%
72%
165%
79%
Fonte: MTE- RAIS

Dois territórios apresentam taxas abaixo da média estadual: a Grande Aracaju, pelos motivos já mencionados, e o Sul. Esse último território apresentou taxas abaixo da média estadual no emprego formal agrícola e na indústria e na construção civil, mas apresentou ritmo muito acelerado de crescimento do emprego em outros serviços financeiros, no comércio e no agrupamento da administração pública, saúde e educação. No total, o emprego formal desse território cresceu 79% no período.

No caso da Grande Aracaju, com taxa de crescimento do emprego total de 72%, a primazia foi da atividade da construção civil, em que se destacou fortemente. Em todas as demais atividades, houve intenso espraiamento do emprego formal no período, como resultado de um processo geral de interiorização do desenvolvimento.


Publicado no Jornal da Cidade em 12/12/2012 

domingo, 16 de dezembro de 2012

O PIB Municipal e a interiorização do Desenvolvimento em Sergipe



Ricardo Lacerda

O IBGE apresentou na semana passada a publicação O PIB Municipal de 2010. Em seu comunicado a instituição destacou cinco pontos nos resultados daquele ano: 1) o elevado PIB per capita dos municípios com atividade de produção e beneficiamento de minérios; 2) a concentração da riqueza nacional em seis capitais; 3) a concentração da indústria em doze municípios; 4) a pujança agropecuária de municípios de Goiás e Mato Grosso, do polo de Petrolina e de municípios situados no Oeste da Bahia, importantes fronteiras agrícolas, e; 5) o peso da administração pública e das transferências previdenciárias no PIB dos pequenos municípios do Nordeste.

Interiorização

Mas o aspecto que queremos enfatizar é o da perda de participação das capitais nos PIBs estaduais e, seu lado reverso, o aumento do peso do interior. Excluindo-se o Distrito Federal, que não possui municípios, na comparação de 2000 com 2010, dentre as 26 unidades da federação 18 capitais perderam participação nos respectivos PIBs estaduais e 8 aumentaram a participação. Antes que o leitor se apresse em concluir que teria havido um deslocamento dessa participação para os demais municípios das regiões metropolitanas, cabe assinalar que 17 entre as 26 microrregiões que sediam capitais perderam participação, restando 9 que aumentaram seus pesos.

Entre 2000 e 2010, perderam peso no PIB dos seus estados as seguintes capitais, por ordem, Belém, Rio de Janeiro, Aracaju, Goiânia, Cuiabá, Recife, Natal, Rio Branco, Porto Alegre, Manaus, Salvador, Macapá, São Paulo, Fortaleza, Campo Grande, Belo Horizonte, Teresina e até a única capital que não tem o maior PIB entre os municípios do estado, Florianópolis.

Em Sergipe

Nesse período, os municípios do interior de Sergipe ganharam o equivalente a 6,8% do PIB estadual. Quando se considera o conjunto da região metropolitana (Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão e Barra do Coqueiro), o equivalente a 5,1% do PIB se deslocou para os demais municípios do Estado.

Uma parcela significativa do crescimento da participação do PIB do interior de Sergipe se deve à instalação da Usina Hidroelétrica de Xingó, no município de Canindé do São Francisco, no alto sertão sergipano, mas outros fatores também foram importantes. De um lado, a própria metropolização de Aracaju e a formação de distritos industriais no entorno da capital, como nos municípios de Nossa Senhora do Socorro e Itaporanga.

De outro lado, ampliaram a participação no PIB municípios que contam com importantes bases de recursos minerais, com produção de petróleo, de fertilizantes ou cimento, como Carmópolis, Rosário do Catete, Laranjeiras, Divina Pastora, Japaratuba,  Pacatuba e Siriri, situados na mesorregião Leste, ao norte de Aracaju.  O município de Capela foi favorecido pelo renascimento da atividade sucroalcooleira e seu impacto na economia local. 

No semiárido, além do já citado caso de Canindé do São Francisco, alguns municípios de forte base agrícola ou de pecuária também cresceram em ritmo superior à media do estado, ampliando suas participações no PIB. As experiências mais significativas foram as de Nossa Senhora da Glória, a partir da pecuária de leite, e de Carira, com a forte disseminação da cultura do milho. Há ainda o exemplo de Frei Paulo, que ganhou participação no PIB com a implantação da indústria de calçados.  

Emprego

O gráfico a seguir mostra a distribuição do PIB e do emprego formal, em 2000 e em 2010, entre a Grande Aracaju e o interior. A desconcentração territorial do emprego formal tem se dado em ritmo mais acelerado que a do PIB,  em razão de a expansão da atividade econômica no interior, notadamente nos municípios de base agrícola ou que têm recebido investimentos nas indústrias de calçados e de confecções, se dá com base em atividades mais intensivas em mão-de-obra do que os da capital. No período, o interior ganhou  5,1 pontos de participação no PIB e 6,6 pontos no emprego formal. 
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Fonte: PIB, IBGE- PIB Municipal; Empregos formais, MTE-RAIS

     Em conjunto, são três os tipos de região que vêm crescendo em ritmo mais acelerado: o entorno de Aracaju, os municípios detentores de reservas de recursos minerais e a parcela do semiárido que vem logrando implantar um desenvolvimento de base local a partir da expansão de polos agrícolas ou agroindustriais ou a partir da instalação de unidades fabris.  

Assim, mesmo com suas especificidades, alguns movimentos que ocorrem em âmbito nacional, como o aumento da importância da exploração de recursos minerais e a expansão da agropecuária, esta última mais assentada na ampliação da produção familiar do que na media nacional, têm sidos experimentados em Sergipe, processos aos quais deve ser adicionada a relocalização da indústria têxtil e de calçados em direção ao interior do Nordeste.

Publicado no Jornal da Cidade em 16/12/2012