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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A desaceleração econômica e o Nordeste

Ricardo Lacerda

A desaceleração do crescimento da economia brasileira entre o primeiro e o segundo trimestres de 2011 teve andamento diferente entre as regiões, ainda que alguns indicadores tenham apresentado comportamentos destoantes sobre esse ponto. Observando-se especificamente o desempenho da economia do Nordeste no período, a evolução do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC) e os dados de emprego apontam uma desaceleração menos pronunciada na região em relação ao comportamento médio do país.

As operações de crédito alcançaram elevadas taxas de crescimento em todas as regiões, e ainda que o Nordeste tenha apresentado taxas de crescimento dos saldos de operações bem acima da média brasileira, a redução do seu crescimento, mesmo que não muito acentuada, foi mais alta do que a média.

Finalmente, as trajetórias da produção física industrial e dos consumos industrial e total de energia elétrica foram menos favorável para região. Em conjunto, tais indicadores parecem apontar que a região Nordeste, com o mercado de consumo ainda bastante aquecido, foi, até o momento, menos impactada pelo agravamento do cenário externo e pelas medidas restritivas de política econômica.

Índice de Atividade

O Índice de Atividade do Banco Central (IBC), que procura antecipar os resultados do PIB, já é calculado para as regiões. Na comparação dos índices observados nos 1º e 2º trimestres de 2011 com igual período de 2010, alguns fatos saltam aos olhos. Enquanto nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, as taxas de crescimento se aceleraram no 2º trimestre, elas apresentaram forte recuo no Sudeste e, especialmente, na região Sul. Nessa série, o Nordeste registrou a mais alta taxa de crescimento no 2º semestre de 2011, 5,5% e a região Sul, a mais baixa, 2,7% (ver Gráfico 1).


Fonte: Banco central

Em termos de geração de emprego formal, nos últimos doze meses encerrados em julho, a taxa de crescimento da região Nordeste foi a segunda maior, 7,1%, atrás dos 8,26% da região Norte, mas superior às do Sudeste (5,90%), Centro-Oeste (6,32%) e Sul (6,07%). Apesar de serem taxas expressivas para todas as regiões, nos doze meses concluídos em março de 2011 as taxas de crescimento do emprego formal eram mais elevadas em todas as regiões. Produção Industrial

Os resultados da produção física da indústria e do consumo industrial são bem menos favoráveis ao Nordeste, em um grau surpreendente. Enquanto entre janeiro a julho a produção física da indústria brasileira cresceu 1,39%, na comparação com o mesmo período do ano anterior, no Nordeste verificou-se uma queda de 5,89%. No mesmo período, a produção física da indústria de São Paulo cresceu 2,6%.

O agravante é que segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), do IBGE, a queda da produção física da indústria nordestina nos sete primeiros meses do ano, embora mais acentuada no setor têxtil, foi generalizada. O consumo industrial da energia elétrica, apresentado no Gráfico 2, confirma essa trajetória desfavorável da indústria nordestina em 2011. Enquanto, em todas as demais regiões, o consumo industrial de energia elétrica, segundo dados da Eletrobrás, cresceu no primeiro semestre de 2011, em relação ao mesmo período de 2010, no Nordeste, o decréscimo alcançou 3,3%.

O Gráfico 2 permite observar, também, que na maioria das regiões, a taxa de crescimento do consumo industrial de energia elétrica refluiu entre o primeiro e o segundo trimestres, na comparação como os mesmos períodos do ano anterior. As magnitudes das variações na PIM e no consumo industrial de energia elétrica no Nordeste, no sentido inverso das demais regiões, podem sugerir problemas estatísticos e convém que sejam feitas investigações adicionais.


Fonte: Eletrobrás

Crédito
Finalmente, os dados relativos às operações de crédito no Nordeste mostram que elas continuam se expandindo em ritmo veloz, apesar de uma ligeira desaceleração no último trimestre. O saldo de operações de crédito para as famílias (PF), que financia a aquisição de imóveis e de bens duráveis, cresceu notáveis 28,2% no 2º trimestre de 2011, em relação ao mesmo período de 2010. Nessa mesma comparação, a taxa de incremento da região Sudeste alcançou 24,1% (ver Gráfico 3). As operações de crédito com as empresas (PJ) no 2º trimestre cresceram 25,8% no Nordeste e 18,9% no Sudeste.



Fonte: Banco Central

Apesar dos resultados problemáticos referentes à produção industrial e ao consumo de energia elétrica, as informações disponíveis apontam que a economia do Nordeste foi menos impactada no seu nível de atividade no segundo trimestre do que das regiões mais ricas do país. Voltaremos a esse tema no artigo da próxima semana.

Publicado no Jornal da Cidade, em 11/09/2011

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