Ricardo Lacerda
A Pesquisa Mensal do Emprego (PME) e a PNAD Contínua, ambas do
IBGE, têm captado a queda do rendimento do trabalho em 2015, fruto da recessão
que atinge a economia brasileira. Na semana passada, foram publicados os dados da
PME referentes ao mês de setembro. Os resultados retratam a deterioração da situação
do mercado de trabalho nas seis regiões metropolitanas pesquisadas, tanto do
ponto de vista da taxa de desocupação, quanto dos rendimentos auferidos pelos
trabalhadores.
A taxa de desocupação de setembro nas seis regiões
metropolitanas pesquisadas foi estimada em 7,6%, apresentando-se estabilizada
em relação ao mês de agosto mas bem superior aos 4,9% de setembro de 2014 (ver
Gráfico 1).
A súbita elevação das taxas de desocupação ao longo de 2015
resultou, de um lado, da redução expressiva no contingente de pessoas ocupadas
e, de outro, do aumento de pessoas que entraram no mercado de trabalho para
compensar a queda no rendimento familiar.
Na comparação entre setembro de 2015 e setembro de 2014, o
pessoal ocupado nas áreas pesquisadas caiu em 420 mil, equivalentes a 1,8%. A
retração do número de pessoas ocupadas alcançou 3,8% no caso da Região
Metropolitana de Salvador e 2,5% na Região Metropolitana de São Paulo.
Antecedentes
Quando o nível de atividade se retrai é questão de tempo o
impacto sobre o mercado de trabalho. Na série iniciada em 2002, é possível
constatar alguns períodos de forte aumento na taxa de desocupação das regiões
metropolitanas, como em 2003, entre 2005 e 2006, na passagem de 2008 para 2009
e o mais recente, ao longo de 2015 (Gráfico 1).
Fonte: IBGE-PME
Cada um desses períodos de deterioração do mercado conta com o seu
próprio enredo. Em setembro de 2003, a desconfiança do mercado em relação ao
novo governo fez com que a taxa de desocupação, que já se apresentava muito
elevada em anos anteriores, saltasse para 13%. O ciclo de crescimento iniciado
em 2004 fez com que a taxa de desocupação caísse naquele ano e no ano seguinte,
até que a equipe econômica comandada pelo ministro Palocci puxou as rédeas da
economia por entender que a demanda agregada caminhava à frente do produto
potencial, com efeitos perversos sobre a evolução dos preços. Tal como
preceituado pelo regime de metas de inflação, o governo restringiu os gastos e
iniciou novo ciclo de elevação nas taxas de juros, o que interrompeu a melhoria
em curso no mercado de trabalho.
A taxa de desocupação das regiões metropolitanas que havia caído
em 2004 e 2005 voltou a crescer em 2006, alcançando 10% em setembro daquele
ano, frente aos 9,7% de setembro anterior. Trocado o time econômico, teve
início o ciclo intenso de crescimento e inclusão social que veio marcar a
gestão do presidente Lula.
A taxa de desocupação apresentou trajetória acentuadamente descendente
até o ano de 2014, mesmo considerando a oscilação para cima entre o final de
2008 e 2009 decorrente do impacto da crise financeira internacional.
Desocupação
e rendimentos
O enfraquecimento do mercado de trabalho se traduziu também em
queda do rendimento das pessoas ocupadas. O rendimento médio real habitual nas
áreas pesquisadas pela PME vem caindo desde fevereiro, na série que compara com
igual mês do ano anterior.
Em setembro, o rendimento médio habitual real caiu 4,3%, em
relação a setembro de 2014. Foi a primeira retração do rendimento real para o
mês de setembro desde 2003, quando havia recuado 13,1% (ver Gráfico 2). A queda
no mês passado foi especialmente acentuada no setor industrial e nas atividades
de serviços prestados às empresas.
A deterioração do mercado de trabalho em 2015 impressiona pela
velocidade com que acontece. Ainda que o horizonte se encontre muito turvo para
enxergar por quanto tempo a elevação da taxa de desocupação se estenderá e qual
patamar poderá alcançar, as perspectivas atuais são de agravamento, antes de
começar a melhorar.
Fonte: IBGE-PME
Publicado no Jornal da Cidade, 25/10/2015
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