Ricardo Lacerda
A urbanização se expandiu velozmente em Sergipe nos anos sessenta e
setenta. Em 1960, a população de Aracaju era de 115.716 habitantes. A cidade
possuía apenas 24.059 domicílios. Nenhum outro município sergipano contava com
uma população superior a cinquenta mil pessoas; o que mais se aproximava desse
contingente era Lagarto, com 47 mil habitantes.
A vida rural ainda predominava em Sergipe. Em 1960, em cada grupo de cem
habitantes, sessenta e um residiam no meio rural e apenas trinta e nove nos
centros urbanos, quando no censo demográfico de 2010, de cada grupo de cem
pessoas, setenta e quatro residiam na cidade e trinta e seis no meio rural. O
fato de ser mais rural do que hoje implicava também que a população era mais
dispersa no território.
Na área que corresponde a atual região
metropolitana, São Cristóvão contava, em 1960, com vinte mil habitantes, Nossa
Senhora do Socorro, com apenas sete mil e setecentos, em sua grande maioria
residindo no meio rural, e a Barra dos Coqueiros, com modestos quatro mil e
quatrocentos habitantes.
Aracaju respondia por apenas 15% da
população estadual e o conjunto das cidades da atual Grande Aracaju, 19% do
total. Em 1970, Aracaju, com 186.838 mil
habitantes, em 35.316 domicílios, já respondia por 21% da população sergipana. Em
1980, com população de 299.422 pessoas, respondia por 26% do total do estado e
o número de domicílios saltou para 59.003.
Depois de 1980, o crescimento demográfico
da capital desacelerou, enquanto a área metropolitana passou a se expandir rapidamente.
No censo de 2010, Aracaju representava 27% da população estadual, quase a mesma
participação de 1980, e o aglomerado da Grande Aracaju havia saltado para 40%.
Em linhas gerais, é possível afirmar que os anos setenta conformam o
início do período da grande transformação urbana de Aracaju que depois será
consolidado nas décadas de oitenta e noventa com a metropolização da capital, a
partir do crescimento intenso dos municípios de Nossa Senhora do Socorro e São
Cristóvão.
Ocupação
A expansão urbana no período foi acompanhada por importantes
transformações econômicas, sociais e culturais, em que o processo de
crescimento industrial e o aumento da presença do estado na economia, inclusive
com a estruturação do serviço público, são dois dos fatores mais decisivos. De
forma crescente, a economia, a política e a sociabilidade se tornaram marcadamente
urbanas.
Uma maneira de perceber essas transformações é comparar a estrutura de
ocupação de 1970 e a de 1980. O censo demográfico de 1970 aponta que 3 em cada
5 integrantes da População Economicamente Ativa (PEA) de Sergipe estavam
vinculados às atividades agropecuárias, o que equivale dizer que as outras duas
pessoas se dedicavam às atividades tipicamente urbanas, na indústria e no setor
de serviços (Ver Tabela).
O crescimento econômico acelerado
proporcionado pela industrialização nos anos setenta gerou um excedente
econômico que permitiu a uma parcela significativa da População Economicamente
Ativa se deslocar para as atividades de serviços, em uma diversidade de novas
ocupações. Em 1980, cinquenta e seis de cada cem integrantes da PEA estavam
vinculados à indústria e aos serviços. A PEA das atividades industriais mais do
que dobrou entre 1970 e 1980, passando de 30 mil para 61 mil pessoas.
São as ocupações vinculadas às atividades de Prestação de Serviço que
mais se expandem nos anos setenta, abrangendo os serviços pessoais, os serviços
domésticos e os de reparação. As atividades sociais, em grande parte,
desenvolvidas por instituições públicas, incluindo previdência, saúde e
educação, também cresceram muito no período. O comércio, transporte e
comunicação e as demais atividades vinculadas à administração pública que não
educação, saúde e previdência também conhecem expressivas expansão e
diversificação.
Os chamados profissionais liberais, considerando apenas aqueles não
vinculados ao setor público, entre advogados, dentistas e médicos (os não
vinculados a hospitais) e contadores, não chegavam a quinhentos, em 1970. Os
carroceiros, por outro lado, passavam de mil.
Em 1980, o quantitativo de pessoas nos então denominados serviços técnico-profissionais
já se aproximava de dois mil. O numero de bacharéis profissionais liberais havia
mais do que multiplicado por quatro ao longo dos anos setenta e o serviços de
arquitetura e engenharia e o de publicidade começam a ser estruturados.
Ao final dos anos setenta, o perfil ocupacional de Sergipe havia
assumido uma feição essencialmente urbana. Os grupos econômicos urbanos ganham
espaço frente às atividades rurais e os próprios embates políticos passam a ser
marcadamente urbanos.
Tabela. Sergipe. População Economicamente Ativa (PEA) em 1970 e 1980.
|
|||||
Setor e ramo
|
1970
|
1980
|
1970 a
1980
|
||
PEA
|
Participação (%)
|
PEA
|
Participação (%)
|
Taxa de Crescimento
|
|
Agropecuária
|
161.815
|
60,9
|
149.794
|
43,7
|
-7
|
Atividades industriais
|
30.336
|
11,4
|
61.325
|
17,9
|
102
|
·
Extrativa
|
2.353
|
5.002
|
|||
·
Transformação
|
14.107
|
26.345
|
|||
·
Construção
|
12.925
|
27.181
|
|||
·
SIUP
|
951
|
2.797
|
|||
Serviços
|
73.427
|
27,6
|
131.417
|
38,4
|
79
|
·
Comércio
|
15.131
|
5,7
|
28.530
|
8,3
|
89
|
·
Prestação
de serviços
|
22.884
|
8,6
|
43.650
|
12,7
|
91
|
·
Transportes
e comunicações
|
8.018
|
3,0
|
14.331
|
4,2
|
79
|
·
Atividades
sociais
|
10.319
|
3,9
|
25.058
|
7,3
|
143
|
·
Administração
Pública *
|
8.957
|
3,4
|
14.177
|
4,1
|
58
|
·
Outras atividades
|
8.118
|
3,1
|
5.671
|
1,7
|
-30
|
Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1970 e 1980. Obs*: Ocupações na
administração pública, excluindo educação e saúde públicas que são
contabilizadas em atividades sociais.
Publicado no Jornal da Cidade,
26/05/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário