Ricardo Lacerda
Os anos setenta foram marcados por algumas mudanças importantes na economia agrícola sergipana. As transformações de maiores alcances foram a consolidação do polo citrícola no sul do estado e o inicio de um novo ciclo expansivo do cultivo da cana-de-açúcar, impulsionado pelo Programa Nacional do Álcool, depois de mais de duas décadas de estagnação da atividade.
No semiárido, o algodão acentuou a sua trajetória de declínio iniciada na década anterior e, depois de uma tentativa de recuperação nos anos oitenta, desaparece do rol das culturas mais importantes do estado entre o final daquela década e os primeiros anos da década de noventa. O algodão que já havia ocupado, em 1959, 28 mil hectares de terra concentrados no semiárido, o censo de 1995/96 constata apenas 635 hectares.
Outro movimento de muito significado na atividade rural dos anos setenta foi a intensa expansão da pecuária, espelhada no aumento de 60% na área de pastagens plantadas em Sergipe. A pecuária que já respondia por 58% da utilização de terras, em 1970, se expandiu ao longo da década e em 1980 já representava quase 2/3 do total (65%). Segundo dados dos censos agropecuários, o plantel bovino saltou de 495 mil, em 1959, para 617 mil, em 1970, e ao final da década o censo de 1980 já contava 996 mil reses.
Mas o grande evento da agricultura sergipana na década de 1970 foi, sem sombra de dúvidas, a formação de uma economia regional própria no centro-sul do estado em torno da citricultura, criando uma estrutura social e de propriedade bem distinta das demais regiões do estado.
No censo agropecuário de 1960, com dados referentes a 1959, os números da laranja tinham pouco destaque, de tal forma que eram apresentados em um item de tabela denominado outras culturas permanentes, porquanto a tabulação definida nacionalmente não dedicava muito espaço a esta cultura. Naquele censo não se pode ainda constatar a formação de uma nova economia regional no sul do estado.
A laranja se concentrava no município de Boquim. Outros municípios que produziam parcela importante do total eram Campo do Brito, Lagarto, Itabaiana, Simão Dias, Itabaianinha e Riachão, mostrando que a cultura se situava relativamente mais a oeste do que hoje, embora já tivesse se enraizando na região sul.
Ao longo da década de sessenta, a atividade se consolida na região centro-sul, mantendo-se o município de Boquim como pólo irradiador da cultura. Além de Boquim, os maiores produtores, em 1970, eram Pedrinhas, Itabaianinha, Riachão, Arauá e Umbaúba, confirmando a expansão em direção ao sul do estado.
Fonte: IBGE. Censos Agropecuários de 1960, 1970 e 1980.
Ao longo dos anos setenta, a citricultura acelera sua expansão se estendendo de 4.639 hectares para 16.126 hectares enquanto a produção saltou de 208 milhões de frutos para, quase um bilhão (ver Gráfico 1), consolidando-se como a principal cultura agrícola permanente de Sergipe e passando a rivalizar em prestígio com a cana-de-açúcar, concentrada nas regiões do Cotinguiba e do Japaratuba. Fatos marcantes na expansão da citricultura foram a criação, em 1971, da Estação Experimental de Boquim, vinculada à Superintendência da Agricultura e Produção (SUDAP), e a instalação da FRUTENE, em 1977, a primeira indústria esmagadora de laranja do estado, situada no município de Estância (SE), o que propiciou a exportação de suco concentrado de laranja (FCOJ).
Cana-de-açúcar
Outro processo de grande significado para a agricultura sergipana foi o inicio de uma nova fase de expansão da cana-de-açúcar na segunda metade da década de setenta. Os estímulos criados pelo Programa Nacional do Álcool (Proálcool), como resposta ao choque do petróleo que desestabilizou as contas externas do país, vão criar oportunidades para nova expansão da cultura em uma parcela muito ampla do território nacional.
Depois de passar os anos cinqüenta e sessenta com a produção praticamente estagnada, perdendo espaço para outros estados de dentro e fora da região Nordeste, a produção de cana-de-açúcar em Sergipe deu um grande salto a partir da safra de 1976/77. Ao final da década de setenta, a produção já atingia 965 mil toneladas, 93% superior à produção média da década de sessenta, que havia sido apenas 16% maior do que a da média dos anos cinqüenta (ver Gráfico 2).
A produção da cana-de-açúcar foi estimulada pela demanda proporcionada pela produção dos veículos movidos a etanol a partir do final dos anos setenta. Na segunda metade da década seguinte, um problema grave de desabastecimento desestruturou o programa do álcool. Somente a partir da safra de 2003/2004, a safra da cana-de-açúcar voltou a se expandir, agora impulsionada pela demanda da crescente frota de veículos híbridos, ou flexfuel.
Fonte: Mapa. Anuário Estatístico de Agroenergia. 2009.
*Professor do Departamento de Economia da UFS e Assessor Econômico do Governo de Sergipe.
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Publicado no Jornal da Cidade, 12/05/2013
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