Ricardo Lacerda
Partindo de uma base produtiva muito estreita, a indústria sergipana
apresentou notável crescimento ao longo dos anos setenta. O PIB industrial
cresceu a taxas médias de 13,5% ao ano. Ao final da década, a indústria
sergipana, considerando as atividades de extração mineral e a indústria de
transformação, era 3,6 vezes maior do que no seu início, apresentando uma velocidade
de expansão muito acima da média da região Nordeste, que também vinha crescendo
de forma acelerada.
A taxa média de crescimento da indústria nordestina na década alcançou 9,1%
ao ano. Apesar de elevada, foi bem inferior a alcançada pela indústria de
Sergipe, de tal forma que em 1980 o PIB industrial nordestino era 2,4 vezes o
do início da década, segundo os dados do Departamento de Contas Regionais da
SUDENE.
Duas foram as forças que aceleram o crescimento industrial de Sergipe
nos anos setenta. De um lado, a produção de petróleo, iniciada nos anos
sessenta, continuou se expandindo ao longo de toda a década, de modo que em
1980 atingia 2,7 milhões de m3, 54% acima da produção de 1970. Em
1980, a produção de petróleo de Sergipe era a segunda maior do Brasil, atrás apenas
da produção da Bahia, representando 25,3% da produção nacional dessa primeira
etapa da exploração de petróleo no país, anterior às grandes descobertas em
águas profundas na bacia de Campos, no Rio de Janeiro.
A segunda fonte de crescimento foi a expansão dos investimentos na
indústria de transformação estimulados pela política de incentivos fiscais da
SUDENE que propiciou a modernização de antigas unidades industriais, sobretudo
no setor têxtil, e a implantação de novas plantas industriais, tanto nos
segmentos tradicionais da indústria sergipana como em novos setores. Como esses fatores, em conjunto, não parecem explicar aquelas taxas tão elevadas medidas pela SUDENE, é possível que parte desse crescimento decorra do efeito da elevação dos preços do petróleo na década, impulsionados pelos dois choques internacionais.
Indústria de
Transformação
Na verdade, nos anos setenta, o crescimento da indústria sergipana teve
que recuperar as perdas da década anterior em que a indústria têxtil foi
fortemente afetada pelo avanço da produção da região Sudeste e Sul sobre o
mercado regional, até então relativamente cativo da produção local, causando
fechamento de unidades e desemprego. Enquanto o Censo Industrial de 1960
registrou 39 fábricas têxteis que ocupavam 5.973 pessoas (dados de 31 de
dezembro de 1959), o Censo Industrial de 1970 vai encontrar 22 fábricas que empregavam
3.652 pessoas.
A crise da indústria têxtil nordestina nesse período, muito intensa em
Sergipe, fez com que aquela que era a mais importante atividade industrial do
estado visse sua participação no Valor da Transformação Industrial recuar de
40%, em 1960, para 29,1%, em 1970.
Nos anos setenta, o setor têxtil sergipano voltou a se expandir, de tal
forma que em 1980 o número de fábricas instaladas aumentou para 41 unidades e o
pessoal ocupado para 4.367.
As principais novidades na indústria de transformação advieram da
instalação de um grande número de fábricas de confecções (vestuário, calçados e
artefatos de tecidos), algumas de porte razoável, que passaram a responder por
7,7% do Valor da Transformação Industrial em 1980, quando em 1970 representavam
apenas 0,6%. A diversificação caminhou também direção à produção metalúrgica,
mecânica e ao gênero de indústrias diversas (ver Tabela).
Essa diversificação, ainda que relativamente restrita, reduziu a
participação dos três gêneros mais importantes da indústria sergipana (produtos
alimentares, têxtil e produtos minerais não metálicos) de 89% do Valor da
Transformação Industrial de 1970, para 67% em 1980.
Tabela. Sergipe. Participação dos Gêneros Industriais no Valor da
Transformação Industrial em 1970 e 1980 (%)
|
|||
Discriminação
|
1970
(%)
|
1980
(%)
|
Variação da participação
(%)
|
1. INDÚSTRIA
EXTRATIVA
|
1,5
|
0,6
|
-0,9
|
2. INDÚSTRIA DE
TRANSFORMAÇÃO
|
98,5
|
99,4
|
0,9
|
- Têxtil
|
29,1
|
29,3
|
0,2
|
- Produtos Alimentares
|
40,2
|
24,2
|
-16
|
- Minerais Não Metálicos
|
18,4
|
13,4
|
-5
|
- Diversos
|
0,2
|
8,3
|
8,1
|
- Vestuário/Calçados/
Artef. Tecidos
|
0,6
|
7,7
|
7,1
|
- Metalurgia
|
0,9
|
3,9
|
3
|
- Mecânica
|
x
|
2,1
|
x
|
- Bebidas
|
0,7
|
1,6
|
0,9
|
- Editorial e Gráfica
|
1,9
|
1,4
|
-0,5
|
- Madeira
|
1,7
|
1,2
|
-0,5
|
- Fumo
|
x
|
1,1
|
x
|
- Mobiliário
|
1,5
|
0,9
|
-0,6
|
- Química
|
0,8
|
0,9
|
0,1
|
- Materiais Plásticos
|
0,9
|
0,9
|
|
- Couros/Peles/Similares
|
0,3
|
0,7
|
0,4
|
- Extração de Minerais
|
1,5
|
0,6
|
-0,9
|
- Papel e Papelão
|
x
|
0,5
|
x
|
- Borracha
|
x
|
0,5
|
x
|
- Material de Transporte
|
1,2
|
0,4
|
-0,8
|
- Perfumaria/Sabão/Velas
|
1
|
0,3
|
-0,7
|
- Produtos
Farmacêuticos/Medicinais
|
x
|
x
|
x
|
- Material
Elétrico/Comunicação
|
-
|
x
|
x
|
TOTAL
|
100
|
100
|
Fonte: IBGE. Censos Industriais de 1960 e 1970.
Nos anos setenta, já se iniciava toda uma movimentação, liderada pelo economista Aloísio de Campos, para exploração dos sais de potássio recém descobertos pela Petrobras. Em evento realizado em abril de 1972, o economista já levantava a bandeira da exploração do potencial mineral de Sergipe por meio da criação de um pólo petroquímico a partir da exploração de gás natural. Em um período em que, em âmbito nacional, estavam sendo definidos os futuros pólos petroquímicos do país, Sergipe lutava para receber uma parte dos novos projetos estratégicos estabelecidos nos Planos Nacionais de Desenvolvimento. Marchas e contramarchas, todavia, adiaram para a década seguinte os investimentos que viriam a estruturar uma nova base industrial no estado, a partir da implantação da Unidade de Produção de Gás Natural.
Publicado no Jornal da Cidade,
19/05/2013
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