Ricardo
Lacerda
Em
um país campeão de desigualdades regionais de desenvolvimento como o nosso devem-se
louvar os esforços que vêm sendo feitos desde 2003 para retomar o planejamento
regional. Naquele ano foi instituída a chamada Nova Política de Desenvolvimento
Regional, que se encontra em processo de reformulação nesse momento. O caminho
é árduo. Não tem sido fácil passar das intenções para as realizações e as
questões atinentes ao desenvolvimento regional são muitas e de difícil
encaminhamento no que tange construir consenso e angariar apoio social e
político para que sejam disponibilizados recursos no montante exigido pelo
desafio.
Partindo-se
do princípio geral de que se deve promover a redução das desigualdades regionais
emerge toda uma série de questões relativas aos objetivos e estratégias que devem
ser priorizados. Destacamos dois tipos de questões: o primeiro diz respeito à
necessidade de equilibrar as políticas voltadas para buscar a convergência no
potencial produtivo das regiões e aquelas direcionadas a promover uma maior
equidade na renda e no acesso às políticas públicas; o segundo refere-se às
diversas escalas espaciais em que devem ser operadas as políticas.
O PIB e a renda
A publicação do IPEA “A década inclusiva (2001-2011): desigualdade, pobreza e políticas de renda” trouxe novamente à baila uma questão que julgo relevante no debate do desenvolvimento regional, que diz respeito à tendência acentuada nas últimas duas décadas de proceder à substituição dos indicadores de produção pelos indicadores de rendimento e de acesso ao consumo e às políticas públicas para avaliar o progresso de uma sociedade. A questão não é trivial, tem importantes implicações.
O
PIB pode ser entendido como um indicador do desenvolvimento da capacidade
produtiva de determinado sistema econômico e o PIB per capita, portanto, dessa
capacidade média por habitante, sendo pouco indicado para medir a situação
socioeconômica das populações. Esses indicadores devem ser considerados nas
políticas que visam promover o potencial produtivo da região e não nas voltadas
ao atendimento de suas carências sociais.
Os
indicadores de renda e de acesso ao consumo e às políticas públicas a partir de
pesquisas domiciliares têm sido cada vez mais empregados. Eles têm o mérito de
desmitificar a arraigada percepção de que o desenvolvimento das forças produtivas
é um fim em si próprio e servem para dimensionar as carências de renda e de
serviços sociais de uma parcela muito ampla da população, o que tem auxiliado a
focalizar as políticas sociais nos mais necessitados.
Escalas
territoriais
As
diferenças entre o PIB per capita e a renda per capita em recortes espaciais
menores como município e microrregiões podem ser muito amplas. Municípios que
sediam empreendimentos de grande porte costumam apresentar PIB per capita
elevado que podem ou não carrear renda e acesso ao consumo para a maior parte
da população residente.
Sediados em determinados municípios, grandes empreendimentos econômicos tendem a
potencializar a capacidade produtiva em uma escala espacial maior, que pode ser
mesorregional, macrorregional, ou até nacional. Defronta-se com uma questão da
escala do empreendimento versus a escala espacial de seus fluxos e ligações
econômicas, o seu domínio territorial. Naturalmente, empreendimentos de porte menor
dizem respeito, em geral, ao potencial produtivo local.
Os
investimentos em infraestrutura produtiva, como portos, aeroportos e eixos
rodoviários ou ferroviários têm o condão de articular uma diversidade de
produções locais a mercados mais amplos, e, na maioria dos casos, devem ser
entendidos como ativos que extrapolam uma localidade específica. Políticas
regionais voltadas para a ampliação da oferta de capacidade produtiva devem,
portanto, levar em consideração as desigualdades de potencial produtivo na
escala territorial condizente com essas estruturas e que podem estar refletidas
no PIB per capita dessas dimensões espaciais relativamente maiores.
Harmonização
O
desafio da política de desenvolvimento regional é harmonizar as políticas
voltadas para potencializar a competitividade das economias regionais, em sua
escala territorial relevante, e aprofundar a democratização por meio do acesso
a renda e a políticas públicas. A figura apresentada a seguir sintetiza os dois eixos
fundamentais dessa política e a discriminação de alguns dos seus componentes,
pensados para a realidade da região Nordeste.
Fonte: Elaborado pelo
autor.
Nas tarefas de eleger prioridades e monitorar
os êxitos e as carências, a seleção de bons indicadores e a definição da
dimensão territorial relevante fazem toda a diferença para que o progresso não
se dê apenas “na média” do recorte espacial selecionado e que atinja de fato as
populações e os territórios mais carentes.
Publicado no Jornal da Cidade de 30/09/2012
Sou de Maceió-AL e estive em Aracaju neste final de semana quando li seu artigo no Jornal da Cidade. Muito pertinente os apontamentos colocados em relação a política de desenvolvimento regional, espero que as cabeças pensantes da política e da economia de nossos estados entendam a importância de desenvolver a região e não exclusivamente o município A ou B, juntos os municípios podem captar muito mais investimentos logísticos e estruturantes de uma economia. Estarei acompanhando as próximas postagens direto no blog. Abraços.
ResponderExcluirMuito Obrigado pelo comentário Davi Paulo. O planejamento regional precisa articular mesmo as várias esferas de governo. E prever investimentos estrturantes que as a rticulem.
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