Ricardo Lacerda
O Fundo Monetário Internacional
(FMI) reviu na semana que passou as projeções para a economia mundial em 2012 e
2013. A instituição constatou a lentidão da recuperação da economia
norte-americana, a instabilidade de sua situação fiscal e as indefinições em relação
a essa questão para 2013. Revelou ainda preocupações com as finanças do sistema
bancário e os riscos de fuga de capitais em países na Europa e indicou que o
agravamento recente do cenário europeu deverá contaminar a saúde financeira de economias
emergentes. Em conjunto, apresentou um quadro de deterioração em relação a
projeções feitas em relatórios anteriores para 2012, sem perspectivas de
melhorias expressivas para 2013.
Surpreendentemente, considerando
a postura adotada pela instituição nas crises que atingiram o terceiro mundo nos
anos oitenta e noventa, o FMI tem observado que os países em posições mais
críticas hoje enfrentarão enormes dificuldades para cumprir os compromissos de
saneamento fiscal se medidas para reanimar suas economias não forem
implementadas.
Em relação ao Brasil,
especificamente, o FMI alertou, no relatório de estabilidade financeira, para
os riscos de o elevado endividamento comprometer a capacidade de pagamento das
famílias caso os desdobramentos da crise na Europa impactem negativamente o
mercado de trabalho e os rendimentos internos. Reconhece, todavia, que o país
não corre os mesmos riscos de outros países ditos emergentes no que tange à
fragilidade das contas externas.
Projeções
A nova projeção do FMI é de que a
economia mundial deverá crescer 3,3%, em 2012, e 3,6%, em 2013. Apesar da desaceleração geral das taxas de
crescimento nos últimos dois anos, a China e outros países emergentes
continuarão empurrando para cima a média mundial enquanto as economias
avançadas, muito especialmente as dos países da endividados da Zona do Euro, a puxarão
para baixo.
O relatório da instituição sobre as perspectivas da economia mundial, definitivamente, não formula cenário alvissareiro. Acrescente-se que na semana anterior o economista-chefe da instituição, Olivier Blanchard, concedeu entrevista prognosticando dez anos de dificuldades para a economia mundial, a contar de 2007.
O exame do gráfico apresentado, a
seguir, não deixa dúvida a respeito desse segundo mergulho que tira o fôlego da
economia mundial, após o ensaio de recuperação em 2010. Nos últimos dois anos,
os principais países e grupos de países registraram trajetórias acentuamente descendentes,
com a notória exceção da economia norte-americana que manteve relativamente
estáveis as taxas anuais de crescimento, adiando as tão aguardadas retomadas do
ritmo de atividade e de geração de emprego.
A recaída da economia dos países
avançados fez despencar a taxa de expansão do volume do comércio mundial que,
depois de crescer 12,6% em 2010, registrou 5,8% em 2011, e deve se limitar a
3,2% em 2012. Esse cenário restritivo estimulou a adoção de novas medidas de
defesas dos mercados internos, o que somente agravou as perspectivas do
comércio mundial. Países emergentes como a China e o Brasil viram-se
constrangidos a buscar no mercado interno os vetores de expansão de suas
economias.
Fonte: FMI. WEO, outubro de 2012.
Brasil
O FMI reviu a projeção de
crescimento do PIB brasileiro em 2012 para 1,5%, frente aos 2,5% esperados na
edição anterior do relatório. Nesse último trimestre do ano, a economia
brasileira já deve estar operando com taxas de crescimento anualizadas de 4%, patamar
que também se projeta para o ano de 2013, ver Gráfico.
Há uma evidente má vontade de
parte dos analistas quando finge desconhecer as restrições que a deterioração
do cenário externo impõe ao Brasil, atribuindo o ritmo de crescimento pífio dos
últimos dois anos a limitações do potencial de expansão do PIB derivadas da
estagnação da produtividade e da reduzida taxa de poupança interna.
O crescimento brasileiro foi
atropelado nesses dois últimos anos pela abrupta reversão do cenário externo,
em um momento em que eram adotadas internamente medidas restritivas aos
excessos de 2010. Desde meados de 2011, todo um redesenho da política vem sendo
implementado para conjugar o reaquecimento da demanda, a fim de reverter o
pessimismo que se disseminava, e preparar as forças da produção para crescer em
meio a um cenário externo instável e restritivo.
Publicado no Jornal da Cidade em 15/10/2012
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