Ricardo Lacerda
A expansão urbana nos anos sessenta e
setenta transformou a estrutura ocupacional das cidades sergipanas. Se o
crescimento acelerado de Aracaju foi o evento mais marcante no período, os
demais municípios também se urbanizaram em ritmo intenso. As atividades
agrícolas, até então majoritárias em termos da ocupação na ampla maioria dos
municípios, vão perder espaço rapidamente para as ocupações tipicamente
urbanas, vinculadas a indústria de transformação, construção civil e
principalmente para as atividades de serviço, sejam aquelas realizadas pelo
setor privado, como o comércio e a prestação de serviços pessoais, de
conservação e manutenção e de serviços técnico-profissionais, sejam as
vinculadas ao setor público.
Um aspecto que deve ser levado em conta
é que, nos anos sessenta, muitas fábricas têxteis no interior do estado, assim
como no interior de todo o Nordeste, encerraram a atividade ou reduziram
fortemente o emprego em virtude da rápida conquista do mercado regional pelos
produtos oriundos das unidades produtivas das regiões Sudeste e Sul. Algumas
dessas fábricas eram os principais empregadores nos municípios e a perda do
emprego decorrente do estrangulamento do setor trouxe graves impactos econômicos.
Municípios como São Cristóvão, Estância,
Laranjeiras, Propriá, Neópolis e Simão Dias, por diferentes motivos, perderam
espaço na ocupação do setor secundário sergipano na década de sessenta. Entre
todos eles, São Cristóvão foi o que mais foi atingido pela crise no seu setor
industrial. Em todos eles, entretanto, as atividades do setor terciário
avançaram fortemente e ampliaram suas participações na População Economicamente
Ativa (PEA).
Anos setenta
Nos anos setenta, a estrutura
ocupacional nos municípios sergipanos continuou apresentando uma redução
expressiva da parcela População Economicamente Ativa que se dedicava a
atividades agropecuárias. Apesar do avanço da urbanização na década anterior, o
censo demográfico de 1970 ainda constatava que, entre dez dos municípios de
base econômica mais ampla, seis deles (Lagarto, Simão Dias, Tobias Barreto,
Itabaiana e Neópolis) possuíam sessenta por cento ou mais da PEA vinculada ao
setor agrícola (ver Tabela).
Ao longo dos anos setenta a PEA
agrícola perdeu participação nos dez municípios selecionados, enquanto a participação
da PEA do setor serviços aumentou em todos eles. A atividade industrial também elevou
o peso na estrutura ocupacional de quase todos.
Mesmo municípios em que a indústria
tinha sofrido importante queda na PEA nos anos sessenta, nos anos setenta essa
participação voltou a aumentar por conta da ampliação dos investimentos
realizados na modernização e na ampliação do parque produtivo já existente e da
instalação de novos empreendimentos industriais. A expansão da construção
civil, associada tanto aos investimentos em infraestrutura como aos programas
habitacionais, concorreu para ampliar a participação da PEA industrial.
Tabela. Sergipe.
Municípios selecionados. Participação dos Setores na População Economicamente
Ativa (PEA) em 1970 e 1980. (%)
|
||||||
MUNICÍPIOS
SELECIONADOS
|
AGROPECUÁRIA
|
INDÚSTRIA
|
SERVIÇOS
|
|||
1970
(%)
|
1980
(%)
|
1970
(%)
|
1980
(%)
|
1970
(%)
|
1980
(%)
|
|
ARACAJU
|
3,9
|
1,4
|
26,2
|
26,8
|
69,9
|
71,8
|
ESTÂNCIA
|
34,6
|
21,7
|
24,7
|
33,0
|
40,7
|
45,3
|
ITABAIANA
|
62,5
|
49,4
|
14,5
|
12,6
|
23,0
|
38,1
|
LAGARTO
|
78,3
|
57,7
|
5,4
|
10,6
|
16,3
|
31,8
|
LARANJEIRAS
|
55,3
|
34,3
|
19,8
|
34,3
|
25,0
|
31,3
|
NEÓPOLIS*
|
59,8
|
46,9
|
21,5
|
28,1
|
18,7
|
25,0
|
PROPRIÁ
|
21,7
|
14,2
|
21,7
|
25,1
|
56,5
|
60,7
|
SÃO CRISTÓVÃO
|
49,5
|
27,7
|
24,8
|
29,6
|
25,7
|
42,6
|
SIMÃO DIAS
|
71,1
|
48,0
|
8,4
|
12,4
|
20,5
|
39,6
|
TOBIAS BARRETO
|
66,5
|
47,7
|
8,1
|
7,5
|
25,4
|
44,8
|
Fonte: IBGE. Censos demográficos de 1970 e 1980. Obs. Em 1970 e 1980 o território do município
de Santana de São Francisco ainda integrava o município de Neópolis.
Ao final dos anos setenta, apenas em Lagarto, entre os municípios selecionados, as atividades agropecuárias ainda representavam mais da metade da PEA. Em todos os demais, a ocupação tipicamente urbana superava a agrícola. Em Laranjeiras e Estância, a PEA industrial saltara para mais de 30% da PEA total, e em seis dos dez municípios a PEA industrial já representava mais de 20%.
Mais são as atividades de serviço as que mais avançam. Em 1980, somente em Neópolis elas participam com menos de 30% da PEA. Em Aracaju, já representavam 71,8%, em Propriá, 60%, em Estância, 45,3% e em Tobias Barreto, 44,8%.
Publicado no Jornal da Cidade em 02/06/2013
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