Ricardo Lacerda
Se a evolução da economia de Sergipe nos anos setenta ficou marcada pela
expansão da exploração do petróleo e pela modernização e diversificação do
parque industrial incentivado pela SUDENE, os anos oitenta se caracterizaram
por uma transformação mais profunda de sua estrutura industrial, com a implantação
de uma cadeia produtiva mínero-química. A exploração da base de recursos
minerais, luta histórica do povo sergipano, teve impactos notáveis sobre o
crescimento do PIB e do nível de renda.
Do ponto de vista da expansão urbana, enquanto os anos setenta foram
marcados pelo crescimento acelerado de Aracaju e da intensa migração do campo
para os centros urbanos em todo o estado, os anos oitenta registram a
metropolização da capital, incorporando os municípios de Nossa Senhora do
Socorro e São Cristóvão à sua dinâmica de expansão.
Pólo mínero-químico
Grandes projetos industriais nos segmentos de gás natural e
fertilizantes, implantados pelo Sistema Petrobras, mudaram a face e a dinâmica
da economia sergipana daí por diante. Previstos no âmbito do II Plano Nacional
de Desenvolvimento (1974-1978) do Governo Geisel, como parte da estratégia para
reduzir a forte dependência externa de insumos básicos, seguidos atrasos
fizeram com que somente entrassem em operação na década seguinte.
Em 1981, a Petrobras pôs em funcionamento a Unidade de Produção de Gás Natural
(UPGN) no Terminal Marítimo de Carmópolis – TECARMO, na Atalaia. O fornecimento de gás natural viabilizou, por
sua vez, a implantação, em 1982, da Nitrofértil, , hoje Fafen, dedicada à
produção de amônia e uréia.
A implantação de um projeto com a dimensão e características da
Nitrofértil causou fortes impactos em Sergipe que contava, até então, com uma base
produtiva ainda relativamente acanhada, mesmo considerando a diversificação
conhecida nos anos setenta. Para a instalação da unidade foi necessária a
construção da adutora do São Francisco, a fim de equacionar a demanda de água do
empreendimento, mas que passaria a suprir também as necessidades crescentes de
Aracaju .
A instalação da Nitrofértil também exigiu a ampliação da rede de energia
elétrica e a revitalização da ferrovia de ligação com a Bahia, assim como foi fundamental
para viabilizar a implantação, anos mais tarde, do Terminal Portuário Ignácio
Barbosa, no município da Barra dos Coqueiros.
Em 1986, a então Petrobras Mineração S/A (Petromisa) finalmente começou
a operar a unidade da mina Taquari- Vassouras de extração e beneficiamento da
silvinita para a produção de potássio, projeto cuja implantação começara ainda
em 1979. Com a produção comercial iniciada em 1987, Sergipe passava a contar,
de fato, com a 1ª unidade de produção potássio do hemisfério sul e que
permanece, até os dias de hoje, explorada sob contrato de leasing pela Vale, como
a única planta de produção do nutriente agrícola instalada no Brasil.
Urbanização
O crescimento populacional de Aracaju, acelerado nas décadas de sessenta
e setenta, assumiu nova face nos anos oitenta, transbordando em direção aos
municípios vizinhos. Depois de aumentar 61%, entre 1960 e 1970, e 60% nos anos
setenta, a população da capital passa a se expandir em ritmo mais lento a
partir da década de oitenta, enquanto o número de habitantes dos demais municípios
da área metropolitana, em conjunto, mais do que dobrou entre 1980 e 1991 (ver
Gráfico).
Fonte: IBGE. Censos demográficos. Obs: Considerou-se
como Área Metropolitana os municípios de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Nossa
Senhora do Socorro e São Cristóvão.
O grande destaque foi o município de Nossa Senhora do Socorro que, com a
implantação dos conjuntos habitacionais, saltou de 13.688 habitantes, em 1980,
para 67.574 habitantes no censo demográfico seguinte, em 1991. São Cristóvão,
cuja população se mantivera praticamente estagnada nos anos sessenta e
apresentara crescimento populacional de apenas 18% nos anos setenta, quase
dobrou a sua população entre 1980 e 1991, passando de 24.134 habitantes para
45.558.
A implantação dos grandes projetos de exploração da base de recursos
minerais concorreu para acentuar a concentração populacional em Aracaju e no
seu entorno. Foi responsável também por atenuar os impactos crise do
endividamento externo da economia brasileira sobre a economia local, mas, na segunda metade da década,
o ciclo de transformação estrutural da economia sergipana é interrompido diante do agravamento da situação financeira nacional.
Publicado no Jornal da Cidade, em 24 de junho de 2013
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