Ricardo Lacerda
A taxa de expansão do Produto Interno
Bruto (PIB) de 0,6% no 1º trimestre frustrou a expectativa a respeito do fôlego
da retomada do crescimento brasileiro em 2013. As projeções para o fechamento
do ano foram refeitas para baixo. Um certo pessimismo tomou conta quanto às
possibilidades de crescimento do país em bases mais sólidas e sustentáveis. A
mediana das projeções em 31 de maio caiu para 2,77%, abaixo, portanto, dos
simbólicos 3%.
Muitos se perguntam por que os
estímulos à produção adotados desde meados de 2011, que contemplaram a forte redução
das taxas de juros, a desvalorização do câmbio, a oferta de crédito em
condições especiais para investimento pelo BNDES, a redução no custo da energia
elétrica e a as desonerações na folha de pagamentos, entre outros, tardam tanto
para surtir os efeitos desejados e os produzem aquém do esperado. Em outras
palavras, por que o país se defronta com tanta dificuldade para retomar o ciclo
virtuoso de crescimento.
Fatores
Fatores externos e internos que
explicariam o desempenho abaixo do esperado foram esmiuçados. Entre aqueles, a
desaceleração do crescimento da China e os seus efeitos sobre os preços das
commodities no mercado internacional, os desarranjos da economia argentina, um
dos nossos principais parceiros comerciais, e o agravamento da crise europeia
mais do que contrabalançariam os efeitos positivos da recuperação, promissora,
ainda que moderada, da economia americana e das políticas monetárias
expansionistas do Japão. Assim, enquanto os sintomas de melhoria são apenas
isso, sintomas, a economia europeia já enfrenta o seu sexto trimestre de
declínio e a desaceleração do crescimento chinês confirma que mesmo o gigante
asiático não passa incólume frente à deterioração do cenário internacional.
Entre os fatores internos, a corrosão
do poder de compra pela inflação e o grau de endividamento das famílias refletiriam
o limite do poder de empuxe do consumo quando não é acompanhado pela expansão dos
investimentos, enquanto a piora dos fundamentos da economia, com desempenho
ruim da balança comercial e a pressão dos preços, abalou a confiança do
empresariado em relação às perspectivas de crescimento.
Retomada
Em meio a tantos fatores restritivos,
vale a pena pontuar alguns fatos substantivos para em seguida buscar avaliar as
possibilidades de engrenar a retomada em bases mais robustas. O primeiro deles
é o de que, mesmo que em ritmo abaixo do esperado e de forma ainda vacilante,
como sói acontecer em momentos de incerteza, a economia brasileira vem
aumentando paulatinamente o ritmo de expansão do PIB (ver Gráfico).
Na série de crescimento em relação ao
trimestre anterior, descontados os efeitos sazonais, o ritmo de aumento do PIB
trimestral reverteu, desde o último trimestre de 2011, uma trajetória
fortemente descendente para assumir uma claramente ascendente, ainda que com
algumas oscilações (ver linha tracejada que representa essa série em termos
anualizados).
Na comparação com o mesmo trimestre do ano
anterior, a aceleração do crescimento, mesmo moderada, se iniciou no 3º
trimestre de 2012 e a expansão acumulada em quatro trimestres apresentou o
primeiro resultado de inflexão para cima no primeiro trimestre de 2013.
Fonte: IBGE.
Em conjunto, as trajetórias das três
séries não deixam dúvidas de que a economia brasileira está reencontrando,
mesmo aos tropeções, o caminho da retomada do crescimento em meio a um mundo
convulsionado e com perspectivas incertas.
O segundo fato positivo é que a evolução
da economia brasileira começa a mostrar alguns resultados qualitativos importantes,
certamente como efeitos das medidas de estímulo adotadas. Nos dois últimos
trimestres, o investimento deu os primeiros passos em direção a uma recuperação
que se espera sustentada e passou a apresentar taxas de crescimento acima das registradas pelo consumo das famílias. Os resultados da Pesquisa Industrial
Mensal (PIM) do IBGE mostram que a indústria interrompeu no trimestre encerrado
em abril a longa trajetória de queda em relação ao mesmo trimestre do ano
anterior que havia se iniciado no último trimestre de 2011. O mais significativo é que, em todos os meses
de 2013, a produção física de bens de capital apresentou crescimento.
Para finalizar, os movimentos mais
recentes da política econômica, sintetizados na fala recente do presidente do
Banco Central, deixaram patente que a resposta da economia brasileira ao
segundo mergulho da crise financeira internacional entrou em uma nova etapa em
que a expansão do investimento, com seus efeitos na expansão da capacidade produtiva
e na demanda agregada, deve seguir à frente do crescimento do consumo.
A ampliação projetada para a produção
do petróleo do pré-sal, os novos investimentos nesse segmento a partir do leilão
recém realizado, as frentes de expansão dos investimentos privados abertas a
partir da mudança da lei dos portos e do
programa de concessão de infraestrutura de transporte são fatores que
concorrerão para o crescimento da taxa de investimento da economia.
As taxas de crescimento de 2013 e 2014 não deverão ser exuberantes, mas as
perspectivas de retomada dos investimentos vão alicerçar a recuperação, que já se
encontra em curso, em bases mais sólidas e sustentadas.
Publicado no Jornal da Cidade, em 09 de junho de 2013
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