Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 20 de janeiro de 2013

O ponto de virada




Ricardo Lacerda

O debate econômico no Brasil se mostrou muito estressado nas últimas semanas. A corda esticou muito e as já conhecidas posições dos contendores se tornaram mais explicitamente antagônicas, uma espécie de Fla X Flu, com direito até a xingar o técnico, no caso o ministro Guido Mantega, a quem têm sido direcionadas manifestações pouco gentis, aqui e alhures.

Excluindo o rame-rame de sempre que, na maioria dos casos, é motivado por interesses menores, com o intuito de ganhar espaço na mídia para desgastar quem ocupa os postos de comando, o cerne do debate está no fato de que a equipe econômica vem adotando uma série de medidas menos ortodoxas voltadas para ativar a economia e que têm sido criticadas por alguns setores.

Reativar

Desde que, em meados de 2011, frustrou-se o que parecia ser uma volta por cima da economia mundial, após a crise de confiança de 2008 e 2009, a política econômica tem se mostrado mais ativa, alguns diriam intervencionistas. Vem fazendo uso de um amplo espectro de medidas fiscais, monetárias, creditícias e cambiais para ativar as variáveis da demanda interna a fim de impulsionar o nível de atividade e assim recompor a confiança dos agentes privados que foi abalada por sucessivos trimestres de baixo desempenho econômico.

Como os resultados concretos têm demorado e ficado abaixo do esperado, abrem-se espaços para a amplificação das posições críticas.

Algumas das medidas de ativação dos investimentos têm alcance mais estrutural, sejam porque impactam os preços relativos, tornando algumas atividades mais atrativas do que outras, sejam porque podem provocar, no médio prazo, forte deslocamento para cima nas condições de oferta da produção, como a redução nas tarifas de energia elétrica e a desoneração da folha de pagamento. Como em todas as mudanças há setores vencedores e perdedores, os últimos usam sem culpa, às vezes abusam, do direito de espernear.

Nova matriz

Aqueles que defendem as medidas adotadas não apenas asseveram que a atividade econômica já se encontra em plena retomada do crescimento, mesmo que abaixo do esperado, como o Brasil teria transitado em direção a uma nova matriz econômica, que favorece a produção, o crescimento e a ampliação do mercado interno.

Juros, câmbio, tributos e salário, além da margem de lucro, são os principais preços da economia, que remuneram setores específicos da sociedade, sempre atentos para defender seus interesses. As medidas dos últimos dois anos alteraram de forma profunda dois desses preços, juros e câmbio, com efeitos poderosos sobre o conjunto do sistema econômico.

Juros mais baixos reduzem o custo de capital, podendo se constituir uma importante diminuição do custo dos investimentos. Favorecem a produção e retiram os detentores de ativos financeiros da posição confortável de se remunerarem a custa do tesouro nacional e das famílias e empresas endividadas. A redução de juros, todavia, não se transmite imediatamente em decisões de investimento. É necessário confiança em relação futuro. 

Câmbio menos valorizado favorece a produção interna frente à produção importada, mas, naturalmente, desagrada o comércio e os consumidores. Ao se mudar o patamar do câmbio de R$ 1,70 para R$ 2,10 cálculos são refeitos em favor de insumos e bens de consumo produzidos internamente. A reação não é imediata ou proporcional porque é necessário tempo e adaptações para passar a produzir e distribuir os produtos domésticos, além de, novamente, confiança na sustentabilidade do novo cenário.

As mudanças na política envolvem riscos e existem limites na forma do governo operá-las. Esse é o ponto em que se apoiam as críticas. E, algumas vezes, a equipe econômica força a mão, além do recomendável.

Desvalorização do câmbio e redução de juros expressivas implicam mudanças importantes nos preços relativos e não há como não ter efeitos de grande monta em uma economia de mercado com potencial produtivo como a brasileira.  Têm forte impacto positivo sobre a competitividade da produção interna, que se deteriorou muito nos últimos anos à medida que o intenso ciclo de crescimento econômico, acompanhado de valorização cambial, pressionou salários e outros preços internos.

Virada

As medidas de reativação da economia já estão fazendo efeitos. O varejo se mantém firme, as condições de crédito melhoram e o crescimento do nível de atividade retoma paulatinamente. O ponto de virada aconteceu entre os meses de junho e julho de 2012 e, apesar dos soluços, a economia voltou a engrenar, como mostra a evolução recente do índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR). O gráfico apresenta a taxa de crescimento do IBC-BR em sua média móvel trimestral em relação ao mesmo período do ano anterior. Para convencer definitivamente o público, faltam apenas um gol de placa e uma vitória consagradora, que possivelmente somente serão alcançados com o resultado do PIB do 1º trimestre de 2013.



Fonte: Banco Central do Brasil



Publicado no Jornal da Cidade em 20/01/2013 

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