Ricardo
Lacerda
O debate econômico no Brasil
se mostrou muito estressado nas últimas semanas. A corda esticou muito e as já conhecidas
posições dos contendores se tornaram mais explicitamente antagônicas, uma
espécie de Fla X Flu, com direito até a xingar o técnico, no caso o ministro
Guido Mantega, a quem têm sido direcionadas manifestações pouco gentis, aqui e
alhures.
Excluindo o rame-rame de
sempre que, na maioria dos casos, é motivado por interesses menores, com o
intuito de ganhar espaço na mídia para desgastar quem ocupa os postos de
comando, o cerne do debate está no fato de que a equipe econômica vem adotando
uma série de medidas menos ortodoxas voltadas para ativar a economia e que têm
sido criticadas por alguns setores.
Reativar
Desde que, em meados de 2011,
frustrou-se o que parecia ser uma volta por cima da economia mundial, após a
crise de confiança de 2008 e 2009, a política econômica tem se mostrado mais
ativa, alguns diriam intervencionistas. Vem fazendo uso de um amplo espectro de
medidas fiscais, monetárias, creditícias e cambiais para ativar as variáveis da
demanda interna a fim de impulsionar o nível de atividade e assim recompor a
confiança dos agentes privados que foi abalada por sucessivos trimestres de
baixo desempenho econômico.
Como os resultados concretos
têm demorado e ficado abaixo do esperado, abrem-se espaços para a amplificação
das posições críticas.
Algumas das medidas de
ativação dos investimentos têm alcance mais estrutural, sejam porque impactam
os preços relativos, tornando algumas atividades mais atrativas do que outras,
sejam porque podem provocar, no médio prazo, forte deslocamento para cima nas
condições de oferta da produção, como a redução nas tarifas de energia elétrica
e a desoneração da folha de pagamento. Como em todas as mudanças há setores
vencedores e perdedores, os últimos usam sem culpa, às vezes abusam, do direito
de espernear.
Nova matriz
Aqueles que defendem as
medidas adotadas não apenas asseveram que a atividade econômica já se encontra
em plena retomada do crescimento, mesmo que abaixo do esperado, como o
Brasil teria transitado em direção a uma nova matriz econômica, que favorece a
produção, o crescimento e a ampliação do mercado interno.
Juros, câmbio, tributos e
salário, além da margem de lucro, são os principais preços da economia, que
remuneram setores específicos da sociedade, sempre atentos para defender seus interesses. As medidas dos últimos dois anos alteraram de forma profunda dois
desses preços, juros e câmbio, com efeitos poderosos sobre o conjunto do sistema
econômico.
Juros mais baixos reduzem o
custo de capital, podendo se constituir uma importante diminuição do custo dos
investimentos. Favorecem a produção e retiram os detentores de ativos financeiros
da posição confortável de se remunerarem a custa do tesouro nacional e das
famílias e empresas endividadas. A redução de juros, todavia, não se transmite
imediatamente em decisões de investimento. É necessário confiança em relação
futuro.
Câmbio menos valorizado
favorece a produção interna frente à produção importada, mas, naturalmente,
desagrada o comércio e os consumidores. Ao se mudar o patamar do câmbio de R$
1,70 para R$ 2,10 cálculos são refeitos em favor de insumos e bens de consumo produzidos
internamente. A reação não é imediata ou proporcional porque é necessário tempo
e adaptações para passar a produzir e distribuir os produtos domésticos, além
de, novamente, confiança na sustentabilidade do novo cenário.
As mudanças na política envolvem
riscos e existem limites na forma do governo operá-las. Esse é o ponto em que
se apoiam as críticas. E, algumas vezes, a equipe econômica força a mão, além
do recomendável.
Desvalorização do câmbio e
redução de juros expressivas implicam mudanças importantes nos preços relativos
e não há como não ter efeitos de grande monta em uma economia de mercado com
potencial produtivo como a brasileira. Têm
forte impacto positivo sobre a competitividade da produção interna, que se
deteriorou muito nos últimos anos à medida que o intenso ciclo de crescimento
econômico, acompanhado de valorização cambial, pressionou salários e outros
preços internos.
Virada
As medidas de reativação da
economia já estão fazendo efeitos. O varejo se mantém firme, as condições de
crédito melhoram e o crescimento do nível de atividade retoma paulatinamente. O ponto de
virada aconteceu entre os meses de junho e julho de 2012 e, apesar dos soluços,
a economia voltou a engrenar, como mostra a evolução recente do índice de
Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR). O gráfico apresenta a taxa de
crescimento do IBC-BR em sua média móvel trimestral em relação ao mesmo período
do ano anterior. Para convencer definitivamente o público, faltam apenas um gol
de placa e uma vitória consagradora, que possivelmente somente serão alcançados
com o resultado do PIB do 1º trimestre de 2013.
Fonte: Banco Central do
Brasil
Publicado no Jornal da Cidade em 20/01/2013
Muito bom este artigo!
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