Ricardo Lacerda
As
crises econômicas internacionais possuem, frequentemente, o poder de
desorganizar atividades produtivas que são mais dependentes do mercado externo.
Depois que o mercado externo começa a se normalizar, nem sempre a retomada das
exportações é imediata, por uma série de motivos relacionados às condições de
produção e de comercialização.
Como
as exportações sergipanas são fortemente concentradas em suco de laranja,
quando a crise financeira, no final de 2008, derrubou a cotação externa do
produto, o valor das exportações sergipanas despencou junto e demorou muito a
se recuperar.
Em
2012, finalmente, as exportações sergipanas confirmaram a recuperação iniciada
no ano anterior, deixando para trás o período mais difícil. O valor das
exportações em 2012 alcançou de US$ 149,1 milhões, superando o resultado de
2007, o pico anterior.
Impacto da crise
As
exportações sergipanas apresentaram uma expansão sustentada entre o ano de 2001
e 2007, quando atingiram o pico de US$ 144,8 milhões. O resultado de 2007 foi extraordinário,
com as exportações do estado superando pela primeira vez a marca de US$ 100
milhões (ver Gráfico 1).
Em
2008, já se ressentindo dos efeitos da crise de pânico que assolou a economia
mundial, após a quebra do centenário banco Lehman Brothers em 15 de setembro
daquele ano, as exportações sergipanas recuaram, ainda que tenha fechado com o
segundo maior resultado da série histórica, até então. Em 2009, com a economia
mundial desmoronando, o valor das exportações sergipanas retornava ao patamar
de 2005, menos da metade do resultado extraordinário de 2007.
A
queda abrupta do valor das exportações após 2007 se deve à forte retração nas
vendas dos dois principais produtos da pauta daquele ano: suco de laranja e
cimento. É curioso observar que a produção de cimento de Sergipe, que até então
buscava maior inserção no mercado externo, voltou-se inteiramente para o
mercado doméstico, por conta do crescimento intenso da construção civil no
Brasil. O empuxe dos programas habitacionais e a retomada dos investimentos em
infraestrutura ampliaram fortemente a demanda pelo produto, fatores que viriam,
inclusive, motivar os anúncios recentes de ampliação das duas maiores fábricas
e a instalação de uma planta de outro grupo industrial.
Recuperação
Somente
em 2011 as exportações sergipanas retomaram o crescimento de forma mais
intensa, atingindo o valor de US$ 137,5 milhões, o segundo melhor, até então,
da série histórica. Dois fatores concorreram para a forte retomada das
exportações de 2011, a melhoria nos preços internacionais do suco de laranja e
do açúcar, decorrentes de problemas climáticos no exterior, e a ampliação da
produção local de calçados, em grande parte voltada para o mercado externo.
Em 2012, as exportações confirmaram
a trajetória de recuperação iniciada no ano anterior e alcançam o pico já
referido.
Fonte: MDIC-SECEX.
O
perfil das exportações não tem como descolar da matriz produtiva. Sergipe terá
uma pauta de exportações mais diversificada à medida que o seu setor produtivo
se tornar mais complexo. Nos últimos anos, a pauta de exportações sergipanas
consolidou-se em torno de três produtos: suco de laranja concentrado congelado
(FCOJ), que respondeu por 56% do total de 2012, calçados, 14%, e açúcar, 10%. Tecidos,
equipamentos elétricos e produtos metálicos são itens importantes na pauta.
O
recorde de 2012 deveu-se, essencialmente, ao forte incremento das exportações
de suco de laranja, crescimento 31% em relação a 2011, e simplesmente de 312%
em relação a 2009. As exportações de suco de laranja congelado alcançaram US$
82,9 milhões em 2012, frente aos US$ 63,3 milhões de 2011 e US$ 20,1 milhões de
2009, o ano em que a crise se encontrava na fase mais aguda (ver Gráfico 2).
Para
finalizar, dois comentários. A observação da linha de tendência (pontilhada) do
Gráfico 1 permite perceber que, após o período mais crítico de turbulência entre
2009 e 2010, as exportações sergipanas retomaram sua trajetória de crescimento
em 2011 e 2012, aproximando-se da linha de tendência do período 2001-2012.
No
Gráfico 2, a comparação entre a evolução do valor e da quantidade exportada de
suco de laranja mostra uma defasagem temporal entre o aumento do primeiro e a
reação em termos da quantidade. Assim, em 2010 o valor das exportações do
produto já havia iniciado sua recuperação, enquanto a quantidade exportada continuou
declinando. Em 2011, as exportações reagiram fortemente ao impulso de preço e
em 2012, o quantum exportado de suco de laranja alcançou seu ponto de máximo da
série histórica.
Fonte: MDIC-SECEX.
Publicado no Jornal da Cidade em 13/01/2013
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