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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 17 de agosto de 2014

O Pensamento Econômico de Eduardo Campos



Ricardo Lacerda

Eduardo Campos era um pragmático em seu projeto de consolidação de uma democracia social no Brasil. Sentia-se herdeiro de Lula e, também, de seu avô, Miguel Arraes, no compromisso de resgatar os mais pobres da situação de carência generalizada e construir um país justo e bom para todos os brasileiros. Mas trazia consigo algumas crenças próprias, que foram sendo enraizadas em sua caminhada política e à medida que acumulava experiência administrativa.

Em seu exercício de gestor público e de parlamentar, não abria espaço para viés ideológico que o afastasse do compromisso com a melhoria do bem-estar da população mais necessitada da ação pública e de sua perspectiva de desenvolvimento de longo prazo para o Brasil e para o seu Pernambuco.

Apresentando-se como um candidato de terceira via, a chave para a compreensão do pensamento econômico de Eduardo Campos, penso, é dada a partir de três conjuntos de questões que se entrelaçam: a relação mercado x estado; a estratégia do enfrentamento das carências sociais e do atendimento das demandas por políticas públicas; e, como herdeiro de uma tradição política e intelectual enraizada na região, o espaço reservado no conjunto de suas preocupações para a Questão Nordeste, de forma específica, e para o enfrentamento das disparidades regionais no Brasil, de forma geral. 

Estado x Mercado

Talvez não seja correto atribuir à opção política que adotou o rótulo de terceira via, situado no meio do caminho entre os desenvolvimentistas e os mercadistas. Posicionava-se à esquerda da terceira via européia, representada por Tony Blair e outros, porque depositava  confiança em um papel do estado mais atuante, que ia além das funções de simples regulador e fiador das instituições a fim de garantir a operação adequada dos mercados. Para Campos não fazia sentido a assertiva liberal de que o desenvolvimento das forças produtiva é uma tarefa apenas do setor privado, enquanto ao estado caberia se concentrar na agenda social.

O compromisso inarredável de Eduardo Campos com os injustiçados era acompanhado pela compreensão e determinação inaudita em liderar uma agenda de desenvolvimento que conjugava atuação forte do estado, parceria com o setor privado e a busca do aprimoramento das possibilidades de planejamento de longo prazo e do uso eficiente de recursos públicos.

Acreditava em um estado atuante, não apenas nas políticas sociais, como também nas tarefas de desenvolvimento. Não defende, todavia, um ativismo de estado antagônico à operação de mercado, por uma razão de fundo pragmático: o Brasil é um país pobre, se não termos de recursos naturais, na disponibilidade de poupança econômica e é necessário alavancar os recursos privados no esforço de desenvolvimento econômico e social, tanto em razão de que os recursos públicos são insuficientes quanto porque a ação privada no nível micro, gerencial dos empreendimentos produtivos e na prestação de uma série de serviços públicos, permitiria obter resultados mais efetivos do que a gestão pública, maximizando os benefícios para o conjunto da sociedade.

Mais recentemente, depois de ter se lançado candidato à presidência da república, Eduardo Campos deu algumas entrevistas em que emitiu opiniões sobre a gestão da política macroeconômica, com ideias mais alinhadas ao receituário ortodoxo. Persiste dúvida sobre a convição dessas manifestações. Penso que, em parte, responde à estratégia de se diferenciar da política macroeconômica que não vem colhendo bons resultados e, em parte, se perfila à posição assinalada acima, de sua compreensão que é imprescindível conquistar a confiança do setor privado para alavancar os investimentos.

Gestão pública

Eduardo Campos tinha consciência da dificuldade da ação pública se colocar acima dos interesses patrimonialistas manifestados pelas forças políticas e grupos organizados que costumam levar à paralisia ou à perda na eficiência na utilização de recursos, sempre escassos para atender a demandas muito elásticas da sociedade.

À frente do governo de Pernambuco, adota como princípio para se defender, e administrar, das pressões diversas a busca da eficiência, do profissionalismo e da excelência da gestão, adaptando para a administração pública ferramentas desenvolvidas para a gestão do setor privado, tanto no atendimento das demandas mais imediatas da população nas áreas de saúde, educação e segurança, como no desenho de estratégias para o desenvolvimento econômico e social de longo prazo. No seu caso, foi uma aposta bem sucedida de que o apoio angariado com os resultados obtidos asseguraria a governabilidade política, sem descuidar, todavia, do varejo voltado ao atendimento usual de demandas políticas.

Convocou uma equipe de gestores jovens, muitos sem experiência política anterior, com o objetivo de introduzir novas ferramentas na gestão pública, ao tempo que angariou a simpatia e o apoio político de outro pernambucano, o presidente Lula, para atrair investimentos estruturantes que retiraram Pernambuco do declínio econômico e político no quadro geral da federação, que perdurava algumas décadas.

Nordeste

Embora menos conhecido é central na sua ação política o empenho de Eduardo Campos para alavancar o desenvolvimento do Nordeste. Ciente das carências generalizadas e da enorme defasagem da região, tanto na dimensão social quanto na infraestrutura e na base produtiva regional. Entende, seguindo uma tradição que remonta a Celso Furtado, que prover a região de perspectivas de desenvolvimento econômico e social é uma causa de toda a nação, em sua caminhada para se tornar um país melhor e mais justo.

Como nas outras questões, Campos é eclético e pragmático nas suas propostas para o desenvolvimento no Nordeste, conjugando a defesa de atração de grandes empreendimentos públicos e privados, com propostas voltadas para o fortalecimento de desenvolvimento de base local, e de intensos investimentos em educação e no sistema local de ciência e tecnologia. Como se entendesse que a região precisa de programas sociais, de políticas desenvolvimentistas em infraestrutura e na base produtiva de caráter keynesiano e de políticas portadoras de futuro, com forte componente de cidadania como educação, e investimentos em ciência e tecnologia.

O Brasil não é pródigo na formação de lideranças com a estatura política e sentido estratégico de Eduardo Campos. Fará uma enorme falta para Brasil e para o Nordeste


 Publicado no Jornal da Cidade, em 17/08/2014



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