Ricardo Lacerda
Eduardo
Campos era um pragmático em seu projeto de consolidação de uma democracia
social no Brasil. Sentia-se herdeiro de Lula e, também, de seu avô, Miguel
Arraes, no compromisso de resgatar os mais pobres da situação de carência
generalizada e construir um país justo e bom para todos os brasileiros. Mas
trazia consigo algumas crenças próprias, que foram sendo enraizadas em sua
caminhada política e à medida que acumulava experiência administrativa.
Em seu exercício
de gestor público e de parlamentar, não abria espaço para viés ideológico que o
afastasse do compromisso com a melhoria do bem-estar da população mais
necessitada da ação pública e de sua perspectiva de desenvolvimento de longo
prazo para o Brasil e para o seu Pernambuco.
Apresentando-se
como um candidato de terceira via, a chave para a compreensão do pensamento
econômico de Eduardo Campos, penso, é dada a partir de três conjuntos de
questões que se entrelaçam: a relação mercado x estado; a estratégia do
enfrentamento das carências sociais e do atendimento das demandas por políticas
públicas; e, como herdeiro de uma tradição política e intelectual enraizada na
região, o espaço reservado no conjunto de suas preocupações para a Questão
Nordeste, de forma específica, e para o enfrentamento das disparidades
regionais no Brasil, de forma geral.
Estado x Mercado
Talvez
não seja correto atribuir à opção política que adotou o rótulo de terceira via,
situado no meio do caminho entre os desenvolvimentistas e os mercadistas.
Posicionava-se à esquerda da terceira via européia, representada por Tony Blair
e outros, porque depositava confiança em
um papel do estado mais atuante, que ia além das funções de simples regulador e
fiador das instituições a fim de garantir a operação adequada dos mercados.
Para Campos não fazia sentido a assertiva liberal de que o desenvolvimento das
forças produtiva é uma tarefa apenas do setor privado, enquanto ao estado caberia
se concentrar na agenda social.
O
compromisso inarredável de Eduardo Campos com os injustiçados era acompanhado
pela compreensão e determinação inaudita em liderar uma agenda de
desenvolvimento que conjugava atuação forte do estado, parceria com o setor
privado e a busca do aprimoramento das possibilidades de planejamento de longo
prazo e do uso eficiente de recursos públicos.
Acreditava
em um estado atuante, não apenas nas políticas sociais, como também nas tarefas
de desenvolvimento. Não defende, todavia, um ativismo de estado antagônico à
operação de mercado, por uma razão de fundo pragmático: o Brasil é um país
pobre, se não termos de recursos naturais, na disponibilidade de poupança econômica
e é necessário alavancar os recursos privados no esforço de desenvolvimento
econômico e social, tanto em razão de que os recursos públicos são
insuficientes quanto porque a ação privada no nível micro, gerencial dos
empreendimentos produtivos e na prestação de uma série de serviços públicos, permitiria
obter resultados mais efetivos do que a gestão pública, maximizando os
benefícios para o conjunto da sociedade.
Mais
recentemente, depois de ter se lançado candidato à presidência da república,
Eduardo Campos deu algumas entrevistas em que emitiu opiniões sobre a gestão da
política macroeconômica, com ideias mais alinhadas ao receituário ortodoxo. Persiste
dúvida sobre a convição dessas manifestações. Penso que, em parte, responde à
estratégia de se diferenciar da política macroeconômica que não vem colhendo
bons resultados e, em parte, se perfila à posição assinalada acima, de sua compreensão
que é imprescindível conquistar a confiança do setor privado para alavancar os
investimentos.
Gestão pública
Eduardo Campos
tinha consciência da dificuldade da ação pública se colocar acima dos
interesses patrimonialistas manifestados pelas forças políticas e grupos
organizados que costumam levar à paralisia ou à perda na eficiência na
utilização de recursos, sempre escassos para atender a demandas muito elásticas
da sociedade.
À frente
do governo de Pernambuco, adota como princípio para se defender, e administrar,
das pressões diversas a busca da eficiência, do profissionalismo e da
excelência da gestão, adaptando para a administração pública ferramentas
desenvolvidas para a gestão do setor privado, tanto no atendimento das demandas
mais imediatas da população nas áreas de saúde, educação e segurança, como no
desenho de estratégias para o desenvolvimento econômico e social de longo
prazo. No seu caso, foi uma aposta bem sucedida de que o apoio angariado com os
resultados obtidos asseguraria a governabilidade política, sem descuidar,
todavia, do varejo voltado ao atendimento usual de demandas políticas.
Convocou
uma equipe de gestores jovens, muitos sem experiência política anterior, com o
objetivo de introduzir novas ferramentas na gestão pública, ao tempo que
angariou a simpatia e o apoio político de outro pernambucano, o presidente
Lula, para atrair investimentos estruturantes que retiraram Pernambuco do
declínio econômico e político no quadro geral da federação, que perdurava
algumas décadas.
Nordeste
Embora
menos conhecido é central na sua ação política o empenho de Eduardo Campos para
alavancar o desenvolvimento do Nordeste. Ciente das carências generalizadas e
da enorme defasagem da região, tanto na dimensão social quanto na
infraestrutura e na base produtiva regional. Entende, seguindo uma tradição que
remonta a Celso Furtado, que prover a região de perspectivas de desenvolvimento
econômico e social é uma causa de toda a nação, em sua caminhada para se tornar
um país melhor e mais justo.
Como nas
outras questões, Campos é eclético e pragmático nas suas propostas para o
desenvolvimento no Nordeste, conjugando a defesa de atração de grandes
empreendimentos públicos e privados, com propostas voltadas para o fortalecimento
de desenvolvimento de base local, e de intensos investimentos em educação e no
sistema local de ciência e tecnologia. Como se entendesse que a região precisa
de programas sociais, de políticas desenvolvimentistas em infraestrutura e na
base produtiva de caráter keynesiano e de políticas portadoras de futuro, com
forte componente de cidadania como educação, e investimentos em ciência e
tecnologia.
O Brasil
não é pródigo na formação de lideranças com a estatura política e sentido
estratégico de Eduardo Campos. Fará uma enorme falta para Brasil e para o
Nordeste
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