Ricardo Lacerda
A tão aguardada recuperação da economia dos
países centrais teima em se mostrar débil e instável em 2014, depois de um resultado
já pífio em 2013. Caso se confirme a projeção atual do FMI para 2014, o PIB das
economias avançadas se situará ao final do ano apenas 5,9% acima do resultado
de 2007, equivalentes à menos que modesta taxa média anual de 0,8%, em um
período de tempo que já se estende demasiadamente.
O fato é que, após o ensaio de retomada
no ano de 2010, na sequência do cataclisma financeiro de 2008-2009, desde 2011
o crescimento do PIB global piora ano a ano, tanto para as economias avançadas,
quanto para as economias emergentes. O resultado de 2012 foi inferior ao de
2011, e o de 2013, ao de 2012. Para 2014, a instituição projeta para a economia
mundial uma pequena aceleração em relação ao ano anterior, de 3,2% para 3,4%, mas
cabe sublinhar que o otimismo com a retomada foi refreado recentemente.
Revisão
de julho
A atualização de julho do relatório Perspectivas
da Economia Mundial reviu para baixo a projeção de crescimento econômico para
2014, em relação às estimativas da edição anterior do relatório, em abril deste
ano.
Ainda que a piora das expectativas tenha
abrangido tanto as economias avançadas quanto as economias ditas emergentes, a revisão
das perspectivas do primeiro grupo de países, principalmente a situação dos
Estados Unidos, explica a maior parcela da queda na projeção do crescimento do
produto global para 2014. Diante do resultado pior do que o esperado no 1º
trimestre do ano, quando recuou 2,1% em termos anualizados, o FMI reviu de 2,8%
para 1,7% a expectativa de crescimento da economia norte-americana em 2014. Para
o o conjunto das economias avançadas, a projeção para 2014 foi revista de 2,2%
para 1,8%, e para as economias emergentes, de 4,8% para 4,6%.
Pela atual projeção do FMI, as economias
avançadas deverão registrar uma aceleração em 2014, em comparação com 2013, de
1,3% para 1,8%, enquanto o conjunto, amplo e diversificado, dos países
emergentes e em desenvolvimento, deverá apresentar pequeno de recuo na taxa de
crescimento, de 4,7% para 4,6% (ver Gráfico). O nível de atividade da economia da zona do
euro permanece notavelmente débil. Apesar das melhorias reconhecidas pela
instituição em relação aos riscos das dívidas de governos, empresas e famílias,
ainda deverão demorar alguns anos para que elas se reduzam significativamente e
a região volte a apresentar taxas de crescimento razoavelmente robustas.
Fonte: FMI. Perspectivas para a Economia
Mundial. Julho de 2014.
OS
BRICS
Entre as principais economias
emergentes, apenas a Índia não teve a projeção de crescimento revista para
baixo no relatório de julho. Os demais integrantes do BRICS (Brasil, Rússia,
China e África do Sul) apresentaram pioras nas perspectivas desde abril. Fora do grupo, mas uma das principais
economias emergentes, o México também viu a projeção do seu crescimento revista
para baixo.
O relatório do FMI, mais uma vez,
esforça-se para transmitir otimismo. Indicadores antecedentes estariam
apontando para o fortalecimento da recuperação no segundo trimestre, como veio
a se confirmar com a divulgação do PIB dos EUA no segundo trimestre, que
cresceu 4% em termos anualizados. Como já eram antevistos, os indícios de
retomada devem ter sido considerados, pelo menos parcialmente, na revisão de
julho.
O relatório reconhece que, apesar da
melhoria relativa do nível de atividade no segundo trimestre, o ritmo de
crescimento nas economias avançadas ainda é pouco robusto, não tendo emergido
forte impulso de demanda, mesmo com a persistência de taxas de juros muito
baixas. Por essa razão, presume que a política monetária continuará
expansionista nos próximos trimestres. Nesse quesito específico, é necessário
distinguir a evolução recente da economia norte-americana, relativamente mais
favorável, com a ainda frágil recuperação da zona do euro.
Diante dos números mais robustos do que
os esperados para o nível de atividade e de geração de emprego no segundo
trimestre de 2014, o banco central norte-americano anunciou o prosseguimento da
retirada progressiva dos estímulos monetários, o que sinaliza que pode estar
próximo o início de um ciclo elevação dos juros básicos. De outra parte, nos
últimos meses, a escalada de conflitos bélicos no oriente médio e no leste e
europeu e a situação financeira da Argentina tensionam o ambiente econômico.
Publicada no Jornal da Cidade, em 03/08/2014
Publicada no Jornal da Cidade, em 03/08/2014
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