Ricardo
Lacerda e Thiago Souza
Como
vimos nos dois artigos anteriores, o encolhimento do saldo comercial brasileiro
em 2012 e 2013 se deveu em grande parte à inversão abrupta da trajetória das
exportações. A tese central é que as exportações brasileiras, depois de
apresentarem uma forte aceleração entre 2002 e 2008, ainda lograram manter
taxas de crescimento elevadas entre 2008 e 2011, mesmo que em ritmo menos
acentuado do que no período anterior.
A
continuidade do crescimento das exportações, após o início da crise
internacional, exigiu a reorientação das vendas externas para os mercados
emergentes, com destaque para os mercados os asiáticos. Tal reorientação
favoreceu o crescimento das exportações de produtos básicos e de menor
intensidade tecnológica. Assim, a crise propiciou que a mudança que já vinha
ocorrendo na pauta exportadora e nos mercados de destinos das exportações
brasileiras fosse acentuada.
Todavia,
quando a economia mundial entrou no segundo mergulho da grande recessão, a
partir de meados de 2011, os mercados emergentes sofreram, com alguma defasagem
temporal, impacto intenso. O Brasil já não contava com a válvula de escape exportar
para os emergentes. Entre 2011 e 2013, as exportações brasileiras recuaram. Como
efeito colateral da interrupção do crescimento das exportações, as mudanças no
perfil da pauta e do destino se tornaram foram menos acentuadas.
Destinos
A
mudança da pauta exportadora mostrou-se fortemente associada ao perfil dos parceiros
comerciais. À medida em que as vendas para China e para o conjunto do bloco
asiático ganharam participação, os produtos industrializados e, dentre eles, os
produtos de alta e média alta intensidades tecnológicas, reduziram seus pesos no
total, enquanto os produtos não industrializados e os industrializados de baixa
e média-baixa intensidade tecnológica aumentaram suas participações.
No
extremo oposto, as exportações para a economia americana, que já vinham
apresentando desempenho bem inferior à média dos destinos no período de intenso
crescimento das exportações brasileiras, entre 2002 e 2008, simplesmente
pararam de crescer após o início da crise financeira internacional, concorrendo
para reduzir o peso das exportações industrializadas e de intensidade
tecnológica mais favorável.
Industrializados
e não industrializados
É
importante destacar que a classificação segundo intensidade tecnológica
considera apenas os produtos industrializados, que representavam, em 2013,
62,4% do total exportado pelo país, cerca de três em cada cinco dólares
exportados. Em 2013, esse grupo respondia por 80,6%, ou cerca de quatro em cada
cinco dólares exportados.
O
Gráfico 1 mostra que a redução na participação das exportações não
industrializadas se acentua a partir de 2008, mas mostra também que ela deixou
de ser ampliada nos últimos dois anos.
Fonte: MDIC/SECEX,
vários anos.
Intensidade
tecnológica
A
mudança na pauta exportadora, associada à mudança no perfil de destino e à
reversão na trajetória do crescimento pós-2011, pode ser captada também no
perfil das exportações dos produtos industrializados segundo a intensidade
tecnológica. O movimento não foi linear, com exceção da participação dos
produtos de alta tecnologia que declinou durante todo o período 2002-2013.
Os
produtos da indústria de alta tecnologia, que representavam 9,8% das
exportações totais, em 2002, perderam mais de cinco pontos percentuais de
participação e, em 2013, representavam apenas 4,1%. As exportações de
média-alta tecnologia, com destaque para veículos automotivos, apresentaram bom
desempenho até 2008 e tiveram dificuldades nos anos seguintes (ver Tabela).
Por
sua vez, os produtos de média-baixa tecnologia ganharam participação até 2008,
têm um rebaixamento importante, em 2009 e 2010, e apresentaram tendência de
recuperação de participação nos anos seguintes, trajetória inversa a da
participação dos produtos de baixa tecnologia.
Notável
mesmo é o desempenho das exportações não industriais, que resistiram à ao
agravamento do cenário externo até 2011, recuando, todavia, nos dois anos
seguintes.
Tabela. Brasil. Exportações segundo o grau de
intensidade tecnológica. 2002-2013
|
|||||||
Intensidade tecnológica
|
2002
|
2008
|
2009
|
2010
|
2011
|
2012
|
2013
|
US$ bilhões
|
|||||||
Total das
exportações
|
60,4
|
197,9
|
153,0
|
201,9
|
256,0
|
242,6
|
242,2
|
Produtos
industriais
|
48,7
|
141,9
|
104,6
|
128,4
|
153,2
|
149,5
|
151,2
|
Alta tecnologia
|
5,9
|
11,5
|
9,0
|
9,3
|
9,7
|
10,2
|
9,8
|
Média-alta
tecnologia
|
12,9
|
40,1
|
27,2
|
36,3
|
42,6
|
40,5
|
39,9
|
Média-baixa
tecnologia
|
10,7
|
38,9
|
24,7
|
29,4
|
39,1
|
38,8
|
41,4
|
Baixa tecnologia
|
19,1
|
51,4
|
43,6
|
53,3
|
61,8
|
60,0
|
60,0
|
Produtos não
industriais
|
11,7
|
56,1
|
48,4
|
73,6
|
102,9
|
93,1
|
91,0
|
Participação (%)
|
|||||||
Total
exportações
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
100
|
Produtos
industriais
|
80,6
|
71,7
|
68,4
|
63,6
|
59,8
|
61,6
|
62,4
|
Alta tecnologia
|
9,8
|
5,8
|
5,9
|
4,6
|
3,8
|
4,2
|
4,1
|
Média-alta
tecnologia
|
21,4
|
20,3
|
17,8
|
18,0
|
16,6
|
16,7
|
16,5
|
Média-baixa
tecnologia
|
17,6
|
19,6
|
16,2
|
14,6
|
15,3
|
16,0
|
17,1
|
Baixa tecnologia
|
31,7
|
26,0
|
28,5
|
26,4
|
24,1
|
24,7
|
24,8
|
Produtos não
industriais
|
19,4
|
28,3
|
31,6
|
36,4
|
40,2
|
38,4
|
37,6
|
Fonte: MDIC/SECEX,
vários anos.
Na etapa mais recente (2011-2013), de dificuldades mais acentuadas
no comércio exterior brasileiro, o único grupo que aumentou as exportações foi
o de média-baixa tecnologia, enquanto as exportações de alta tecnologia, de
média-alta tecnologia e de baixa
tecnologia e de produtos não industriais apresentaram quedas muito expressivas.
Publicado no Jornal da Cidade, em 30/03/2014
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