Um aspecto significativo
da evolução do comércio exterior brasileiro nos últimos anos é que o perfil das
exportações, seja por categoria de uso dos produtos (bens de consumo, bens de
capital e insumos), seja por classe de fator agregado (produtos básicos,
semimanufaturados e manufaturados), modificou-se radicalmente, em uma magnitude
muito mais ampla do que o perfil das importações.
Tem sido
destacado nas análises sobre o comércio exterior brasileiro o processo de reprimarização de nossas exportações: entre
2002 e 2013 o valor das exportações de bens básicos se expandiu a ritmo muito
intenso, extraordinários 567%, enquanto o de produtos industrializados cresceu
uma taxa também bastante elevada, mas muito inferior àquela, 184%.
As exportações
de produtos manufaturados que representaram mais da metade (54,7%) de nossas
vendas externas em 2002, em 2013 respondiam por 39%. Nesse mesmo período, as
exportações de produtos básicos saltaram quase 20 pontos percentuais de
participação, de 28,1% para 46,7% do total.
Tal mudança de
perfil esteve associada, como se sabe, ao forte incremento da demanda mundial
por commodities minerais e agrícolas que se seguiu à expansão econômica chinesa.
Reprimarização
O que queremos
destacar no presente artigo é que parcela expressiva dessa reprimarização é
muito recente; procedeu-se após o início da crise financeira internacional,
quando as vendas para alguns dos nossos principais parceiros comerciais, que
costumeiramente adquiriam produtos industrializados, passaram a apresentar
desempenho muito inferior ao das vendas para parceiros mais focados na
aquisição de bens primários, indicando que a mudança da pauta exportadora está
fortemente associada aos mercados de destino.
O fato mais preocupante
é que a expansão das exportações de produtos manufaturados foi interrompida
após a deflagração da crise financeira de 2008, em um processo similar ao que
se verificou com a evolução da produção física da indústria brasileira.
Fator agregado
Entre 2002 e
2008, todos os grupos de fator agregado apresentaram desempenho muito favorável
nas vendas externas, ainda que as vendas de produtos básicos tenham apresentado
resultados muito superiores aos dos outros dois grupos: crescimento médio anual
de 27,6%, enquanto as vendas externas dos semimanufaturados se expandiram a
taxas anuais de 20,2% e as de manufaturados, ao ritmo anual médio de 18,8%.
No período, as
exportações brasileiras apresentaram incremento de US$ 137,6 bilhões, dos quais
a maior fatia ainda foi de produtos manufaturados, US$ 59,7 bilhões (43,4% do
incremento), seguida de perto pela contribuição dos produtos básicos, US$ 56,1
bilhões (40,8%) e os semimanufaturados
participaram com US$ 18,1 bilhões (13,2%). (Ver Tabela). A parcela
restante é oriunda das chamadas Operações Especiais.
Apesar do crescimento
mais acelerado das exportações de produtos básicos nesse período, refletindo o
início do processo de reprimarização de nossa pauta exportadora, até 2007 os
produtos manufaturados respondiam por mais da metade (52,3%) vendas externas
brasileiras.
Tabela. Variação Absoluta e Taxa de Crescimento das Exportações
Brasileiras segundo Fator Agregado
|
||||
FATOR AGREGADO
|
VARIAÇÃO ABSOLUTA.
EM US$ BILHÕES
|
|||
2002 - 08
|
2008 -11
|
2011 -13
|
||
BASICOS
|
56,1
|
49,4
|
-9,4
|
|
SEMIMANUFATURADOS
|
18,1
|
9,0
|
-5,5
|
|
MANUFATURADOS
|
59,7
|
0,2
|
0,9
|
|
TOTAL
|
137,6
|
58,1
|
-13,9
|
|
FATOR AGREGADO
|
PARTICIPAÇÃO NA VARIAÇÃO ABSOLUTA (%)
|
|||
BASICOS
|
40,8
|
85,0
|
67,6
|
|
SEMIMANUFATURADOS
|
13,2
|
15,5
|
39,6
|
|
MANUFATURADOS
|
43,4
|
0,3
|
- 6,5
|
|
FATOR AGREGADO
|
TAXA DE CRESCIMENTO (%)
|
|||
BASICOS
|
330,8
|
67,7
|
-7,7
|
|
SEMIMANUFATURADOS
|
202
|
33,1
|
-15,3
|
|
MANUFATURADOS
|
180,8
|
0,3
|
0,9
|
Fonte: MDIC-SECEX
O quadro se modifica
abruptamente nos anos seguintes. Na comparação entre 2008 e 2011, as
exportações de produtos básicos, apesar da forte desaceleração, apresentam
taxas de incremento médio anual de 18%, enquanto as exportações de
manufaturados ficam estagnadas, taxa média anual de 0,1%. As exportações de
semimanufaturados cresceram 10% ao ano.
A mudança da pauta
exportadora foi radical de tal forma que, entre 2008 e 2011, enquanto as
exportações de produtos primários responderam por US$ 49,1 bilhões do
incremento total de US$ 58,1 bilhões, os produtos manufaturados contribuíram
com apenas US$ 300 milhões.
Na etapa mais recente
da crise internacional, correspondente ao período 2011 -2013, as exportações de
bens básicos que haviam assegurado a quase totalidade do crescimento na etapa anterior
da crise, não resistiram e recuaram 7,7%. Foi uma queda generalizada em todos os blocos
econômicos, com a única exceção do bloco asiático que ainda ampliou as compras
de produtos básicos brasileiros em US$ 2,3 bilhões. Nos demais destinos principais,
a queda nas vendas externas de produtos primários foi muito expressiva,
incluindo para a União Européia e os EUA.
Publicado no Jornal da Cidade em 23/03/2014
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