Ricardo Lacerda e Thiago Souza
O
recuo do saldo da balança comercial brasileira de US$ 29,8 bilhões, em 2011,
para US$ 2,6 bilhões, em 2013, resultou de uma combinação de continuidade do aumento
das importações, mesmo em ritmo moderado, e de retração nas exportações. Entre 2011 e 2013, as exportações recuaram
5,4%, e as importações cresceram 5,9%.
Um
rápido exame do gráfico apresentado revela como o comércio exterior brasileiro desandou
de fato nos últimos dois anos, mas informa também que o início de algumas inconsistências
remete ao longínquo ano de 2006, quando as importações passaram a crescer em
ritmo mais intenso do que as exportações.
Crise e retomada
As
exportações e importações, que haviam desabado em 2009, apresentaram intensas
recuperações em 2010 e 2011, com a característica de que as importações
cresceram a taxas um pouco superiores. Ao final de 2011, as importações se
posicionavam 30,8% acima do pico anual em 2008, enquanto as exportações
cresceram em velocidade próxima, mas um pouco inferior, situando-se 29,4% acima
do valor de 2008.
Com
a recuperação em 2010 e 2011, o comércio exterior brasileiro retomou, em
cenário de menor dinamismo do comércio mundial, o padrão do período 2006 e
2008, anterior à crise, quando as importações já cresciam em ritmo superior ao
das exportações: entre 2009 e 2011 o valor das importações se expandiu à taxa
média anual de 33%, a mesma do período 2006-2008.
Depois
de 2011, com a recidiva da crise internacional, que findaria por atingir os
mercados emergentes, as importações brasileiras desaceleraram fortemente, mas o
desempenho das exportações foi muito pior (ver Gráfico).
Fonte: MDIC/SECEX,
vários anos.
Impacto na Cadeia
produtiva
Entre
2002 e 2008, as importações brasileiras apresentaram crescimento médio anual de
24,2%. Já nesse período surgiu um descompasso setorial entre os ritmos de
crescimento em que as compras externas de bens de consumo duráveis e de combustíveis
e lubrificantes apresentaram-se acima da média, mas nenhum agrupamento cresceu
abaixo ou acima de 30% do ritmo médio geral.
Depois
do início da crise, em 2008, ocorreu um forte descompasso setorial entre o
crescimento das importações. Ainda que a taxa de crescimento médio das
importações tenha desacelerado para 9,4% ao ano entre 2008 e 2011, as compras de
bens de consumo, tanto duráveis quanto não duráveis, mantiveram crescimento
muito elevado, 23,8% ao ano e 17,7% ao ano, respectivamente, enquanto as importações
voltadas para a produção ou investimento (insumos e bens de capital) apresentaram
desaceleração muito mais acentuada: em números, as importações de bens de
consumo duráveis cresceram a taxas 150% superiores à media geral e a de bens
não duráveis, 89% superiores, enquanto as importações de insumos cresceram 24%
abaixo da média geral (ver Tabela). Nesse período, utilizou-se, claramente, o
comércio exterior para subsidiar o consumo interno.
|
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
Fonte:
MDIC/SECEX, vários anos.
|
Sustentabilidade
A
expansão do comércio exterior em velocidade bem superior ao do PIB pode ser
vista como sintoma de maior integração da economia brasileira à economia
global. Há, todavia, dois aspectos particularmente perversos na forma como ela
se deu: o primeiro é que desde 2006 as importações vêm crescendo a taxas
superiores às exportações, reduzindo de forma acelerada o saldo comercial nos
anos mais recentes; o segundo é que o crescimento das importações não resultou
primordialmente da aceleração das compras com fim de promover a modernização do
parque produtivo, porquanto foi comandado pelas aquisições para atender ao
crescimento do mercado de consumo interno.
Não
se tratou, portanto, sequer de maior integração da indústria brasileira às
cadeias globais, o que se traduziria provavelmente em crescimento mais
acentuado de insumos e de bens de capital frente às compras de bens de consumo
e sim, simplesmente, de substituição da produção local pelos importados.
Tampouco
se tratou simplesmente de uma reprimarização da pauta de exportação
brasileira, ainda que isso tenha ocorrido de forma acentuada, como visto em artigo
anterior, posto que, desde 2006, a expansão das exportações de produtos
primários não tem sido suficiente para assegurar taxas de crescimento das
exportações totais equivalentes a das importações. Em resumo, parte
significativa da redução do saldo comercial consistiu simplesmente em subsidio
ao consumo de importados, com importantes efeitos depressivos sobre a evolução
da indústria depois de 2008. Com o agravante, de que a indústria já não contava com
o canal das exportações para ampliar suas vendas.
Publicado no Jornal da Cidade em 06/04/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário