Ricardo
Lacerda
Depois do ciclo
de investimentos em grandes plantas industriais que marcaram o crescimento
econômico dos anos setenta e oitenta, em que foram implantadas a Nitrofértil, o
projeto Taquari-Vassouras de produção de potássio e a Unidade de Processamento
de Gás Natural (UPGN), a indústria de Sergipe desacelerou o seu crescimento e
encerrou o período de instalação de grandes projetos estatais para exploração
de sua base de recursos minerais.
Seguiu-se uma
fase de baixo crescimento e de reduzida transformação da matriz industrial,
explicada, por um lado, pelo próprio encerramento do ciclo de investimentos de
empresas estatais no país e, por outro, pelos crescentes desequilíbrios
macroeconômicos que desorganizavam a economia brasileira.
O episódio de
maior tensão e angústia foi quando do anúncio, no governo Collor, do fechamento
da Petromisa (1991), com o risco de desmobilização do projeto Taquari-Vassouras,
depois revertido via transferência da exploração do potássio à Companhia Vale
do Rio Doce, antes de sua desestatização.
Baixa
Os
anos noventa também não foram favoráveis
à expansão da exploração de petróleo e gás natural em Sergipe. A década foi marcada
por um profundo vale nas cotações internacionais do barril de petróleo que desmotivou
a realização de investimentos no setor em Sergipe, sejam na perfuração de novos
poços, sejam na manutenção e exploração dos poços já existentes, enquanto o
interesse da Petrobras voltou-se para as bacias sedimentares em águas
profundas no litoral fluminense. Foi um período de grande desânimo em relação
às perspectivas de exploração de petróleo e gás em nosso estado.
A
indústria sergipana somente conheceria uma nova etapa de expansão industrial,
mesmo assim bem mais modesta e com características muito diversas do ciclo
anterior, na segunda metade dos anos noventa, quando o Programa Sergipano de
Desenvolvimento Industrial (PSDI), criado em 1991, começou a mostrar
efetividade na atração de empresas privadas de diferentes portes e em
segmentos diversos, no âmbito da chamada guerra fiscal entre os estados da
federação.
O
investimento mais expressivo dos anos noventa foi a construção da hidroelétrica
de Xingó, no rio São Francisco, iniciada em 1987 e que viria a ser inaugurada
ao final de 1994. Do ponto de vista da indústria de transformação, reinou quase
sozinha, como o principal investimento de grande porte, a implantação da
fábrica de cerveja da Ambev, no município de Estância.
Reestruturação
produtiva
Um
aspecto decisivo na trajetória da indústria sergipana dos anos noventa foi o
impacto da exposição à competição com os importados sobre sua estrutura
industrial, muito particularmente no setor têxtil, que foi potencializado pela intensa
valorização cambial após a implantação do Plano Real em 1994.
A
atividade têxtil no estado, que remonta à segunda metade do século XIX, sofreu
um impacto desestruturador. Algumas empresas ainda lograram promover uma
importante modernização, com a importação de equipamentos mais atualizados e
forte redução no número de empregados, mas no conjunto o setor encolheu, de tal
forma que o número de unidades fabris com mais de 500 empregos passou de oito,
em 1990, dentre as quais seis com mais de 1.000 empregados e duas entre 500 e
1.000 funcionários, para apenas uma com mais de 500 empregos, no ano de 2000.
As demais haviam fechado, ou feito um importante downsizing, passando a
empregar menos de 500 pessoas.
Para
o conjunto da indústria geral, que agrega a indústria de transformação e a indústria
extrativa mineral, levantamento com base na Relação Anual de Informações
Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego aponta que o número de
empresas grandes, com 500 ou mais empregados, caiu de onze, em 1990 para seis,
em 2000.
Guerra fiscal
Já
se inicia, por outro lado, o movimento de relocalização de indústrias
calçadistas e têxteis das regiões Sul e Sudeste para os estados nordestinos como
resposta à competição com importados e Sergipe recebe alguns desses
investimentos.
Ao
longo dos anos noventa, presenciou-se uma importante multiplicação de pequenos
empreendimentos industriais nos segmentos de alimentos, confecção, móveis,
gráficas, metalúrgicas e minerais não metálicos, movimento que tende a
acompanhar a expansão urbana. Observe-se que o número de unidades produtivas da
indústria geral de porte médio ou grande de 1990 é o mesmo de 2000, trinta e
oito. Os microempreendimentos industriais quase que dobraram e os
empreeendimentos de pequeno porte tiveram uma expansão de 52%. No conjunto, não
foi um desempenho digno de nota favorável.
Tabela: Número de
Estabelecimentos Formais da Indústria Geral de Sergipe. 1990 e 2000.
|
||||
PORTE DOS ESTABELECIMENTOS
|
1990
|
2000
|
||
Número
|
Participação (%)
|
Número
|
Participação (%)
|
|
Micro (Até 19 empregados)
|
541
|
81,0
|
1.039
|
85,7
|
Pequeno (20 a 99 empregados)
|
89
|
13,3
|
135
|
11,1
|
Médio (100 a 499 empregados)
|
27
|
4,0
|
32
|
2,6
|
Grande (500 ou + empregados)
|
11
|
1,6
|
6
|
0,5
|
Total
|
668
|
100
|
1.212
|
100
|
Fonte: MTE- RAIS
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