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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Marcelo Déda, um herói sergipano





Marcelo Déda, um herói sergipano


Ricardo Lacerda

Marcelo Déda é um herói sergipano. E dos grandes. Marcelo Déda dedicou sua vida à luta pela emancipação política, econômica e social da gente sergipana. Como ele costumava dizer, uma luta pela dignidade do povo sergipano e por uma vida mais justa e melhor para a nossa gente. Marcará a história de Sergipe não apenas pelo episódio trágico de ter morrido em pleno mandato de governador, acontecimento sem precedente em Sergipe, uma morte precoce aos 53 anos de idade, ou pela dignidade com que enfrentou a via crucis do agravamento da doença, dia após dia. Marcelo Déda marcará a vida sergipana e o tempo o consagrará como o maior governador da história de Sergipe.

Difícil caracterizar Marcelo Déda do ponto de vista pessoal. Em uma palavra, uma pessoa digna. A dignidade para ele estava acima de qualquer coisa. Dignidade no zelo da coisa pública, dignidade de estar ao lado e combater sempre pelas boas causas, das causas sempre defensáveis, jamais por interesses mesquinhos ou particularistas. Em duas palavras, uma pessoa digna e comprometida. Seu compromisso em lutar pela melhoria de vida das pessoas mais pobres, dos excluídos, não era da boca para fora. Era real, concreto, se manifestava no dia a dia de suas ações, na forma corajosa com quem enfrentava os ataques dos adversários e o assédio de quem não entendia que seu compromisso com o bem estar do povo era pra valer e que ele, Marcelo Déda, não titubearia em refutar todas as demandas que não fossem legítimas e defensáveis. Aos que apelavam por flexibilidade, ele respondia que tinha os seus limites bem definidos, e que esses limites eram circunscritos pela posição de jamais abrir mão de sua dignidade e do compromisso que estabeleceu historicamente com o povo sergipano.

Uma pessoa digna, comprometida e brilhante. O brilhantismo de Marcelo Déda era reconhecido em todo o país, até mesmo pelos seus adversários. Diferentemente do que alguns procuravam colocar a pecha, o brilhantismo de Marcelo Déda não se manifestava apenas nos discursos memoráveis que costumava proferir, no fato de ser um dos maiores oradores brasileiros de sua geração, na perspicácia e na agilidade intelectual com que enfrentava os debates públicos. Marcelo Déda era brilhante principalmente porque tinha uma compreensão mais aguda e mais abrangente das questões que lhe desafiavam, tanto na condução dos assuntos políticos quanto nas questões administrativas. Homem culto, detentor de inteligência invulgar, compreendia de forma arguta e profunda as consequências e as implicações das disputas e decisões que a ele se apresentavam.

Uma pessoa digna, comprometida, brilhante e destemida. Desde muito jovem, Marcelo Déda mostrou coragem e determinação em enfrentar as forças que subjugam desde sempre o povo sergipano. E com essas características liderou o primeiro governo realmente popular da história de Sergipe.

Quando se referia à mesmice que marcava a vida política de Sergipe, Marcelo Déda tinha clareza da dificuldade de romper o domínio histórico das forças oligárquicas sobre a máquina pública e as consequências disso em termos de apropriação e concentração da riqueza no nosso estado. Essas mesmas forças que tentaram durante toda a administração promover um cerco ao seu governo.

Em seu discurso de posse, Marcelo Déda assinala que, após décadas de dominação oligárquica, desde o rompimento da normalidade democrática pelo golpe militar de 1964 que afastou o governador Seixas Dórea, Sergipe não empossava um governo  de centro-esquerda e jamais o estado de Sergipe havia eleito um governador de um partido claramente de esquerda. E, de fato, até o início de 2007, Sergipe era um dos últimos estados do país em que os grupos políticos que deram sustentação ao regime militar mantinham-se à frente do governo estadual, de forma ininterrupta.
Cabia, portanto, dar outro rumo ao governo de Sergipe. Cabia fazer uma administração de fato democrática, voltada para os mais necessitados, para os quais as ações se limitavam em geral a práticas assistencialistas ou clientelistas.
A consciência de que os fundos públicos e o poder político tradicionalmente são manipulados para assegurar os privilégios da elite, do poder oligárquico como preferia chamar, o impele a ser enfático quando busca explicitar o sentido da mudança de que está imbuído em implantar. Em seu discurso de posse na Assembleia Legislativa do estado de Sergipe Marcelo Déda sublinhava que:
“Décadas de dominação oligárquica cristalizaram na vida pública sergipana, um conjunto de erros políticos, vícios administrativos e desvios éticos. A mesmice tornou-se a matéria-prima das ações de governo e a incompetência administrativa lançou fora oportunidades históricas que poderiam ter melhorado a vida do nosso povo e avançado a marcha de Sergipe rumo ao desenvolvimento ... Falsas prioridades, ditadas por interesses politiqueiros, quando não inconfessáveis, terminaram por lançar o interior do estado no mais completo abandono, diminuir a força da agricultura, limitar a política industrial e, na prática, ameaçar o futuro da economia do nosso estado.”
Assim, o controle oligárquico do Estado era entendido por ele não apenas como excludente social e politicamente, mas também como impeditivo do avanço econômico do Estado.
Marcelo Déda tinha uma compreensão ampla sobre o desenvolvimento. O compromisso com a nova forma de fazer política se explicitou nos dois grandes eixos de políticas do governo: a inclusão pelos direitos, através da oferta de políticas públicas de acesso universal e de qualidade; e a inclusão pela renda, através da atração de investimentos privados, e do papel emulador do estado, agora lastreado numa política séria de planejamento e de implantação de infraestrutura produtiva por todo o território estadual.
Desde o inicio de sua administração mostrou a determinação de dar às políticas públicas o caráter universal que elas devem ter. As questões sociais sempre precediam as demandas econômicas e particularistas, pois não deixava se aprisionar pelo mito do crescimento pelo crescimento.  
Na definição dos investimentos públicos e na indução dos investimentos privados se pautou pela preocupação explícita em promover um desenvolvimento mais equilibrado espacialmente, levando investimentos e empregos e políticas sociais às áreas mais pobres do estado.
Não menos importante foi a adoção de políticas voltadas aos temas da cidadania, como o respeito aos direitos humanos, o compromisso com a sustentabilidade dos recursos ambientais e com um governo participativo. Adotou, portanto, um sentido de inclusão que não se restringe às questões econômicas e sociais, posto que abrange também a dimensão cultural, relacionada à valorização da sergipanidade, a valorização da autoestima do povo, e uma dimensão política, de construção da cidadania.
Marcelo Déda será consagrado como o maior governador da história de Sergipe porque soube harmonizar a realização de investimentos voltados para assegurar o desenvolvimento econômico e gerar oportunidades de emprego e renda para a população sergipana, com a adoção de um conjunto muito amplo de políticas públicas,  em parceria com o governo federal, voltadas para promover a melhoria de vida da parcela da população mais sofrida e injustiçada.
Fui testemunha diária de que, acima de tudo, Marcelo Déda foi um governante de conduta ética irrepreensível, que nunca deixou de se guiar senão pelos mais legítimos interesses da cidadania sergipana e pelo compromisso com o presente e futuro da gente sergipana. Sergipe fica órfão de seu maior líder popular. Viva Marcelo Déda! Viva o Povo Sergipano!

Publicado no Jornal da Cidade, em 02 de dezembro de 2013


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