Ricardo Lacerda
O Brasil vai encerrar o ano de 2013 com
crescimento modesto e alguns desajustes na economia. O PIB brasileiro deverá crescer a uma taxa
próxima de 2,5%. No início de janeiro, a expectativa de mercado era de que a
expansão do PIB alcançasse 3,3%, deixando para trás o período de baixo
crescimento iniciado em 2011. Em 2012, o PIB cresceu 1%, no resultado revisto
recentemente e, em 2011, 2,7%.
É notória a dificuldade do país retomar
o ritmo de crescimento econômico. Na semana passada o ministro da fazenda Guido
Mantega apontou os dois fatores que para ele explicariam as dificuldade atuais,
apesar de todas medidas de estímulo adotadas,"a economia brasileira está
crescendo com duas pernas mancas: de um lado, o financiamento ao consumo, que
está escasso, e, de outro lado, a crise internacional, que nos rouba uma parte
da nossa possibilidade de crescimento".
O PIB
A trajetória recente do PIB reflete a
dificuldade de manter taxas de crescimento robustas em um cenário internacional
muito adverso. No Gráfico apresentado, a linha que mostra a evolução da taxa de
crescimento do PIB acumulado em quatro trimestres, em relação aos quatro
trimestres anteriores, desenha uma desaceleração com declive mais acentuado entre
o primeiro e o último trimestre de 2011 e uma progressiva atenuação da
desaceleração a partir do inicio de 2012. No último trimestre de 2012, tem
início uma recuperação muito suave, que permanece de forma consistente, nessa
série, até o terceiro trimestre de 2013 e deverá assim se manter nesse final de
ano, talvez com uma retomada ainda um pouco mais suave, se de fato fechar o
período com crescimento de 2,5%.
A linha que representa a taxa de
crescimento em relação ao mesmo trimestre do ano anterior capta o mau
desempenho do terceiro trimestre de 2013, que se refletiu na queda de 0,5% do
PIB em relação ao trimestre imediatamente anterior na série livre de efeitos
sazonais (não apresentada).
Fonte: IBGE.
Dinâmica setorial
Em termos setoriais, a falta de
competitividade do setor industrial é a questão central. Não há como retomar
taxas de crescimento mais significativas no PIB enquanto a atividade industrial
continuar se arrastando. Do ponto de vista das relações externas do país, não é
sustentável um crescimento apoiado apenas nos setores agropecuário e de
serviços.
Os problemas de competitividade são de duas
ordens: de produtividade, abrangendo os aspectos da oferta, como
estrangulamento da infraestrutura, defasagem tecnológica do parque industrial,
de fragilidade dos grupos empresariais e de regulação inadequada dos mercados, e
aspectos relacionados a preço, decorrentes do patamar câmbio e das mudanças
recentes no custo do trabalho.
Em termos dos componentes da demanda, o
quadro é de acúmulos de dificuldades: enquanto o consumo das famílias vem desacelerando, as exportações perderam fôlego e as importações de bens e serviços
explodiram.
Inversão
O ano de 2013 marca também uma inversão
importante na política econômica. No inicio do ano havia a expectativa de que a
economia brasileira retomasse um patamar mais elevado de crescimento,
impulsionada pela desvalorização do câmbio, pela redução dos juros e pelos
estímulos direcionados ao consumo e aos investimentos em setores específicos. Como
em episódios anteriores de nossa história econômica, ficou provada a
dificuldade de navegar contra maré, ou seja, manter taxas de crescimento
robustas em situações de cenários externos muito desfavoráveis. As medidas
adotadas não alcançaram os resultados na magnitude desejada e deixaram seqüelas
nas contas públicas e no comportamento dos preços e não se mostraram eficazes
para reverter a deterioração nas contas externas.
O governo fez uma aposta quando adotou
medidas heterodoxas para se contrapor ao agravamento do cenário externo em
meados de 2011 com medidas fiscais e monetárias expansivas e perdeu. O PIB não
retomou no ritmo esperado e os impactos positivos sobre finanças públicas que
acompanhariam uma recuperação mais vigorosa não aconteceram. Entendeu mais recentemente
que não tinha mais fôlego para dobrar a aposta, e recuou.
Em 2014, mesmo sendo ano eleitoral, vai
navegar com cautela, na expectativa que os trunfos acumulados nos anos
favoráveis, expressos no colchão de reservas externas e no nível de ocupação no
mercado de trabalho, produzam um ano aceitável, aguardando melhores ventos no
cenário externo e que o êxito no plano de concessão em infraestrutura viária
ajude a deslanchar os investimentos e eleve o grau de confiança no meio
empresarial.
Publicado no Jornal da Cidade em 15 de dezembro de 2013
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